Querido companheiro Jean Wyllys.
É com grande orgulho e alegria que recebemos hoje sua filiação a este partido que ousamos fundar em plena ditadura.
O partido dos trabalhadores e das trabalhadoras, dos intelectuais, do povo negro, do povo índio, do povo LGBT, dos artistas, das mulheres, dos sem-terra, dos sem-teto, dos oprimidos e dos sonhadores. O partido do povo brasileiro.
Faço questão de lembrar as origens do PT neste momento, porque sua filiação se dá num contexto semelhante ao que levou à fundação do nosso partido.
Em 1980, era preciso derrotar a ditadura militar e remover todo o entulho autoritário que os anos de chumbo e de sangue acumularam sobre este país. Era preciso reconstruir o Brasil.
Quatro décadas depois, sua chegada ao Partido dos Trabalhadores coincide com outra luta histórica. Agora é urgente derrotar o fascismo que se instalou neste país.
Esse regime do ódio e da mentira; da negação da ciência, da arte e da cultura; do desemprego, da fome e da acumulação de riquezas nas mãos de poucos; do culto às armas e da violação dos direitos humanos.
Agora é preciso reconstruir e transformar o Brasil. Varrer para o lixo da história esses que não se comovem sequer diante da morte de 440 mil brasileiros. Que deixam o país sufocar por falta de oxigênio. Que veem com indiferença pessoas morrendo nas filas da UTIs, porque eles se recusaram a comprar as vacinas.
É um alento, meu caro companheiro Jean Wyllys, poder contar com sua força nesta nossa difícil tarefa de remover camadas e mais camadas de ódio. Arrancar todo esse ódio com as próprias mãos, até sangrar os dedos se preciso for, para debaixo dele nós reencontrarmos o amor e o respeito à vida que durante muito tempo foram a marca deste país.
Querido companheiro Jean Wyllys.
Difícil listar as qualidades que admiro em você, mas eu gostaria de destacar duas delas. A primeira é a solidariedade.
Você esteve ao meu lado durante cada dia da minha prisão injusta. Ousou ser solidário quando a perseguição política contra mim e os demais malfeitos do juiz e dos procuradores da Lava Jato ainda não haviam sido escancarados para todo o Brasil.
A outra grande qualidade que eu admiro em você é a coragem.
Já faz parte da história da luta democrática o seu voto na trágica sessão da Câmara dos Deputados que selou o golpe contra a presidenta Dilma.
Você teve a coragem de chamar pelo nome aquele show de horrores que se desenrolava diante dos olhos atônitos de cada um de nós: o impeachment era uma farsa, e você ousou dizê-lo em alto e bom som.
Ousou ainda mais. Diante daqueles que o vaiavam, que o constrangiam, que tentavam intimidá-lo, você disse com todas as letras o que eles, de fato, eram: “torturadores, covardes, analfabetos políticos e vendidos”. Os canalhas, como você disse naquela noite, tiveram que dormir com essa.
Você enfrentou o fascismo de peito aberto. Foi, juntamente comigo, um dos principais alvos da máquina bolsonarista de fake news. Tentaram destruir sua reputação, espalhando mentiras absurdas a seu respeito.Você recebeu incontáveis ameaças de morte. Chorou, como cada um de nós, o assassinato da sua grande amiga e nossa companheira Marielle Franco.
Um crime político até hoje não esclarecido, porque falta responder uma pergunta que não pode calar: Quem mandou matar Marielle? Talvez os mesmos que gostariam de matar Jean Wyllys.
Diante de tudo isso, você escolheu continuar vivo, ainda que para isso fosse preciso ir embora deste país que ama de paixão. Mas você nunca nos deixou de verdade.
Mesmo no exílio, você jamais se afastou um milímetro da defesa dos direitos humanos, hoje ameaçados como poucas vezes em nossa história.
Nunca abandonou a luta pela democracia, contra as desigualdades, pela inclusão social e pelo respeito às diversidades. Esteve sempre nas trincheiras da resistência, ao lado daqueles que lutam pela construção de um mundo e de um país mais justos.
Hoje, nós orgulhosamente o recebemos no Partido dos Trabalhadores. Amanhã, quando – com a sua ajuda – todo esse pesadelo chegar ao fim, nós teremos a felicidade de recebê-lo de volta ao Brasil.
Bem vindo, querido companheiro Jean Wyllys.
Luiz Inácio Lula da Silva