Evitar que a desinformação prejudique as eleições brasileiras de 2018 deveria ser um ideal de todos os candidatos e cidadãos. Mas a realidade não é bem assim. Nessa reta final das eleições 2018, é impressionante a quantidade e variedade de notícias falsas criadas para atacar a candidatura de Fernando Haddad à presidência da República.
Ao mesmo tempo em que revelam a falta de propostas de alguns candidatos, as fake news distorcem as informações que chegam aos eleitores e eleitoras, gerando graves prejuízos à democracia do país.
Nos últimos dias, as fake news que circularam na Internet para atacar Haddad e tentar evitar – sem sucesso – que ele vá para o segundo turno foram desde pesquisas de intenção de votos com dados falsos até “mamadeiras eróticas”, passando pela divulgação de comunicados sobre uma suposta alteração na data da eleição para presidente.
Jogando com a desinformação e o preconceito, circula nas redes sociais uma imagem que alega falsamente que, devido a supostos protestos e manifestações que poderiam ocorrer no dia 7 de outubro contra os petistas, os eleitores que votam no partido estariam convocados a irem votar no dia 8 de outubro. É mentira, é óbvio.
O panfleto, um verdadeiro atentado contra as eleições do país, foi produzido como se fosse de autoria da campanha petista e destila ironia e discriminação contra os eleitores mais humildes do partido, dizendo que haverá suco e pão com mortadela para quem for votar no dia 08, além de atestado com dispensa do trabalho por uma semana. Muito engraçadinho!
Pesquisas fajutas
Embora lidere as pesquisas eleitorais, Bolsonaro sabe que terá um segundo turno difícil contra qualquer adversário, e que pode, logicamente, ser derrotado. Quem tem a possibilidade de perder tem medo, correto? Preventivamente (e autoritariamente), o candidato do PSL vem afirmando que uma derrota sua seria a provável confirmação da existência de uma fraude eleitoral.
Paralelamente a esse movimento, os seguidores do candidato do PSL difundem seguidas pesquisas fajutas, que apontariam para uma eventual vitória esmagadora ainda no primeiro turno. Nesse sentido, tem bombado nas redes sociais um post com uma imagem falsa que mostra o resultado de uma suposta pesquisa Ibope. A mensagem alega que a mídia não divulgou o resultado desse Ibope “não manipulado” e, de acordo com essa falsa pesquisa, o candidato do PSL estaria com 63% das intenções de voto.
O texto da pesquisa e o print da tela do G1 são falsos. O G1 nunca publicou tal resultado de pesquisa. Conforme destacado pelo próprio G1, “o candidato Jair Bolsonaro não aparece com 63% dos votos em nenhuma sondagem” e o “G1 nunca publicou tal resultado de pesquisa”.
Para dar um ar de credibilidade a essas pesquisas inexistentes, os seguidores de Bolsonaro resolveram inventar uma outra sondagem de intenção de voto, supostamente produzida pela Universidade do Sul da Califórnia! Afinal, quando você quer dizer para uma parcela da população brasileira que alguma coisa é muito séria e qualificada, é só falar que é made in USA, correto?
Na suposta pesquisa que circula pelas redes sociais, o segundo turno das eleições presidenciais do Brasil não aconteceria também. Bolsonaro teria 61% das intenções de voto. Já Ciro Gomes (PDT) teria 12% e Fernando Haddad (PT), 7%. A imagem e a pesquisa são falsas. Fake news made in Brazil com informações falsas vindas dos EUA.
Notou que as pesquisas falsas sempre colocam o candidato do PSL com cerca de 60% de intenções de voto? Pois é, são feitas sob medida para dizer que ele ganha no primeiro turno. O problema é que Bolsonaro está com cerca de metade desse percentual somente.
Jogo pesado
Uma vez que não é suficiente criar pesquisas fantasiosas e falsear números, tampouco brincar com o sagrado direito das pessoas votarem e serem corretamente informadas a respeito, as máquinas de fake news vão mais baixo, ao fundo do poço mesmo, para ganhar votos. Para tanto, não importam os escrúpulos, não importam as regras sociais, não importa qualquer questão que envolva caráter, ética, respeito ao próximo.
E, já que vale tudo, os responsáveis pelas fake news costumeiramente mexem com questões envolvendo crianças, sexualidade, famílias. Não há limite. Denuncie boatos, mentiras e fake news para o nosso WhatsApp: (11) 974 028 726.
De preferência, as receitas das fake news buscam misturar alhos com bugalhos e uma das estratégias mais usuais é provocar os valores mais básicos dos pais e das mães.
Dessa maneira, uma notícia falsa que bombou foi a que trouxe uma suposta proposta de Haddad em que o Estado definiria o sexo das crianças a partir de 5 anos, uma fake news das mais sórdidas e vis possíveis, e que segue circulando, mesmo após decisão da Justiça.
Segundo a publicação, o petista teria dito o seguinte: “Ao completar 5 anos de idade, a criança passa a ser propriedade do Estado! Cabe a nós decidir se menino será menina e vice-versa! Aos pais cabe acatar nossa decisão respeitosamente! Sabemos o que é melhor para as crianças!”. Essa frase nunca foi dita por Haddad.
Por ser tão nefasta e absurda, a notícia falsa chegou a provocar uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que ordenou a retirada imediata dos posts que atribuíam a falsa declaração ao candidato à presidência pelo PT. Alguns dos posts, contudo, não foram retirados das redes sociais, até porque quem produz ou divulga um conteúdo desse gênero não parece estar muito preocupado com o que é direito e correto a se fazer.
Mamadeiras eróticas
O jogo baixo das fake news, como se vê, não poupa as crianças e, costumeiramente, busca misturar a temática infantil com as questões da sexualidade. Nas últimas semanas, foi divulgado um vídeo com a falsa informação de que mamadeiras com bico de borracha em formato de pênis teriam sido distribuídas em creches pelo PT para combater a homofobia! É isso mesmo que você acaba de ler: uma mamadeira erótica teria sido distribuída para crianças na faixa de cinco anos!
No vídeo, o objeto é mostrado pelo responsável pela gravação, que diz que a mamadeira é “distribuída em creche, para seu filho, com a desculpa de combater a homofobia”. O vídeo não diz em que cidade ou unidade de ensino teria acontecido a suposta distribuição e afirma que se trata de “parte do kit gay, uma invenção de Haddad”, quando foi ministro da Educação.
A publicação original do vídeo no Facebook atingiu mais de 3 milhões de visualizações e quase 100 mil compartilhamentos em poucos dias, na última semana de novembro. E, pelo alcance que teve, exigiu posicionamento até do Ministério da Educação (MEC) e da Secretaria Nacional de Comunicação do PT. É lógico que o PT jamais distribuiu qualquer material erótico, muito menos para crianças.
De acordo com a agência de checagem de notícias “Aos Fatos”, o PT disse desconhecer o vídeo do Facebook e afirmou que o partido e a campanha de Haddad não possuíam qualquer ligação com o objeto. Já o MEC observou que cada município é autônomo e que a gestão de educação básica é dos entes federados, confirmando que não existiu distribuição de material daquele tipo por parte do governo federal.
É impressionante, não? Ficam no ar as perguntas: até onde as pessoas que produzem notícias falsas acreditam que podem ir com esse tipo de iniciativa? Onde irá parar nossa democracia diante desses ataques?