Bolsonarismo quer repetir Trump e enche o YouTube de conteúdo golpista

Não é só impressão. O YouTube está realmente entupido de vídeos que difundem fake news, discurso de ódio e desinformação, com uma gama crescente de vídeos com ataques ao processo eleitoral, às urnas eletrônicas e ao STF. Com a proximidade das eleições, o volume de postagens mentirosas sobre esse tema vem aumentando, segundo alerta uma pesquisadora em entrevista ao DW Brasil

“O bolsonarismo usa o YouTube para colocar eleições em xeque”, afirma Letícia Capone, do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Internet e Política da PUC-Rio. Ela monitora canais que apoiam Bolsonaro nesta rede e constatou que é nela em que “as narrativas mais sensíveis sobre a democracia e as instituições são construídas e disseminadas”. 

Tanto é verdade que vídeos golpistas, atacando juízes do STF e do TSE, são publicados originalmente no YouTube mas rapidamente vão parar no Facebook, no Whatsapp e em qualquer canto onde exista alguma vítima da rede de desinformação bolsonarista. 

Aqui no Verdade na Rede, como você sabe, temos um canal de denúncias para receber as fake news que usuários das redes encontram e nos enviam. Isso nos permite analisar e enviar para nossos advogados os casos de crimes evidentes. Também nos mostra a variedade e o alcance das mentiras, para que possamos produzir desmentidos e criar conteúdos que revelem o funcionamento desse triste sistema.

Na mesma linha, o monitoramento apresentado pela pesquisadora mostra como aumentou a produção e difusão de mentiras no YouTube: oito vezes em menos de um ano. Em setembro de 2021 havia 185 referências a temas golpistas (atacando eleições e instituições democráticas) em vídeos na plataforma e, em junho de 2022, já eram 1.409.

Letícia aponta que a estratégia de espalhar conteúdos questionando o processo eleitoral é semelhante à de Donald Trump. Derrotado nas urnas em 2020, o ex-presidente norteamericano não reconheceu a derrota e fez pior: insuflou uma multidão a invadir o Capitólio, no dia 6 de janeiro de 2021, para tentar impedir a confirmação do resultado eleitoral. Ou seja, dar um golpe. Trump não teve sucesso, mas provocou tumulto e mortes. 

Bolsonaro não esconde seus anseios golpistas e vem tentando criar o mesmo ambiente de desinformação e ódio às instituições, como fez Trump, para mobilizar uma massa que servisse a seu teatro de perdedor inconformado.  

Isso não seria um problema tão grande se a extrema-direita e o bolsonarismo não tivessem um alcance tão grande (e impune) nas redes. Letícia destaca o papel da rádio Jovem Pan no ambiente de desinformação do YouTube. Somente de 20 a 26 de junho deste ano, três programas da emissora bajuladora de Bolsonaro tiveram, somados 26,8 milhões de visualizações no YouTube. Como comparativo, o portal de notícias UOL teve 4,5 milhões no mesmo período e a CNN Brasil, 3,3 milhões.   

Em resumo, é como se fosse uma “corrida” disputada pela verdade e pela mentira, mas a mentira está de carro supersônico e a verdade está a pé.  

Por mais que os usuários possam denunciar os conteúdos inadequados, o poder de brecar a desinformação em massa e as fake news está nas plataformas. O YouTube e o Google pertencem à mesma companhia (a Alphabet) e, como já apresentamos aqui, têm tomado iniciativas tímidas e pouco efetivas nesse sentido.  

Letícia Capone destaca que mais ações podem ser tomadas, entre elas “incorporar nas políticas de moderação e nos termos de uso, como em outras partes do mundo já incorporam, a defesa da integridade do sistema eleitoral e das instituições. Outra ação é dar mais transparência às ações de moderação, de remuneração dos canais e de anúncios políticos que circulam nas rede”.

O combate a fake news precisa ser um compromisso para além dos discursos bonitos. Sabemos que rede social vive de burburinho (pois burburinho traz audiência e audiência atrai anúncios e dinheiro). Também sabemos que as iscas falsas, a mentira e a desinformação são concebidas sob medida para se espalhar e gerar esse burburinho. Sabemos o que isso já nos trouxe, e o risco de onde pode nos levar. 

As plataformas precisam falar menos e fazer mais pela defesa das comunidades que, em último caso, são o que sustentam seu lucrativo negócio.  

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