Todo mundo sabe e, por mais que ele tente esconder, Jair Bolsonaro despreza as mulheres. A ficha corrida do presidente inclui histórico de falas preconceituosas que se sobrepõem a seu machismo e racismo característicos. Mas o desgosto do presidente da República não para por aí. Vai além e alcança aqueles que deveriam estar no centro de toda e qualquer política pública.
Na nossa sociedade, não é possível dissociar essas duas bandeiras – a emancipação feminina e os direitos de crianças e adolescentes. E Bolsonaro é inimigo de ambos.
Sem comida na escola…
Em 2018, durante a campanha, Bolsonaro já mostrava todo seu desprezo pela infância e juventude quando disse que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) deveria ser rasgado e jogado na latrina. É isso mesmo.
Nos 3 anos e meio de governo Bolsonaro, a fome, a pobreza e a violência voltaram a fazer parte do cotidiano de milhares de crianças e adolescentes brasileiros. Na última semana, o presidente promoveu um ataque à qualidade de vida das crianças em idade escolar. Bolsonaro conseguiu destruir o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), referência internacional.
Ele vetou o reajuste para elevar o investimento na merenda aprovado no Congresso. Atualmente, são pagos R$ 0,36 por aluno no ensino fundamental e R$ 0,53 para crianças na pré-escola.
Para o presidente, o reajuste “contraria o interesse público”. Se ele não tivesse vetado o projeto, o programa teria um aumento de entre 34% e 40%. Mas, como sabemos, Bolsonaro não governa para o povo, muito menos para as crianças.
Durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, o valor transferido a estados municípios era constantemente reajustado, e o número de estudantes atendidos cresceu de 36,4 milhões em 2002 para 41,3 milhões em 2015. Desde 2017, porém, os valores da merenda não são atualizados.
![Bolsonaro não gosta de mulher nem de criança](https://lula.com.br/wp-content/uploads/2022/08/bolsonaro-odeia-mulheres-criancas-1-819x1024.jpeg)
…E sem comida em casa
Há uma semana, foi notícia na imprensa a ligação de uma criança de apenas 11 anos à polícia. Desesperada ao ver a mãe chorar no canto por não ter comida em casa, a criança resolveu pedir ajuda. A família é beneficiária do Auxílio Brasil, mas o dinheiro não basta para dar de comer aos filhos.
O caso chocou o país, mas não parece ter sensibilizado o presidente. O Painel da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos mostra que o número de denúncias sobre falta de comida para crianças e adolescentes apenas no primeiro semestre deste ano já é maior que o consolidado de todo 2021. A miséria e a fome são as marcas deste desgoverno perverso e sem compromisso com a vida.
Falta comida nas escolas, falta comida nas casas. No país, em pouco mais de um ano, a fome dobrou entre as famílias com crianças menores de 10 anos: passou de 9,4 % em 2020 para 18% em 2022, segundo o Jornal Nacional.
Enquanto nos governos do PT, ao menos 76% das crianças brasileiras faziam três refeições diariamente, no desgoverno Bolsonaro apenas 26% têm café da manhã, almoço e jantar todos os dias.
Infância exposta à violência
Falas e atitudes do presidente colocam em risco crianças e adolescentes no Brasil. Enquanto desmonta políticas públicas voltadas ao desenvolvimento dessa parcela da população, o governo federal trabalha arduamente para facilitar o acesso a armas no país. Sob Bolsonaro, crianças estão expostas à violência.
O fascínio do presidente pelo armamento e a apologia que faz frequentemente à violência produz resultados lamentáveis. A cada hora, 73 crianças sofrem violência no Brasil, sejam elas agressões físicas, psicológicas, abuso ou falta de acesso à alimentação e à educação. Apenas entre os meses de janeiro e junho deste ano foram registradas 318.419 violações contra crianças e adolescentes até os 17 anos.
Programas abandonado e defesa do trabalho infantil
O desprezo de Bolsonaro pela infância não para por aí. O Proinfância (programa que construiu, entre 2007 e 2015, 8.787 creches e pré-escolas com investimento de R$ 10 bilhões) e o Brasil Carinhoso (que instituiu o Benefício para Superação da Extrema Pobreza na Primeira Infância) foram abandonados no governo Bolsonaro.
Ele é um contumaz defensor do trabalho infantil. Já disse que “o trabalho infantil não atrapalha a vida de ninguém”, já pediu pra “deixar a molecada trabalhar” e já lembrou, saudoso, de “bons tempos, em que menor podia trabalhar”. Tudo proferido pela boca de um homem que desde que foi eleito trabalhou, em média, menos de cinco horas por dia.
Machismo e misoginia
Todo esse histórico comprova que o ódio de Bolsonaro contra mulheres e crianças não tem fim. Ele aponta suas armas para todos os lados. Mas é sabido que as mulheres são seu alvo preferencial. Um homem que separa as mulheres pelos atributos físicos, que determinariam se elas “merecem ou não” sofrer estupro e defende, sem pudor, o turismo sexual e que mulheres recebam menos caso optem por ter filhos.
O orçamento de combate à violência de gênero despencou ao menor patamar na gestão do atual presidente. O resultado? Em 2021, registrou-se um estupro a cada 10 minutos e um feminicídio a cada 7 horas, mostra o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Neste ano, só no Rio de Janeiro, a Polícia Militar atendeu em média 7 ocorrências por hora de casos de violência contra a mulher.
Nos governos de Lula, as mulheres ganharam autonomia e protagonismo. Foi Lula que, em 7 de agosto de 2006, sancionou a Lei Maria da Penha, legislação específica para o enfrentamento à violência doméstica e familiar. Calcula-se que mais de 300 mil vidas foram salvas entre 2006 e 2014, indicam dados da Secretaria de Políticas para as Mulheres. Entre 2006 e 2015, contabiliza o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), houve uma redução de 10% na taxa de homicídios domésticos no país.
A promoção da igualdade entre homens e mulheres era prioridade em todas as áreas de atuação do Estado. Cerca de 90% dos cartões do Bolsa Família eram emitidos em noma das mulheres, 85% das famílias beneficiadas pelo Minha Casa, Minha Vida eram chefiadas por elas, dos 20 milhões de empregos gerados na gestão do petista, 46% foram ocupados por mulheres.
Com a eleição na porta, Bolsonaro tenta forjar um apoio e um vínculo com mulheres e crianças que nunca existiram. Mas a sociedade está atenta e sabe quem governa e quem não governa para o povo. Pensar nas mulheres é pensar nas crianças. E pensar em políticas públicas para a infância é pensar nas mulheres, pois são elas as responsáveis por cuidar das crianças e adolescentes no país. Isso o Lula sempre soube e fez.