A igreja terá papel importante no trabalho social que precisa ser feito para consertar o Brasil, diz Lula

Em encontro com religiosos, ex-presidente diz que o povo não quer muito, apenas o que está na Bíblia, na Constituição e na Declaração Universal dos Direitos Humanos

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Em encontro com religiosos na tarde desta segunda-feira (17/10), em São Paulo (SP), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou a importância de envolver a sociedade na governança para solução dos problemas do Brasil e disse que a igreja terá papel importante no trabalho social que precisa ser feito para consertar o país.

“É preciso ter organização para a gente fazer as mudanças que precisam ser feitas. A fome voltou e voltou pior do que estava em 2003, pior. Ela voltou muito mais grave. Nós vamos precisar fazer muito trabalho social, e eu acho que as igrejas podem ajudar muito a gente a fazer muita coisa. Nós temos muita coisa para cuidar”, afirmou.

O ex-presidente citou como exemplo a necessidade de criar política públicas voltadas para os autistas. Segundo ele, muitas mães fazem relatos sobre falta de ajuda do Estado em casos como esses. “Nós vamos ter que criar políticas próprias para isso. E o ministro da Fazenda não pode dizer que não tem dinheiro. É papel do Estado cuidar das pessoas que efetivamente mais precisam”.

Brasil sempre foi país alegre

No encontro emocionado, com música e mensagens de apoio e esperança de padres e freiras, Lula afirmou que o Brasil vive um momento diferente de tudo que ele já viu em seus 76 anos de vida, com parte da sociedade tomada pelo ódio, com padres sendo atacados por falarem sobre fome, pobreza e democracia nas igrejas.

“Esse país sempre foi reconhecido como um país alegre, que gostava de festa, que gostava de futebol, que gostava de dançar, que gostava de carnaval. Nunca tinha visto o Brasil tomado pelo ódio como parte da sociedade brasileira está hoje. Tenho lido notícias de padres que são atacados durante a missa porque estão falando da fome, da pobreza, da democracia. Atacado por pessoas que sempre conviviam com a gente e a gente não sabia que tinham tanto ódio”, disse, pontuando que há avanço da extrema direita, com ideias fascistas, como as da família do adversário Jair Bolsonaro, também em outras partes do mundo.

Lula voltou a falar das prioridades de seu governo, com combate à fome e geração de empregos, e enfatizou que a única razão pela qual ele quer novamente ser presidente é fazer as coisas diferentes para mudar o país para melhor. Queremos paz e democracia. Eu digo todo dia que o povo pobre não quer muita coisa. As pessoas querem morar, trabalhar, comer, estudar, ter acesso a cultura, ter um dinheirinho para ir ao cinema ao teatro, visitar um parente. Tudo isso está na Constituição, está na Bíblia, está na Declaração Universal dos Direitos Humanos”, afirmou.

Cruz de Lampedusa

Fotos: Ricardo Stuckert

No encontro, além das palavras de apoio e declaração de voto, Lula recebeu presentes dos religiosos comprometidos com o projeto de inclusão social, combate à fome, proteção ambiental e fortalecimento da democracia propostos pela Coligação Brasil da Esperança.

Depois de fala em que pediu o fim do racismo, do feminicídio e da exploração sexual e laboral das crianças, a irmã Rosa, de Santo André (SP), entregou a Lula uma cruz de madeira que ganhou quando visitou a Ilha de Lampedusa, ilha da Itália por onde chegam de barco migrantes africanos na Europa. A cruz foi feita por pedaços de madeira de barcos acidentados na travessia.

“Sonhamos com um presidente que escute a sociedade, suas dores, seus clamores, suas lutas e suas esperanças. Sonhamos com um país que, com mais de 50% da população de negros e negras seja menos racista. Sonhamos ver crianças negras andando pelas ruas sem medo de serem atropeladas por causa da cor da sua pele. Sonhamos com a juventude negra nas universidades e com maior representação de mulheres e homens negros”, discursou a religiosa, que além de freira é jornalista.