É um discurso que se tornou parte da História do Brasil. Em 2003, ao assumir seu primeiro mandato como presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva lançou seu mais radical compromisso, aquele contra a fome: “Se ao final do meu mandato todos os brasileiros tiverem a possibilidade de tomar café da manhã, almoçar e jantar, terei cumprido a missão da minha vida”.
Tinha início ali uma revolução que desconstruiu crenças antes limitantes da política brasileira. A fome não era, ao contrário do que se fazia acreditar, uma endemia, algo inerente à realidade do país, um desafio insuperável. Lula entendeu que desigualdade, pobreza, miséria e fome são questões profundamente relacionadas, e por isso exigem uma abordagem séria e consistente. Prometido e cumprido: graças a esse compromisso, 36 milhões de pessoas foram tiradas da pobreza extrema.
A partir daquele discurso de Lula e nos anos seguintes, a pobreza declinou de forma contínua e consistente até chegar no patamar de 3%. Tamanha foi a redução da miséria e da população subalimentada que, em 2014, o Brasil deixou o Mapa da Fome da ONU.
Contudo, o vácuo deixado por uma sistemática destruição das políticas de redução da desigualdade e de segurança alimentar fez com que, nesta semana, voltamos a fazer parte desse ranking inaceitável.
Hoje, a realidade é radicalmente diferente. O passado recente tornou-se memória distante, apagada pela dor da barriga que ronca sem ter o que comer, pela incerteza de um salário que cada vez compra menos. São 61,3 milhões de pessoas que, entre 2019 e 2021, sofriam com a insegurança alimentar. Desses, 15 milhões passam fome hoje no Brasil.
O que ocorreu desde a chegada de Jair Bolsonaro ao poder, e já se desenhava desde o golpe que tirou a ex-presidenta Dilma Rousseff do poder, foi a destruição das políticas de combate à pobreza, a redução de investimentos sociais, a desvalorização do salário mínimo, a estagnação da geração de empregos. Esse cenário aterrador impactou diretamente os indicadores de pobreza e de extrema pobreza.
Não se trata de crise pontual. Antes, é um projeto pautado pela volta da fome, do desemprego, da inflação, do endividamento e do desalento das famílias. A democracia deixou de ser um valor universal, e a soberania, uma palavra sem lastro.
É a maioria da população brasileira quem mais sente os impactos da crise, do alto custo de vida, e é com ela que deve ser o principal compromisso de qualquer governo. É urgente a retomada da centralidade no enfrentamento da fome e da pobreza, assim como a garantia dos direitos à segurança alimentar e nutricional e à assistência social. Isso exige gerar empregos e mais renda para os mais pobres até que todos os brasileiros e as brasileiras tenham novamente direito ao menos a três refeições de qualidade por dia.
“Para isso, basta acreditar em nós mesmos, em nossa força, em nossa capacidade de criar e em nossa disposição para fazer”, disse o Lula de 2003, em total ressonância com o que diz o Lula de hoje, mais experiente e seguro do que é capaz de fazer, de 2022.