A União Africana encerra hoje sua XXII Conferência. Conflitos no Sudão do Sul e na República Centro-Africana preocupam o continente
A necessidade de combater a fome e a insegurança alimentar nos países africanos foi o tema central de todos os oradores da abertura da XXII Sessão da Conferência da União Africana (UA), que contou com a presença de chefes de Estado e de Governo ou seus representantes dos 54 países membros, em Adis Abeba, Etiópia, na manhã da quinta-feira, dia 30.
Durante todo o ano de 2014, “A Agricultura e a Segurança Alimentar” será o eixo de intervenção que pretende unir os governos africanos. A presidenta da Comissão da União Africana, Dlamani Zuma, abriu os trabalhos nesta quinta-feira, destacando a relevância do tema ao lançar a “Agenda 2063”, um programa de ação para os próximos 50 anos.
Ao final da manhã de trabalhos, o presidente da Mauritânia, Mohammed Ould Abdelaziz, foi eleito o presidente transitório para o ano de 2014, responsável por coordenar as ações voltadas para a questão da agricultura e da segurança alimentar.
Entre as lideranças africanas também se manifestaram na abertura da sessão o primeiro-ministro da Etiópia, Hailemariam Desalegn; o presidente recém-eleito de Madagascar, Hery Rajaonarimampianina; o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, e o presidente da Mauritânia, que tomou posse oficialmente do novo cargo.
Como acontece em todas as conferências da UA, um país não-africano é convidado de honra para participar da reunião. Desta vez, o homenageado foi o Haiti, representado por seu primeiro-ministro, Lorenzo Salvador La Mota, que se referiu ao seu país como “a África das Caraíbas”, por conta da determinante participação dos escravos africanos na conquista da independência haitiana.
A segurança alimentar e os conflitos internos
Todos os discursos dos líderes africanos também chamaram a atenção para a gravidade dos conflitos em curso na República Centro-Africana e no Sudão do Sul. O primeiro-ministro da Etiópia, Hailemarian Desalegn, foi um dos mais contundentes ao conclamar todas as partes envolvidas nestes países a “depor as armar e ir para a mesa de negociações, sem qualquer pré-condição”.
Só no Sudão do Sul, calcula-se em 702 mil refugiados que deixaram o país em função da luta interna que dividiu o governo, enquanto que na República Centro-Africana, já passa de um milhão o número de refugiados.
A presidenta Dlamini Zuma chamou a atenção especial para as mulheres e crianças, principais vítimas das guerras e demonstrou sua preocupação com a possibilidade dos conflitos se alastrarem para países vizinhos.
Segundo as lideranças africanas, a tensão existente nos dois países acabou por deixar num segundo plano os avanços obtidos no rumo da estabilidade ao longo de 2013 em outros três países, Madagascar, Mali e Somália, todos representados na Conferência pelos seus principais mandatários.
Bastante presente na avaliação dos que falaram nesta sessão foi a análise da relação entre os conflitos armados e a gravidade da situação da insegurança alimentar nestes países. A pobreza e a fome eram destacadas como raízes dos conflitos, ao fornecer os exércitos de jovens para os agrupamentos em guerra e ao aterrorizar as populações de comunidades rurais muito fragilizadas e pobres.
A conclamação para que todos os países destacassem pelo menos 10% de seus orçamentos para a agricultura foi unânime, assim como o apelo a uma maior integração do continente, inclusive nas tratativas da União Africana para intervir pela resolução dos conflitos.
Hoje, cerca de 25% dos cerca de um bilhão de habitantes da África, sofrem de uma situação de insegurança alimentar, segundo a FAO, representada na Conferência pelo seu diretor-geral, José Graziano da Silva. Apesar do claro processo de desenvolvimento econômico que o continente vive neste século XXI, o combate à desigualdade social continua como o principal desafio da União Africana.
Ao colocar o tema da agricultura como seu centro das atenções neste ano, a UA pretende unificar os esforços dos governos africanos em uma só direção. As resoluções que foram debatidas em sessões restritas aos líderes africanos na tarde da quinta-feira, 30, e na nesta manhã da sexta, 31, serão tornadas públicas nas sessões de encerramento da Conferência ainda hoje.
Celso Marcondes, coordenador-executivo da Iniciativa África do Instituto Lula, de Adis Abeba
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