A Agência Pública contabilizou relatos de agressões e ameaças motivadas por questões políticas em todos o país. A grande maioria dos mais de 50 ataques foram atribuídos a apoiadores do candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL).
Uma jornalista esfaqueada e ameaçada de estupro. Um carro jogado em cima de um jovem com camiseta do Lula que conversava em frente ao bar com os amigos. Uma jovem presa e agredida, jogada nua em uma cela da delegacia. Outro jovem recebe um adesivo colado à força nas suas costas, com um tapa, e depois recebe uma rasteira para cair no chão. Todos esses ataques violentos aconteceram desde o dia 30 de setembro, em meio ao acirramento da violência eleitoral.
Isso mostra que as declarações de Bolsonaro que incitam a violência contra mulheres, LGBTs, negros e índios e a violência policial estão ecoando país afora e se transformaram em agressões físicas e verbais nestas eleições.
O levantamento inédito mostra como as situações de violência se espalham pelo país inteiro e não podem mais ser vistas isoladamente. O site “vítimas da intolerância” recebe e reúne denúncias de todo o Brasil.
Indagado sobre as ações de seus apoiadores, Bolsonaro tentou minimizar a onda de violência política. “Eu lamento. Peço ao pessoal que não pratique isso, mas eu não tenho controle sobre milhões e milhões de pessoas que me apoiam”, disse Bolsonaro ao UOL. Bolsonaro taxou o assassinato do capoeirista Moa do Katendê, esfaqueado em um bar em Salvador, por um dos seus apoiadores de “excesso” e disse lamentar os episódios de violência. “Quem levou a facada fui eu, pô. O cara lá que tem uma camisa minha e comete um excesso, o que é que eu tenho a ver com isso?”, indagou. Moa do Katendê era compositor e um dos fundadores do grupo de afoxé Badauê. Gilberto Gil e Caetano Veloso lamentaram seu brutal assassinato.
Dentre os diversos casos de agressão, um jornalista foi atropelado em Curitiba. “Foi muito rápido, senti a roda como se estivesse me puxando, simplesmente caí no chão”, relata o jornalista e produtor audiovisual Guilherme Daldin, 26 anos, atropelado no dia 7 de outubro, dia da votação em primeiro turno, às 21 horas. Ele comemorava a vitória de um amigo do PDT para a Assembleia Legislativa do Paraná. Pelas circunstâncias, a vítima vê só um motivo: vestia camiseta vermelha, com uma imagem do ex-presidente Lula.
A violência ocorreu em frente ao Bar do Torto, na região central e boêmia de Curitiba, capital do Paraná, na qual é comum conversar na calçada. O jovem estava com os colegas no bicicletário. De costas para a rua, Daldin disse que repentinamente sentiu o carro, um Sandero branco, bater no lado esquerdo de sua cintura e passar por cima do pé.
Quem também sofreu agressões verbais foi a irmã da vereadora Marielle Franco (PSOL), brutalmente executada no dia 14 de março —ainda não se sabe por quem. Um dia depois das eleições, Anielle Franco andava perto de um shopping carioca com sua filha Mariah, de dois anos, no colo. Não usava nenhum tipo de broche, camiseta ou bandeira. Uma com a roupa da creche, a outra com a roupa do trabalho. Isso não impediu, conta Anielle, que fosse reconhecida por homens vestindo a camiseta de Bolsonaro, que se aproximaram e começaram a chamá-la de “piranha” e a gritar que ela era “da esquerda de merda” ou “sai daí feminista”.
“Hoje eu tive medo! Medo mesmo. Não deveria, mas tive. Foi assustador. Ainda mais com minha filha no colo”, relatou Anielle em seu perfil no Facebook. “Não estou escrevendo para que ninguém tenha pena. Mas para que repensem sua maneira de fazer política. Por conta de um antipetismo vocês preferem propagar o ódio e a violência?! O seu candidato, em suma, defende esse tipo de postura, e outras coisa bem piores!”
A servidora pública Paula Pinheiro Ramos Pessoa Guerra, 37, foi espancada na noite deste domingo (7), num bar no bairro do Arruda, Zona Norte do Recife, após criticar ideias do candidato Jair Bolsonaro (PSL).
Uma servidora pública é espancada em Pernambuco após criticar Bolsonaro. Ela foi agredida por uma mulher que estava numa mesa de apoiadores do capitão reformado do Exército. Enquanto era esmurrada, outros três homens imobilizaram os garçons do local e uma pessoa que a acompanhava.
O medo tornou-se um sentimento comum entre muitos cidadãos pertencentes à comunidade negra, LGBTI+ e outras minorias atacadas por Bolsonaro em inúmeras ocasiões —agora, na reta final da campanha, ele negou as ofensas, que estão registradas em vídeos.