O
crescimento a longo prazo da África pode ficar comprometido por conta
da lentidão do processo de industrialização no continente, afirmou o
secretário executivo da Comissão Econômica para a África da ONU (ECA),
Carlos Lopes, em Adis Abeba. Durante o encontro, que ocorreu paralelo
à 3ª Conferência Internacional sobre o Financiamento para o
Desenvolvimento, nesta quarta-feira, o executivo destacou três pontos
que considera críticos para a transformação africana: modernização da
agricultura, industrialização inclusiva e sustentável e infraestrutura e
energia sustentáveis.
Como
Lopes bem lembrou, a África é responsável por menos de 2% das
exportações mundiais de produtos manufaturados. O percentual desses
produtos nas exportações da África para o mundo caiu de 26% em 1995 para
16% em 2013. Para comparar, em 2013, bens manufaturados
representaram cerca de 70% das exportações globais da Ásia. Para um
continente de 1,1 bilhão de habitantes, com terras abundantes e água, é
inconcebível saber que a África ainda sofre de insegurança alimentar.
“O crescimento da África tem lutado para criar empregos suficientes para
a crescente juventude, e a única maneira confiável de fazer isso é
através da industrialização”, afirmou Carlos Lopes.
Na
intenção de dar uma visão geral sobre a situação, Nkosazana Dlamini
Zuma, presidente da Comissão da União Africana, disse que, até 2013,
apenas 1/3 da população da África tinha acesso à eletricidade; 65% à
água potável e apenas 38 % ao saneamento. Além disso, em 2013, o
continente investiu 4% do PIB em infraestrutura, em comparação com 14%
da China no mesmo ano. Apenas na última década, o African Development
Bank destinou cerca de 28 bilhões de dólares em infraestrutura, o que
representa três vezes mais do que o banco fez em 40 anos.
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Em
discurso durante o encontro, Agnes Kalibata, presidente da Aliança
para uma Revolução Verde na África, afirmou que o progresso econômico
sustentável e inclusivo será difícil enquanto grandes segmentos da
população estiverem presos à agricultura de subsistência. À imprensa,
ele disse que todos compartilham uma responsabilidade coletiva para
garantir que a ideia de “África Rising” seja uma realidade para todos os
africanos, lembrando que não há como isso ser concretizado sem antes
melhorar a produtividade e a renda para os pequenos agricultores.