Vida de Lula

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Trabalhadores da Scania, uma montadora sueca com fábrica em São Bernardo do Campo, batem o ponto e cruzam os braços, insatisfeitos com o reajuste salarial verificado no holerite do dia 10. São quase 3 mil metalúrgicos em greve, numa paralisação organizada dentro da fábrica. Outras fábricas do setor automotivo aderem. Lula assume as negociações na Scania e consegue fechar um acordo bastante positivo, com 15% de aumento real. O exemplo se alastra pela região do ABC e, em seguida, por outras cidades paulistas. Mais de 150 mil metalúrgicos interromperam a produção sem deixar de comparecer ao local de trabalho. No mesmo dia 12 de maio, Lula é informado da morte de seu pai. Sozinho, Aristides fora enterrado em Santos, como indigente. Havia sido abandonado por Mocinha e por todos os seus 24 filhos conhecidos. 

 “O arrocho salarial fez com que a classe trabalhadora, após muitos anos de repressão, fizesse o que qualquer classe trabalhadora do mundo faria: negar a sua força de trabalho às empresas”

Lula cogita pela primeira vez fundar um partido. Isso acontece após uma viagem a Brasília, na qual Lula e outros sindicalistas buscam convencer os deputados a rejeitar um decreto-lei que proibia a realização de greves por categoriais consideradas essenciais. Na ocasião, o grupo não encontrou respaldo em nenhuma bancada. Entre os 482 deputados federais, havia apenas dois de origem operária: Benedito Marcílio, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, e Aurélio Peres, de São Paulo, ligado ao PCdoB. Eram necessários 241 votos para garantir o direito de greve. Faltavam 239. Lula chegou a ser esnobado: “Não preciso dos votos de vocês; não sou da sua terra e não fui eleito por operários”, disse um deputado. Esse episódio o fez perceber a urgência de eleger políticos comprometidos com a causa dos trabalhadores.