Em entrevista ao Jornal do Commercio, de Pernambuco, publicada nesta quarta, 20, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva apontou como prioridades de um eventual novo governo a garantia de ao menos três refeições ao dia para todos os brasileiros e a geração de emprego para que os trabalhadores voltem a ter direitos e possam comprar comida, pagar as contas e se divertir.
“O Brasil hoje está pior do que eu peguei em 2003. Mas eu estou melhor que em 2003. Mais experiente, com mais vontade, sabendo o que tem que ser feito e vou montar a melhor equipe de governo que esse país já viu para montar o melhor governo que esse País já teve. Garantir três refeições ao dia, emprego para o povo, que os trabalhadores voltem a ter direitos e as pessoas possam pagar suas contas, fazer seu mercado, até o fim do mês e ainda, se quiserem, um churrasquinho no fim de semana”, afirmou.
De acordo com ele, um governo Lula-Alckmin será amplo, de diálogo e muito trabalho para consertar o desastre e a destruição dos últimos anos, com o vice tendo um papel importante, contribuindo com a experiência que teve como governador de São Paulo por 14 anos.
Confira a íntegra abaixo:
Jornal do Commercio – Em Pernambuco o senhor já chegou a fazer menções a um palanque duplo, com Marília Arraes (SD) e Danilo Cabral (PSB). O senhor tem votos entre aqueles que apoiam Marília e entre os que apoiam Danilo. Para ficar claro, o seu conselho, seu pedido, é para que esses eleitores, hoje com Marília, votem no candidato do PSB?
Lula: O PT tem uma aliança nacional com o PSB e uma aliança com o PSB em Pernambuco. Meu candidato em Pernambuco é Danilo Cabral e estou indo para agendas com ele em Serra Talhada, Garanhuns e Recife.
JC – O Brasil está em uma situação econômica difícil, mas o panorama é ainda mais crítico em países como o Chile e a Argentina, cujos governos o senhor apoia. O que foi feito lá e que não pode ser repetido aqui, caso o senhor vença a eleição?
Lula – Os problemas do Brasil não têm nada a ver com Chile ou Argentina. Os graves problemas do nosso País têm a ver com o atual desgoverno. Se eles se preocupassem com o povo brasileiro, conversassem com empresários e trabalhadores, tivessem uma boa imagem internacional, o País estaria muito melhor.
O Brasil hoje está pior do que eu peguei em 2003. Mas eu estou melhor que em 2003. Mais experiente, com mais vontade, sabendo o que tem que ser feito e vou montar a melhor equipe de governo que esse país já viu para montar o melhor governo que esse País já teve.
Garantir três refeições ao dia, emprego para o povo, que os trabalhadores voltem a ter direitos e as pessoas possam pagar suas contas, fazer seu mercado, até o fim do mês e ainda, se quiserem, um churrasquinho no fim de semana.
JC – A oposição, incluindo o PT, votou a favor da PEC Kamikaze, principal aposta de Bolsonaro para recuperar popularidade e voltar ao páreo na corrida eleitoral. Como conter esse crescimento que pode ser provocado pelos benefícios sociais resultantes dessa proposta? O senhor teria votado a favor se fosse parlamentar?
Lula – Há dois anos, o Bolsonaro propôs R$ 200 de auxílio, o PT propôs R$ 600 de auxílio emergencial. O Congresso colocou em R$ 500, Bolsonaro baixou para R$ 400, agora propõe R$ 600 de novo. Votamos a favor dos R$ 600 e votaríamos de novo porque é um ato de humanidade, o povo precisa disso diante dos preços que disparam no supermercado. Se o Bolsonaro pensa que vai ganhar o voto do povo dando isso por três meses, terá uma grande lição. O povo vai pegar o dinheiro e não vai votar nele.
JC – Qual o papel de Alckmin na sua campanha? Há quem aponte papel importante de interlocutor com o mercado e com setores de centro e centro-direita. Se resume a isso? Como apresentá-lo como seu vice, principalmente no Nordeste, onde o ex-tucano apresentou dificuldades nas últimas eleições?
Lula – O Alckmin não é vice só para participar da campanha, não. Ele será participante integral do governo, ajudando-nos a governar com a experiência que ele tem. Se eleitos, faremos um governo amplo, de diálogo e muito trabalho porque precisaremos de todos para consertar o desastre e destruição desses últimos anos. O Alckmin vai participar de todas as reuniões, irá nos representar onde for necessário. E tenho certeza que a experiência de quem governou São Paulo por 14 anos irá ajudar muito o Brasil.
JC – Recentemente, percebe-se uma escalada na violência política no País. A morte de Marcelo Arruda foi o ápice. O senhor considera que de alguma forma seu discurso ou o do PT pode ser parte dessa conflagração. Há solução?
Lula – O PT existe desde 1980. Disputa eleições desde 1982, presidenciais desde 1989. E nunca tivemos essa briga e violência que tem agora. Porque política para nós é uma oportunidade de conscientização, não promover barbárie, como esse governo golpista. Nós sabemos e faremos campanha com paz e muito amor.
JC – A LDO de 2023 foi aprovada sem obrigatoriedade do pagamento de emendas do ‘orçamento secreto’. Há chances desse mecanismo voltar num eventual Governo Lula? O senhor vai tentar de alguma forma combater o orçamento secreto?
Lula – Vou fazer todos os esforços para que a gente não tenha orçamento secreto em 2023. Vamos ter é orçamento transparente. E participativo, com sugestões de toda a sociedade brasileira, a partir de 2023.
JC – Em nome da governabilidade e aprovação de mudanças que o PT considera importantes para a população, o senhor aceitaria o apoio do chamado ‘centrão’, que hoje está com Bolsonaro e, no passado, apoiou a queda de Dilma Rousseff? Já há conversas com líderes desse setor?
Lula – O centrão é uma realidade da política brasileira, mas não é um partido político. É um conjunto de parlamentares de vários espectros ideológicos, que tentam construir uma maioria para governar como eles querem.
E eu pretendo governar com os parlamentares eleitos, não preocupado com seus preceitos ideológicos ou interesses, mas convencê-los que os interesses do Brasil são maiores do que qualquer grupo.