O hotel Grand Mercure de São Paulo foi palco, nesta sexta-feira (14/09), de um grande evento com importantes nomes da política nacional e internacional. Organizado pelo ex-ministro de Relações Exteriores do governo Lula, Celso Amorim, o seminário internacional “Ameaças à Democracia e a Ordem Multipolar” foi realizado pela Fundação Perseu Abramo.
Durante o evento, os especialistas debateram temas relativos à democracia em nível global, ao neoliberalismo e ao progressismo. Logo na abertura do seminário, Amorim leu uma carta de ex-presidentes africanos reconhecendo as injustiças cometidas contra Luiz Inácio Lula da Silva. “É chocante ver alguém que fez tanto pelo seu povo e pela cooperação entre países e continentes privado de sua liberdade”, escreveu John Kufuor, ex-presidente de Gana de 2001 a 2009.
A seguir foi a vez da presidenta nacional do PT, a senadora Gleisi Hoffmann, falar no seminário. Ela demonstrou preocupação com o andamento do processo democrático no país. “O fato de Lula não participar das eleições já desestabiliza o processo”, afirmou.
O presidente da Fundação Perseu Abramo, o economista Marcio Pochmann, avaliou que o processo eleitoral deste ano é extremamente importante para a retomada de um projeto soberano e progressista. “Essa ousadia foi derrotada pelo golpe, mas pode ser superada em até três semanas, quando o cidadão poderá, com o seu voto, resgatar o projeto de soberania nacional. O brasileiro poderá decidir os seus rumos, não só com a eleição, mas com um projeto de construção de um mundo diferente do que vivemos hoje”.
O ex-primeiro-ministro da França Dominique de Villepin demostrou preocupação com o futuro do Brasil. “Estamos muito preocupados com o que está acontecendo aqui. O Brasil é um país muito importante. A presidenta foi tirada do seu cargo injustamente e Lula preso por um julgamento totalmente injusto. Além disso, a determinação da ONU foi ignorada. Pode não ter sido um golpe clássico, mas foi um tipo de golpe com certeza”.
No Seminário, o ex-primeiro-ministro da Itália Massimo D’Alema contou aos presentes que ontem, ao visitar o presidente Lula na sede da Polícia Federal, em Curitiba, ficou impressionado com a sua força e lucidez. “Ele é o mesmo homem que encontrei diversas vezes, inclusive no Palácio do Planalto. Ele falou mais sobre a fome no mundo do que sobre o seu julgamento injusto. É a democracia que está em jogo no Brasil. Lula entende que pode fazer uma grande contribuição para o Brasil”.
O ex-secretário-geral da Anistia Internacional, ex-diretor-adjunto da Unesco e presidente do Imagine Africa Institute (Senegal), Pierre Sané, afirmou que seu país também reconhece a perseguição política que o presidente Lula vem sofrendo. Ele disse ainda ver em Lula um exemplo de liderança política. “Senegal tem duas coisas do Brasil: o Bolsa Família e também a maneira judicializada de interferir nas eleições. O que está acontecendo no Brasil agora nos preocupa muito, porque, se isso funciona aqui, agora, muitos países africanos poderão também querer manejar politicamente as eleições por meio da judicialização”, ressaltou.
“A política que está implantada no Brasil, hoje, destrói a democracia. A judicialização é a maneira do funcionamento da política neoliberal. Judicializar é impedir de dar voz ao conflito e levar ao voto”, declarou Marilena Chaui, filósofa e professora emérita da Universidade de São Paulo.
O deputado do Parlamento do Mercosul e ex-ministro das Relações Exteriores da Argentina, Jorge Taiana, enfatizou que os méritos dos governos progressistas – protagonizados por Lula – não foram só acabar com a pobreza, mas diminuir a desigualdade. “O que está em jogo não é somente a democracia, mas sim os governos capazes de mudar as relações de poder e gerar mais democracia econômica na região. Por isso, a prisão do presidente Lula é gravíssima”.