O governo Lula (2003-2010) mudou a prioridade da política externa brasileira e trabalhou para ampliar as relações entre o Brasil e os países africanos. Foram 33 viagens presidenciais ao continente, com a criação de 19 novas embaixadas. Mas ainda não é o bastante. Recentemente, durante reunião da Cúpula América do Sul-África (ASA), na Guiné Equatorial, a presidenta Dilma lamentou o fato de que o volume de transações comercias entre América Latina e África ainda é muito baixo.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva impulsionou a criação da Cúpula América do Sul-África (ASA); a instalação de um escritório da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) em Gana; da fábrica de antirretrovirais em Moçambique; de uma fazenda-modelo para a produção de algodão no Mali e da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), com metade das vagas para alunos africanos. O governo Dilma Rousseff dá continuidade a esta política para fortalecer ainda mais as relações entre o Brasil e a África.
Há um imenso potencial para crescimento. Foi pensando nisso que dois pesquisadores da Unicamp, o beninês Leonard Sebio, e o brasileiro José Dilcio Rocha, idealizaram um projeto para dinamizar o comércio entre os países do Sul, a Coop Sul-Sul. A ideia é arrojada: criar uma marca e uma rede de mercados e entrepostos para distribuição de produtos fabricados na África e América Latina. Os desafios também são grandes. Leonard Sebio nos conta um pouco mais sobre a ideia:
O que é afinal a Coop Sul-Sul?
É uma iniciativa que vai envolver empresas da África e América Latina com o objetivo de facilitar a distribuição e o comércio de produtos produzidos nesses países. A ideia é criar uma marca própria e uma rede atacadista de distribuição. Desse modo, no futuro, poderemos encontrar produtos fabricados em países africanos tanto nas prateleiras no Brasil quanto nas de outros países da América Latina e Caribe e vice-versa.
Para isso, a Coop Sul-Sul visa criar uma plataforma de soluções inéditas e criativas. Queremos estimular os investimentos, gerar receitas, lucro e criar mais oportunidades de emprego e renda, saindo da retórica das ações humanitárias.
Nossa ideia foi a de desenvolver uma estratégia que dinamizasse a integração entre os países do Sul de maneira a estimular também o desenvolvimento dos países. Num mercado de quase 1,5 bilhões de consumidores a Coop Sul-Sul poderá ser a solução de oportunidades para que as empresas cooperantes de diferentes países do Sul se tornem competitivas de fato, e dessem visibilidade internacional aos seus produtos dentro do bloco.
Mas como ela vai funcionar na prática?
Serão criadas redes atacadistas com a marca Coop Sul-Sul. Essas redes serão instaladas estrategicamente em países africanos estáveis social e politicamente. Por meio do “efeito vitrine”, esses atacadistas ampliariam seu raio de ação para outros países da América Latina e Caribe, com o Brasil sendo a base da logística de distribuição. Instalar redes atacadistas não significa apenas exportar produtos, mas implementar um sistema inovador de mutualidade comercial.
O que diferencia a Coop Sul-Sul de uma empresa comercial tradicional?
A Coop Sul-Sul vai funcionar de acordo com as necessidades dos empreendedores locais. O foco é na comercialização de produtos, serviços e transferência de tecnologia, mas sempre em compasso com as necessidades locais. Pretendemos organizar exposições, vendas, franquias, criar condições de incentivo para o empreendedorismo individual ou para micro e pequenas empresas locais, facilitar o aluguel de máquinas e implementos para diversos setores da sociedade.
Posteriormente, o movimento comercial nessas redes permitirá avaliar o perfil do consumo nas regiões e consequentemente viabilizar as possibilidades de investimentos produtivos por parte da iniciativa privada.
Mas a Coop Sul-Sul não será da iniciativa privada? Quem vai financiá-la?
A Coop Sul-Sul é uma plataforma que vai permitir a presença efetiva da iniciativa privada para dinamizar a cooperação entre os países do Sul (África, América Latina e Caribe) e sua implementação será viabilizada por meio de investidores privados. A cooperação internacional foi sempre tratada entre governos a nível diplomático. O que efetivamente promove o desenvolvimento de um país, com geração de empregos e renda é a iniciativa privada amparada pelos governos. Para isso, estamos buscando catalisar investimentos financeiros para viabilizar o projeto
Como vocês vão lidar com a concorrência de grandes marcas atacadistas?
A Coop Sul-Sul não é concorrente das grandes marcas atacadistas, mas uma alternativa inovadora e diferenciada para facilitar e viabilizar o comércio livre multilateral tão desejado entre os países do Sul. Um produto estampado com a marca Coop Sul-Sul poderá ser vendido em qualquer rede de supermercados via parceria, já que a marca vai aglutinar empresas interessadas em vender.
Quando a Coop Sul-Sul deve começar a funcionar?
A idéia da Coop Sul-Sul já está funcionando. Estamos captando interessados e potenciais investidores no projeto e dispostos a unir forças para a implantação.
Onde serão montados os entrepostos da Coop Sul-Sul?
O Brasil, sendo o líder natural incontestável dos países do Sul será o centro de inteligência da marca, pois o objetivo é que a Coop Sul-Sul se torne futuramente uma marca de um grande grupo de negócios e logístico de distribuição internacional do Atlântico Sul constituindo efetivamente um mercado livre do Sul.
Qual é o grande benefício que ela trará aos povos africanos, latino-americanos e caribenhos?
Entre os temas sociais de maior relevância hoje no mundo, o emprego é considerado o mais estratégico. Por isso, o grande desafio para os países do Sul principalmente no continente africano é a industrialização, que constitui a condição sine qua non de geração de empregos, de renda e riquezas para movimentar as economias locais e mitigar a pobreza. Então, conforme forem se instalando as redes Coop Sul-Sul em diversos países participantes do projeto, irá aumentando o mercado consumidor e o interesse para os investimentos produtivos na industrialização nesses países. Nesse aspecto, o grande benefício é o comércio justo, solidário e colaborativo, promovendo o desenvolvimento sustentável.
E as empresas desses países, como se beneficiarão?
Os empreendedores com quem conversamos vislumbram grandes oportunidades, porque existe uma grande demanda hoje nos diversos segmentos da indústria e dos serviços. E será também uma alavanca dinamizar esses mercados e aumentar o intercâmbio entre as empresas.
Como a marca Coop Sul-Sul almeja ser o acelerador do mercado livre para os países do Sul, acreditamos que somente a associação concomitante das forças da iniciativa privada nesses países pode contribuir para uma ação coordenada, pois o somatório de esforços em prol do mesmo fim promove a sinergia. A experiência mostra que o efeito resultante de vários agentes que atuam de forma coordenada para um mesmo objetivo comum pode ter um valor superior ao valor do conjunto desses agentes se atuassem isoladamente sem esse objetivo previamente estabelecido. Esta sinergia, portanto vai ser a tônica da marca que vai facilitar o diálogo Sul-Sul para o desenvolvimento sustentável.
Contatos com a coordenação da Coop Sul-Sul:
Leonard Sebio: [email protected]
José Dilcio Rocha: [email protected]