Julian Assange conta que governo americano espionou Petrobras e gabinete da Presidenta Dilma

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Os Estados Unidos espionaram por anos os negócios da Petrobras e o gabinete da presidente Dilma Rousseff. Para isso, contaram com ajuda de autoridades e políticos brasileiros, entre eles o então vice-presidente Michel Temer (PMDB).

A informação é de Julian Assange, hacker australiano fundador do site Wikileaks, que concedeu entrevista exclusiva ao jornalista Fernando Morais, autor do blog Nocaute. A íntegra da conversa está aqui.

Assange, que vive exilado na embaixada do Equador na Inglaterra, teve acesso a centenas de documentos sigilosos de agências do governo norte-americano, como a NSA (National Security Agency). É baseado neste material que ele faz as afirmações constantes na entrevista a Morais.

O australiano conta que a descoberta das jazidas de petróleo na camada pré-sal aumentaram a importância energética do Brasil, e fez com que grupos políticos e econômicos passassem a ter interesse em reduzir o controle da estatal petrolífera brasileira sobre as reservas do combustível no país, além de reduzir a influência do governo federal e do então partido no poder, o PT, sobre a companhia.

“(A descoberta do pré-sal) faz com que outros partidos queiram reduzir o poder da Petrobras, tirando os ganhos dela. Uma maneira de trocar favores com os Estados Unidos é facilitar à Chevron e à ExxonMobil (petrolíferas americanas) o acesso a partes desse petróleo. Nas mensagens vazadas por WikiLeaks aparece um desejo constante das petroleiras americanas de ter o mesmo acesso ao pré-sal que a Petrobras tem”, explica Assange.

O hacker revela que Michel Temer, pelo que pode ser lido em documentos da NSA, foi à Embaixada dos EUA no Brasil em janeiro de 2006, onde passou informações a respeito do governo brasileiro, além de falar sobre “suas visões políticas e as estratégias do seu partido (PMDB).”

“Ele foi à embaixada americana várias vezes pra falar. Isso mostra um grau um pouco preocupante de conforto dele com a embaixada americana. O que ele terá como retorno? Ele está claramente dando informações internas à embaixada dos EUA por alguma razão. Provavelmente para pedir algum favor aos Estados Unidos, talvez para receber informações deles em retorno”, afirma Assange.

Para ele, “com essas informações, o Departamento de Estado dos EUA pode fazer manobras em defesa dos interesses das grandes companhias americanas de petróleo. O que não necessariamente está alinhado com os interesses do Brasil.”

As informações a respeito do que disse Temer aos norte-americanos em 2006 mostram, segundo Assange, que o então vice-presidente estava “insatisfeito com a política anti-neoliberal do PT e desejava se alinhar com o PSDB.” “Se você ler o que publicamos em 2006, verá que a situação política atual está sendo construída há muito tempo. É interessante ver como o posicionamento das partes, suas visões de mundo e quem são seus aliados, não mudou tanto, como pode se ver.”

Leia no blog Nocaute a íntegra da entrevista.