Auxílio Brasil acaba com Bolsa Família e traz incertezas sobre futuro

Por picuinha política, Bolsonaro substitui BF por Auxílio Brasil, programa eleitoreiro e de futuro incerto, que deixa 22 milhões sem desassistidos.

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A Caixa Econômica Federal começa a pagar nesta quarta-feira (17) o Auxílio Brasil, simulacro de programa do governo Bolsonaro que acaba com o Bolsa Família e deixa milhões de famílias brasileiras na incerteza. Nesse mesmo dia, o Auxílio Emergencial paga sua última parcela, o que causa desespero nos beneficiários do programa assistencial criado durante a pandemia, já que a maioria não se enquadra nas faixas de renda do Auxilio Brasil. Cerca de 25 milhões de famílias ficarão desamparadas.

O programa de Bolsonaro considera aqueles vivendo na linha da pobreza (com renda entre R$ 100 e R$ 200) e extrema pobreza (com renda de até R$ 100). Entretanto, famílias em situação de pobreza só poderão receber o auxílio se houver gestantes ou pessoas menores de 21 anos entre seus membros.

Para especialistas, as faixas de renda do programa ficaram aquém do necessário e deveriam ter subido mais considerando a inflação acumulada desde a última correção. Também ignora o critério internacional de definição da pobreza usado pela ONU. Na prática, limita o número de beneficiários. Eles também chamam atenção para um problema comum do governo Bolsonaro, a falta de estudos de impacto do programa. Segundo estudos do Banco Mundial, a linha de corte para extrema pobreza deveria ser de R$ 300 no Brasil atual, ou seja, três vezes maior do que aquela implementada por Bolsonaro.

São muitas as inconsistências presentes no Auxílio Brasil, lançado como uma muleta para substituir as pernas do povo brasileiro, que era o Bolsa Família. Por pura picuinha política e ideológica, destrói-se, sem um substituto à altura, o maior programa de distribuição de renda e combate à pobreza do mundo.

O Auxílio Brasil nasce com um caráter meramente eleitoreiro, já que tem data para acabar: fim de 2022. Não se sabe como será financiado e a suposta ampliação de seu benefício (de R$217,18 para R$ 400) foi condicionado a uma chantagem: a aprovação do Congresso de uma das pautas do governo – a PEC do Precatórios.

Também vêm acontecendo problemas no registro de beneficiários no CadÚnico. Quem não era cadastrado tem enfrentado filas para conseguir completar a tarefa. Pior do que isso, é não saber quando vai começar a receber, já que o governo não deu um prazo para que essas pessoas recém cadastradas comecem a receber o benefício. Mais um limbo. O problema é que as necessidades não esperam. E o povo brasileiro está cheio delas.

O primeiro dia de pagamentos foi marcado pelas grandes filas nas lotéricas e nas agências da Caixa, que se formaram desde a madrugada. A pressa do governo em mudar o programa e a falta de diálogo com os municípios causou um falha de comunicação que fez com que muita gente procurasse as unidades de inscrição do Cadastro Único antes do  tempo, tornando o processo desgastante e confuso.

Os novos beneficiários só serão incluídos a partir de dezembro, cerca de 2 milhões de famílias, o que, como já foi dito, não atende a todos.

Dos 34.4 milhões atendidos pelo Auxílio Emergencial, 25 milhões não estão no Bolsa Família (são trabalhadores que se inscreveram por meios digitais ou que integram o Cadastro Único).

Já o Bolsa Família chega a 14,6 milhões de famílias ao todo. Com o Auxílio Brasil, o governo planeja atender esse universo e acrescentar 2,4 milhões até dezembro, totalizando 17 milhões de famílias beneficiadas. Ou seja, atualmente são 25 milhões de famílias excluídas do programa.

Ainda que esses 2,4 milhões alcancem exclusivamente o público do Cadastro Único e dos meios digitais que receberam o Auxílio Emergencial, mais de 22 milhões de famílias devem deixar de receber ajuda mensal do governo a partir de novembro.

O G1 conversou com muitas famílias desesperadas com essa situação. Como sobreviver no limbo dos programas de auxílio do governo? “É a dificuldade batendo na porta”, declarou Jaqueline Santana, que está desempregada e mora com os pais em Salvador. “Não é pra comprar roupa e perfume. É pra comer”, disse ao G1.