Ex-zelador do tríplex chama políticos de “lixo”, e Moro nega perguntas da Defesa

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Afonso José Pinheiro, ex-zelador do edifício Solaris, depôs nesta sexta-feira (16) na Justiça Federal de Curitiba, no processo sobre apartamento no Guarujá (SP) que procuradores afirmam ser “propriedade oculta” do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O juiz Sérgio Moro, que preside o julgamento, impediu que a Defesa perguntasse ao depoente, que foi candidato à vereador em 2016 pelo Partido Progressista (PP), se ele mencionara o ex-presidente em seus discursos de campanha, ou se ele apoiara candidato a prefeito de algum partido de oposição ao Partido dos Trabalhadores na última eleição. Moro também proibiu perguntas da Defesa sobre falas públicas de Afonso sobre Lula.

Quando lhe foi permitido responder algo, Afonso disse que entrou na política após ter sido demitido do cargo na polêmica do tríplex. Ele teria sido o que “mais sofreu” por uma história com a qual não tinha qualquer relação. Moro, ao fim da audiência, lamentou a perda do emprego pelo zelador, que informou já estar empregado novamente.

Em outro momento, a testemunha ofendeu a Defesa do ex-presidente e os políticos em geral, chamando-os de “lixo”, e dizendo que a defesa desrespeitava o juiz Moro.

O ex-zelador afirmou que “todos no condomínio sabiam que Lula era dono”, muito embora não tenha apresentado qualquer prova dessa alegação. Ele disse também que tinha contatos pessoais com todos os moradores das quatro torres, para resolver problemas nos apartamentos. Mas, que no caso do Apartamento 164-A, esse contato não era com a família de Lula, mas com a OAS, que é a proprietária de fato e de direito do imóvel.

“Quando tinha problemas na unidade 164-A, eu entrava em contato com a engenheira Mariuza”, afirmou, referindo-se a funcionária da OAS que detinha as chaves do imóvel e que já testemunhou em juízo que nem Lula nem sua família jamais tiveram acesso à chave.

O ex-zelador admitiu que nunca viu nenhum documento que demonstrasse que a propriedade do imóvel seria do ex-presidente e de Dona Marisa. E que os corretores diziam como propaganda de venda de apartamentos no prédio que Lula era proprietário de uma unidade.

Afonso José Pinheiro disse ainda que Igor Pontes, da OAS, o repreendeu por dizer que o apartamento era do ex-presidente Lula, e não dizer que era da OAS.

Em um ponto de dissonância com todos os depoimentos já colhidos no processo, Afonso foi a única das mais de 23 testemunhas que disse que Lula fez duas visitas ao condomínio, e não apenas uma.
 

Fatos x boatos

Também foi ouvida nesta sexta como testemunha da Acusação Rosivane Soares Cândido, engenheira da construtora Talento que trabalhou na reforma do apartamento do Guarujá.

Rosivane confirmou ter presenciado a visita de Dona Marisa Letícia e do filho do ex-presidente uma única vez ao imóvel. Disse também que ouviu da OAS que Lula seria um “cliente em potencial” do imóvel, e que ouviu boatos de comerciantes e trabalhadores do local, como o ex-zelador, de que Lula seria o proprietário da unidade.

Já falando a respeito de fatos, a testemunha afirmou que jamais viu qualquer documento que comprovasse tais boatos, e que sua empresa foi contratada para fazer a reforma pela real proprietária do apartamento, a construtora OAS.