Em encontro emocionante com representantes da cultura no fim da manhã de hoje, 21, em Recife (PE), com poesia, música, frevo, agradecimentos e alegria, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou seu compromisso de priorizar a cultura, num eventual novo governo, com recriação do Ministério, criação de comitês estaduais e realização de conferências anuais para que o setor decida coletivamente as políticas públicas e as diversidades regionais sejam representadas nas escolhas.
“Quero criar comitês de cultura estaduais para que não haja o monopólio da cultura do Centro-Sul do país sobre o restante do território nacional. O ministério que vai cuidar da cultura vai ter que construir, junto com os 27 estados, grupos de cultura em que vão fazer conferências anuais para decidir que tipo de política a gente vai colocar em prática e fazer com que a cultura seja um instrumento de geração de riqueza nesse país”, disse, acrescentando que a cultura mobiliza muita gente, o que significa emprego sustentável e de qualidade.
De acordo com o ex-presidente, o Ministério da Cultura tem que ser entendido não como um ministério de gasto, mas de investimento e de descoberta de pessoas extraordinárias e gente excepcional. “Eu quero fazer, não eu, nós. Nós precisamos fazer uma verdadeira revolução cultural nesse país. Não é uma revolução cultural de mandar queimar livro não, é de distribuir mais livro, de permitir acesso das nossas crianças a ter possibilidade de assistir filme, música, teatro na escola”, afirmou, acrescentando ser preciso deixar a cultura fluir como um rio. “Vamos tentar limpar para que a água possa correr com cada vez mais velocidade”.
Lula lembrou que, em seu mandato, o governo criou políticas inclusivas, como os pontos de cultura, que se mostraram eficazes e mobilizadoras de grande contingente de pessoas país afora. Contou também das experiências iniciais com a cultura, a ida ao circo, o primeiro cinema numa projeção na parede de uma padaria na periferia de São Paulo, até instituir no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC medidas de estímulo para que os trabalhadores vissem e debatessem sobre filmes, e cursos de fotografia, teatro e cinema.
Em um Teatro do Parque cheio de pessoas de diferentes gerações, com grandes nomes da cultura pernambucana, como os cineastas Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, que têm levado Pernambuco e o Brasil para o mundo, com filmes aclamados pela crítica e pelo público, como Bacurau, Som ao redor e Aquarius, Lula falou sobre o Brasil que andou para trás com um governo que causou perdas não só para o setor cultural. Ele também ouviu e disse ter aprendido muito com todas as falas.
Nomes como Sidney Rocha, João Roberto Peixe, Tita Alves, Fred 04, Maciel Salu, Bete de Oxum e Bione falaram para o ex-presidente sobre a situação do setor, destacaram a importância da construção coletiva das políticas culturais, defenderam a volta do Ministério da Cultura e das conferências nacionais, agradeceram Lula e reconheceram a importância dos governos petistas para os avanços que o setor viveu nos últimos anos e que foram perdidos, após o impeachment que tirou a ex-presidenta Dilma Rousseff do poder.
Kléber Mendonça Filho – que com a visibilidade que tem em palcos internacionais, onde mostra suas produções, sempre denunciou o golpe contra o PT e os retrocessos do Brasil após a eleição de Jair Bolsonaro -, destacou a importância da cultura como representação do Brasil e disse que, em suas viagens para o exterior, ninguém entende porque o Ministério da Cultura foi extinto numa das primeiras ações do atual governo. “Pareceu ser um crime contra a própria ideia de Brasil. O Brasil é a Cultura”, relatou, acrescentando que o mais importante agora é trabalhar para que “essa fase vergonhosa do país chegue ao fim e o pensamento democrático volte a guiar a vida dos brasileiros”.
O encontro teve clima de festa. Lula e Janja brincaram com a sombrinha símbolo do frevo, ganharam livros e camisa do “Eu acho é pouco”, tradicional bloco de carnaval de Olinda, dançaram e se emocionaram com a força da energia pernambucana expressa na vibração do teatro lotado, na música cantada por Almério e Maciel Salu, no frevo contagiante em sons e movimentos de Maestro Forró e Orquestra Popular da Bomba do Hermetério, nas poesias ditas pelos mestres de cerimônia e no depoimento de tantos que sentem saudades de um tempo que o Brasil foi feliz e melhor.
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