Antonio Negri: “A direita não tem cérebro. Está destruindo a única coisa que ela devia salvar”

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O filósofo italiano Antonio Negri, em entrevista ao jornal Estadão na edição deste domingo (01), falou sobre a ignorância da direita brasileira em tentar destruir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e questionou a veracidade das acusações da carta de Antonio Palocci.

“A direita não tem cérebro. Está destruindo a única coisa que ela devia salvar”, afirmou Negri na entrevista. Para ele, “não há uma direita que seja capaz de interiorizar o passado desse país, isto é, essa democracia que se quer e não se quer, e que Lula a interpretou e a fez viver de um ponto de vista popular, com a adesão das grandes massas à democracia”.

Para Negri, o país não pode ser governado sem Lula e sem o legado que o ex-presidente deixou ao Brasil. “Eu penso que Lula seja o maior homem político da América Latina na segunda metade do século 20. Ninguém é comparável a Lula. Foi alguém que conseguiu construir nesse país continente uma força popular necessária aos governos”, acredita.

Durante a entrevista, Negri afirmou que Lula trouxe uma realidade popular ao Brasil e considera absurdo a perseguição ao ex-presidente e a tentativa de destruir sua figura no país. “Ele conseguiu pôr o Brasil na cena mundial, em ruptura com os americanos. Essas são coisas fundamentais que Lula fez e para as quais eu tiro o chapéu. Não creio que o capitalismo brasileiro tenha uma autonomia e uma capacidade inventiva para conseguir manter a herança de realidade popular que Lula trouxe ao Brasil. Destruir sua figura é um absurdo”.  

Perseguição

Sobre a perseguição jurídica e midiática na qual o ex-presidente é vítima diariamente, o filósofo, considerado uma das mais importantes vozes críticas da esquerda mundial, reforça que a Justiça deve valer para todos. “Se a Justiça bate em alguém é certíssimo, porém deve atingir a todos da mesma maneira. Eu não sei se a relação entre Justiça, jornais e TVs é igual para Lula e para os outros. Esse é um problema que devemos nos pôr se vivêssemos em uma democracia ideal”, defende.

Em relação à carta de Antonio Palocci, que está na cadeia há um ano, Negri acredita que as acusações foram feitas em busca de benefícios legais. “As pessoas são colocadas na cadeia, em particular em prisão preventiva, para que falem e cedam. Isso me parece que seja uma coisa que qualquer procurador ou juiz sabe que se faz assim. Se faz também na China. Somente nós duvidamos que as coisas sejam diferentes. Palocci é, segundo me contaram, alguém que podia ser como Sansão, que é preciso cortar-lhe os cabelos para que se torne prisioneiro dos filisteus”. E completou: “Na prisão não estão as condições melhores para se dizer a verdade. Eu lhe asseguro. Dou minha garantia: quatro anos e meio de cárcere preventivo”, finalizou o filósofo italiano.