Por que, afinal, Bolsonaro zerou imposto de Whey Protein?

Jet-ski, asa delta, dirigível e, agora, suplemento alimentar. Enquanto inflação dos alimentos está nas alturas, Bolsonaro prioriza redução de imposto de produtos não acessíveis à maioria da população brasileira.

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Uma coisa não se pode negar. Bolsonaro é um bom amigo – pelo menos até se cansar dos amigos e traí-los (que o digam Bebbiano e Weintraub). Na última semana, o presidente tomou mais uma medida para beneficiar um braço direito. Ele zerou imposto de importação sobre suplementos alimentares, como o Whey Protein, a creatina e outros itens de nutrição esportiva.

A medida beneficia Marcelo Bella, um grande amigo do presidente (por enquanto), patrocinador das motociatas Acelera Para Cristo e dono da empresa Black Skull Heavy Sports Nutrition, que já forneceu complementos alimentares e vários itens promocionais para o Exército. Marcelo é também presidente da Associação Brasileira de Empresas de Produtos Nutricionais (Abenutri), e, segundo reportagem do site especializado O Joio e o Trigo, que denuncia a atuação do lobby do setor no governo atual, teria participado ativamente no processo regulatório dos suplementos alimentares.

Os itens se juntam a coletes e jaquetas infláveis para motociclistas, vídeo games, consoles e acessórios, e até jet-ski e asa delta, que tiveram impostos reduzidos ou zerados por Bolsonaro. Esse último também para atender um pedido de Waldir Ferraz, amigo de longa data do presidente, praticante de vôo livre e e também dos organizadores dos passeios de moto.

No país em que 33 milhões de pessoas passam fome, outras 125 milhões estão em situação de insegurança alimentar, o presidente se preocupa em reduzir impostos sobre produtos que beneficiam pequena parte da população ou, no caso do jet-ski, meia dúzia de ricaços.

Enquanto isso, o povo pena com a inflação dos alimentos nas alturas e o pequeno empresário luta para conseguir manter seu negócio aberto. Em 12 meses, os preços de itens da cesta básica, como o leite longa vida e a batata, acumulam alta de 66%. Outros itens importantes, como café, óleo de soja, açúcar, pão e margarina seguem a mesma tendência, com aumentos que chegam a 58%.

A pandemia do coronavírus e a inabilidade do governo Bolsonaro em gerenciar a crise que se abateu sobre o Brasil deixaram a situação muito difícil para pequenas empresas. Em 2021, o governo encerrou o Pronampe, programa de auxílio aos pequenos e médios empresários afetados pela pandemia. O programa só continua em vigor graças à atuação do Congresso, que o tornou permanente mesmo com vetos de Bolsonaro.

Bolsonaro alivia imposto apenas para mais ricos

Qual é a prioridade em zerar imposto de importação de itens de luxo? Quem, no Brasil, realmente consegue ter acesso a esses bens? Qual é o custo disso para a União? Bolsonaro mostra, mais uma vez, que governa somente para uma parte (ínfima) da população e visando seus próprios interesses.

Entre passeios de moto e jet-ski, Bolsonaro não teve tempo de cumprir uma das principais promessas de campanha no campo econômico, que era a correção da tabela de dedução do Imposto de Renda para pessoa física, que tem os mesmos valores de referência desde 2016. 

Entre as diretrizes do Programa Juntos Pelo Brasil, da chapa Lula-Alckmin, está a reforma tributária que Guedes não conseguiu fazer. A proposta alivia o peso do imposto sobre os trabalhadores de baixa renda, reduzindo a desigualdade tributária.

“É preciso incluir o pobre no orçamento da União e o rico no imposto de renda. Na hora que fizermos isso, vamos começar a fazer uma distribuição de riqueza nesse país para transformá-lo em um Estado de bem-estar social”, disse o ex-presidente Lula em entrevista recente.