“O ebola ainda assusta”, afirma dirigente da Guiné

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A epidemia de ebola na África Ocidental sumiu das manchetes dos jornais, mas ainda não terminou. Após uma queda considerável no número de casos no final de 2014, o vírus continua fazendo vítimas em Serra Leoa, Libéria e Guiné, os três países mais atingidos neste surto, que é o quarto da história. Nas últimas semanas, houve até um ligeiro aumento das ocorrências nestes três países. 

Atualmente, a Organização Mundial da Saúde, a OMS, contabiliza 23.913 casos, com 9.714 mortes. Serra Leoa, o país mais atingido, está com 11.443 casos e 3.530 óbitos. Na Libéria foram 9.265 casos e 4.057 mortes. Guiné teve 3.205 ocorrências e 2.127 mortes. Além destes países também foram localizados casos esparsos no Senegal, no Mali e na Nigéria, mas eles já foram considerados livres da doença, após um período de 42 dias sem novos infectados.  

Impedir que o assunto saia da pauta de preocupações da comunidade internacional é hoje a maior preocupação dos governantes dos países atingidos pela epidemia. Esse foi o tema da visita que Alpha M. Condé conselheiro especial da presidência da República da Guiné, fez ao ex-presidente Lula dia 25 de fevereiro.

O dirigente guineense, que tem status de ministro, falou sobre as seríssimas consequências que a epidemia trouxe ao seu país. A economia da Guiné, assim como a da Libéria e a de Serra Leoa, sofreram baques enormes, por conta dos bloqueios erguidos nas estradas e nas fronteiras que para conter a epidemia. A atividade econômica em grande parte das regiões dos três países ficou muito restrita, levando a uma queda significativa do PIB previsto para 2014. Os dados são reveladores: a Libéria, que previa um crescimento de 5.9%, cresceu apenas 2.2%. Serra Leoa, que previa um PIB de 11.3%, cresceu somente 4%. E Guiné, que trabalhava com a previsão de 4.5%, teve apenas 0.5% de crescimento, interrompendo um ciclo virtuoso que já vinha de alguns anos.

Condé destacou que uma das principais preocupações das autoridades locais é buscar o apoio da comunidade internacional para que retomem os investimentos no país. Também mostrou seu temor ao prever que a diminuição do ritmo da epidemia possa levar ao desinteresse dos laboratórios e dos governos dos países ricos na continuidade das pesquisas para que se encontrem tratamentos e vacinas para conter o vírus. Ele lembrou que o primeiro surto da doença aconteceu há 40 anos e até aqui não há uma descoberta da indústria farmacêutica que de fato possa ser alentadora. 

Como fato positivo, o dirigente guineense contou ao ex-presidente Lula da sua satisfação diante da solidariedade que receberam de muitos países, sobretudo de Cuba, que enviou cerca de 200 profissionais de saúde para ajudar no combate à doença.

Condé também falou sobre sua esperança que o FMI mantenha o assunto em pauta e informou que um fórum que acontecerá em março, em Bruxelas, chamado pela presidenta do Fundo, Cristina Lagarde, pode contribuir com a causa. 

Ele convidou o ex-presidente Lula para estar presente ao fórum e destacou a importância da sua ajuda neste processo de retomada do ritmo de crescimento dos três países, dada à força de sua imagem no continente africano.

No encontro, Lula reafirmou seu compromisso com a luta pelo desenvolvimento social do continente e sua disposição para cooperar com as iniciativas da sociedade da Guiné, mas não pôde confirmar sua presença no fórum de Bruxelas em função de compromissos já agendados com maior antecedência.