Bolsonaro vende fábrica de fertilizantes da Petrobras a russos e deixa Brasil ainda mais vulnerável

Governo brasileiro concluiu venda de fábrica de fertilizantes praticamente pronta a grupo russo. Com a guerra, Brasil corre risco de ficar sem produto.

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O desmonte da Petrobras promovido pelo governo Bolsonaro afeta a vida dos brasileiros em muitas esferas diferentes: desde o preço (dolarizado) da gasolina até a total dependência de fertilizantes importados (principalmente da Rússia) impactam diretamente nos preços dos alimentos e na volta da fome no país. A Petrobras fechou, no começo deste mês de fevereiro a venda da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN3), que ficava em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, ao grupo russo Acron. A venda da fábrica foi um dos assuntos tratados por Bolsonaro com Putin, na visita que fez à Rússia na semana em que o país declarou guerra à Ucrânia (mais um desastre cometido por Bolsonaro em termos de política internacional).

Essa operação é extremamente prejudicial ao Brasil, especialmente neste momento de guerra e de sanções comerciais. Hoje, cerca de um quarto dos produtos importados pelo Brasil vem da Rússia. Em 2021, foram mais de 41 toneladas, num total de 15 bilhões dólares e US$ 3,5 bilhões gastos no mercado russo. Com a venda da unidade, ficaremos ainda mais dependentes do mercado internacional.

A Petrobras investiu cerca de R$ 3 bilhões na construção da unidade vendida, que tem 81% das estruturas finalizadas. Essa privatização representa perdas para a agricultura e desenvolvimento nacional e para os consumidores finais.

Uma das consequências, além do aumento da dependência do mercado russo, será o encarecimento dos fertilizantes no mercado brasileiro, afetando diretamente pequenos agricultores e consumidores. Isso pode gerar impacto negativo, inclusive, nos alimentos, que já estão com preços nas alturas por causa da inflação galopante sustentada por Paulo Guedes.

Bolsonaro fechou fábricas de adubo e tornou Brasil dependente

O Brasil importa mais de 80% dos fertilizantes utilizados na produção agrícola. No caso dos insumos com potássio, o percentual chega a 96%. A dependência dos importados aumentou a partir da política de “desinvestimentos” adotada pela Petrobras ainda sob Michel Temer, e foi acelerada por Jair Bolsonaro.

Vulnerabilizado, o Brasil gastou com importações de adubos e fertilizantes químicos em 2021 praticamente o dobro do ano anterior. Para a Federação Única de Petroleiros (FUP), esse desequilíbrio tem uma explicação: o fechamento das fábricas de fertilizantes da Petrobras pelo desgoverno Bolsonaro.

Ele fechou a Fafen (Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados) no Paraná, não concluiu a fábrica do Mato Grosso do Sul e paralisou atividades em outras duas fábricas, uma em Sergipe e outra na Bahia, para depois arrendá-las”, acusou o petroquímico Gerson Castellano, diretor de Relações Internacionais e Setor Privado da FUP, no Portal da CUT.

Em fevereiro de 2020, numa canetada, Bolsonaro fechou a Fafen, unidade responsável pela produção de 30% do mercado brasileiro de ureia e amônia e 65% do Agente Redutor Líquido Automotivo (ARLA 32). O fim das atividades jogou mais de mil trabalhadores na rua. Agora, a Petrobras tenta vender as instalações da fábrica.

Bolsonaro comemorou a venda da UFN 3, mas os compradores russos têm mais razões para festejar.

Para Marcelo Mello, diretor de fertilizantes da StoneX, a UFN3 é a “joia da coroa” da Petrobras, pela alta capacidade de produção. “É uma tecnologia nova. Para fazer amônia tem que estar muito perto da matéria-prima, que é o gás natural. E ela está em cima do gasoduto Brasil-Bolívia, o que significa zero frete“, explicou no Poder360.

“A gente já alertava sobre isso lá atrás. Em 2020, quando Bolsonaro fechou a Fafen, alertamos que a falta de estratégia do governo colocaria o país em uma situação de dependência total dos insumos”, apontou Castellano.

O dirigente da FUP lembrou que, mesmo com as fábricas em funcionamento, o Brasil ainda importava 50% dos fertilizantes usados no campo. O fato deveria justificar a abertura de mais fábricas – afinal, o país é o segundo maior exportador de alimentos do mundo – e não o fechamento das existentes.

“Estamos ficando dependentes de outros derivados também”, alertou Castellano. “Bolsonaro não tem nenhuma condição de assumir um governo. Eles estão perdidos e não têm planejamento estratégico, seja para fertilizantes, seja para o refino de outros derivados, seja para qualquer coisa. Eles não sabem o que estão fazendo no comando do país.”

Para além disso, a guerra complicou mais a situação. Como ficará a situação do Brasil se houver ainda mais sanções ao governo russo? E mais, os fertilizantes brasileiros têm qualidade superior aos importados, segundo o diretor do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo, Auzélio Alves. Vamos pagar mais caro por um produto de qualidade inferior.

No fim do ano passado, o primeiro-ministro da Rússia, Mikhail Mishustin, anunciou a limitação da exportação de fertilizantes para atender ao mercado interno russo. Essa medida também nos afeta, na medida em que somos cada vez mais dependente do país nesse mercado.

Para resolver o problema, Bolsonaro defendeu mais um absurdo. Em coletiva neste domingo (27), ele declarou ser favorável à exploração de fertilizantes e produção de energia em terras indígenas. Trocando em miúdos, o presidente defendeu mais uma exploração dos povos indígenas para suprir uma falta que ele mesmo tem fortalecido.