Botijão de gás nas alturas não para de fazer vítimas

Aumentos constantes promovidos pelo governo no preço do gás obrigam famílias a cozinhar com álcool, o que causa acidentes e mortes.

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Ultimamente, as manchetes dos jornais parecem nos levar de volta à década de 90. A volta da miséria, a inflação nas alturas e as dificuldades econômicas no país refletem de maneira muito negativa na vida dos brasileiros e brasileiras.

Uma das faces mais tristes dessa regressão são as noticias de pessoas que voltaram a ter acidentes gravíssimos ao cozinhar com álcool, já que não sobra dinheiro para comprar o botijão de gás, que já chega a custar R$ 160 em algumas regiões do País. O reajuste no botijão de 13 kg chega a 59,25% desde que Bolsonaro assumiu a presidência, mesmo com a leve queda no valor do gás anunciada pela Petrobras na última sexta (8).

No último domingo (10), faleceu uma jovem de 26 anos que sofreu graves queimaduras, no litoral de São Paulo, ao cozinhar com álcool combustível. Angélica Rodrigues teve 85% do corpo queimado. E esse, infelizmente, não foi um caso isolado. Em setembro de 2021, Geisa Estefanini, de 32 anos, morreu, em Osasco, pelo mesmo motivo. Em Goiás, uma família inteira foi ferida ao tentar cozinhar com álcool, também no ano passado, e outra mulher teve 50% do corpo queimado, em Aparecida de Goiânia, no começo deste ano. E esses são apenas alguns dos casos que chegaram às manchetes dos jornais.

Essas pessoas recorreram a uma opção nada segura por causa do desespero. Desde que Bolsonaro assumiu a Presidência, em 2019, o botijão de 13kg subiu de R$ 69,24 para R$ 113,54 na primeira semana de abril de 2022, segundo dados da ANP, um aumento de 63,98%. O governo anunciou redução de R$ 3,27 por botijão na última sexta (08). Embora ainda não haja dados da ANP para o período, considerando-se o preço médio de R$ 110,27 (já com a diminuição do valor da semana passada), o aumento durante a gestão Bolsonaro foi de impressionantes 59,25%. O acumulado da inflação entre janeiro de 2019 e março de 2022 foi de 22,06%. Ou seja: o botijão aumentou 2,68 vezes mais do que a inflação do período.

Gás compromete orçamento

Os gastos com gás de cozinha vendido em botijões de 13 kg comprometem 22% do orçamento doméstico destinado a serviços públicos das famílias mais pobres do Brasil, segundo estudo realizado pela consultoria Kantar.

A pesquisa foi feita em 4.915 domicílios brasileiros, em 2021, ainda antes do mega-aumento dos combustíveis, o que leva a crer que a parcela do orçamento comprometida, hoje, é ainda maior. O estudo também mostra que a parcela do orçamento gasta com gás de cozinha aumentou 25% para as famílias de classes D e %, entre 2020 e 2021. Esse aumento foi de 16% nas classes A e B.

Para os mais pobres, pagar o gás de cozinha é o segundo maior gasto com serviços, empatado com água e esgotos e atrás apenas da energia elétrica, que correspondeu a assustadores 51% do orçamento de serviços nessas classes, em 2021.

Consideradas todas as classes sociais, o gás ocupa o terceiro lugar no orçamento dos serviços básicos das famílias, atrás somente das contas de água e luz. Entre 2020 e 2021, segundo o estudo, todas as classes viram crescer a parcela gasta com o gás de cozinha. Diante dessa situação difícil, aliada à dificuldade para comprar alimentos, que também subiram muito de preço,  as famílias têm improvisado fogões, ou à lenha, ou com álcool, aumentando o risco de acidentes.

Governos Lula e Dilma

Durante os oito anos de governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o valor do botijão para o consumidor final não chegou a aumentar nem R$ 10. Em janeiro de 2003, o bujão custava R$ 28,80. Em dezembro de 2010, o valor era de R$ 38,30, um aumento de 32,90%, menor do que a inflação de 2003 a 2010, que ficou em 46,31%. Durante seu governo, Lula manteve o preço do gás congelado nas refinarias, sem nenhum aumento. Foi a primeira vez que isso aconteceu desde 1997

Em plena crise econômica mundial, em 2008, quando Lula era presidente, um salário mínimo comprava 12,57 botijões de gás. O botijão custava R$ 33 e o gasto com esse item correspondia a 7,95% do salário mínimo. Em 2015, na gestão da presidenta Dilma Rousseff, o salário-mínimo comprava 17,51 botijões – um botijão correspondia a 5,71% do salário mínimo, o preço do botijão era R$ 45. No governo Bolsonaro, com o gás atingindo o valor recorde de R$ 130, o salário mínimo compra apenas 9,32 botijões. Quase 11% do salário é destinado a esse item, o dobro do que acontecia em 2015.

Atualmente, as medidas aprovadas pelo Congresso, como o vale-gás de 50% da média do preço do botijão ou os programas estaduais, como no estado de São Paulo, não são suficientes para cobrir os aumentos enquanto o preço dos combustíveis continuar subindo e a inflação seguir reduzindo o poder de compra dos brasileiros, resultados da politica econômica desastrosa de Bolsonaro e Paulo Guedes.  Vale lembrar que uma das bandeiras de campanha de Bolsonaro, em 2018, foi a redução do preço do botijão que, segundo ele, chegaria a R$ 35. Mais uma fake news do presidente.