Em entrevista nesta quarta-feira, 19, à mídia independente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a recuperação da capacidade industrial do Brasil e afirmou que um Estado forte não significa Estado autoritário, mas capaz de induzir o desenvolvimento, e com força para cobrar imposto de quem ganha mais a fim de criar políticas públicas na área social e induzir o desenvolvimento. “É para isso que serve o Estado”.
“O Brasil precisa pensar em recuperar a sua capacidade industrial”, disse Lula, lembrando que a indústria já representou no Brasil 30% do PIB e hoje representa de 10% a 11%, ou seja, desapareceu. “A gente tinha empresário nacionalista, com visão de soberania da indústria nacional. Eram empresários que pensavam o Brasil. Isso acabou”, disse.
De acordo com ele, o ponto de partida é definir que nicho de indústria o Brasil vai apostar para que volte a ser industrializado. Lula defendeu os investimentos em tecnologia e o envolvimento da sociedade na discussão sobre a nova política industrial. “O único desafio que cabe a mim nesse instante é envolver as universidades, os empresários e o Estado para discutir o que fazer”, afirmou, destacando que o PT está tratando o assunto pela Fundação Perseu Abramo.
O ex-presidente defendeu investimentos em inovação e tecnologia e destacou a importância do BNDES no processo de recuperação da capacidade industrial. Disse ainda que a Petrobras precisa ser tratada não apenas como empresa, mas também como indutora do desenvolvimento. “O Brasil precisa desse suporte das instituições públicas. Se não fossem elas, não teríamos sobrevivido à crise de 2008”, declarou.
Novo mundo
Lula disse que Brasil precisa discutir internamente como se pode criar um novo mundo. “Eu acho que nós temos que construir um outro mundo. Precisamos rediscutir uma nova governança mundial. É preciso que a gente tenha uma nova governança, uma ONU renovada e na questão ambiental tem que ter uma decisão coletiva”.
O ex-presidente afirmou também que é preciso discutir que tipo de indústria o país vai querer desenvolver: “Como a gente vai cuidar do meio ambiente, das nossas riquezas minerais, da nossa água, das nossas florestas. Isso tem que ser uma discussão que envolva além das nossas fronteiras, que envolva o mundo para que cada um cumpra com a sua função”, afirmou.
Ele disse que, por enquanto, o que vê são os países ricos dizerem que os países pobres precisam fazer um fundo. “O pobre quer se desenvolver. Ninguém quer que a Amazônia seja transformada num santuário da humanidade. As pessoas que moram na Amazônia querem ter acesso a bens materiais, querem produzir”.
Lula disse que é possível usar a riqueza da biodiversidade da Amazônia para desenvolver a Amazônia. “Então, nós temos que investir em pesquisa, nós temos que fazer parceria, como fizemos no meu governo com aquele fundo com a Alemanha e a Noruega. É possível fazer. É possível a gente utilizar a riqueza daquele ecossistema pra gente gerar dinheiro para desenvolver o Brasil. Agora, é preciso ter um governo que queira fazer isso. E é preciso envolver a sociedade”, afirmou.