O economista Luiz Gonzaga Belluzzo falou hoje sobre as consequências econômicas da Lava Jato em seminário do PT em São Paulo. Para Belluzzo, a falta de punição a criminosos e a criminalização das empresas resultam na destruição da capacidade que o estado brasileiro sempre teve de articular se próprio desenvolvimento.
“Neste momento estamos fazendo o contrário do que deveríamos fazer. Em vez de colocar na cadeia quem cometeu crimes, estamos destruindo as empresas brasileiras”.
Veja o que a China fez e o que nós fizemos? Estamos matando nossa economia. Nossas grandes empresas de engrenhados estão sendo banidas de todos os mercados que conquistamos. Por que? Porque estamos criminalizando as pessoas, e não fazendo o que tínhamos que fazer: colocar na cadeia quem cometeu o crime, preservando as empresas.
Essa, segundo Beluzzo, é uma das faces de outra injustiça, a instrumentalização do judiciário como órgão de perseguição política. “A maior imoralidade que pode haver numa democracia é o juiz julgar conforme suas convicções. Ele tem e julgar conforme a lei. É assim para proteger o indivíduo de arbitrariedades. Não só do Estado, mas também dos outros indivíduos”.
Para o economista, tanto a perseguição política quanto o ataque à economia nacional são fruto de um poder novo e que não aparece muito: o poder dos mercados financeiros
Desde os anos 90, assistimos a uma desconstrução dos mecanismos de regulação da economia brasileira. E é importante lembrar que hoje o Brasil não teria a indústria que tem e sequer teria um setor de bens de capital se não fosse a participação do Estado na economia.
Essa participação do Estado já foi atacada antes, nos anos 90 pelo neoliberalismo, que não é um sistema de desregulamentação, é um sistema de regulamentação e apropriação do Estado pelos atores privados.
Para que esses atores privados possam agir com total liberdade maximizando seus ganhos, é importante desconstituir o Estado como ator relevante na economia.
Por isso, a destruição das grandes empresas de engenharia e da Petrobras têm a ver com o projeto de acabar com a capacidade do estado regulamentar a própria economia.
A indústria Brasil da pesava 25% do PIB. Hoje pesa apenas 9. E sem indústria nenhum país vai pra frente.
“Hoje estamos caindo para a série D do campeonato mundial de desenvolvimento, resume Belluzzo. Ao mesmo tempo em que Trump prioriza os fornecedores americanos, nós destruímos nossa política de conteúdo nacional”.
Belluzzo terminou sua fala dizendo que “Nós temos que exigir o respeito aos princípios do estado de direito e também à preservação da capacidade do estado brasileiro de articular o desenvolvimento, coisa que não estamos fazendo”.
O físico Rogério Cerqueira Leite, em carta lida durante o seminário, fez uma avaliação parecida e resumiu com uma analogia: “estamos na mesma situação que o cowboy que, por vingança, mata o cavalo do rival e morre de sede e de fome por não ter como sair do deserto”.