Com a saída de Milton Ribeiro da Educação, o Brasil vai chegar a cinco ministros diferentes em apenas três anos e três meses, num histórico cheio de trapalhadas e escândalos em uma das pastas mais importantes para o desenvolvimento do país. Ribeiro entregou o cargo nesta segunda-feira (28), uma semana após a revelação, pelo jornal Folha de São Paulo, de uma gravação no qual ele afirma que repassava verbas do ministério para prefeituras indicadas por dois pastores, a pedido do presidente Jair Bolsonaro.
Com a alternância desgovernada, o Brasil contabiliza a triste marca de um novo ministro da Educação a cada nove meses.
O primeiro a ocupar o cargo, durante apenas quatro meses, de janeiro a abril de 2019, foi Ricardo Vélez Rodríguez. Após afirmar que “brasileiros se comportam como canibais”, quando viajam ao exterior, e anunciar que iria mudar os livros de história para comemorar o golpe militar de 1964 como um “regime democrático de força”, ele teve a saída pedida pelos membros militares do governo.
Vélez foi substituído por Abraham Weintraub, que teve entre suas principais realizações o corte profundo nos orçamentos das universidades federais, a defesa que alunos filmassem aulas de professores, como forma de denunciá-los, acusações infundadas contra universidades, vazamentos no Enem e ataques a países estrangeiros, povos indígenas e políticos da oposição. Weintraub ocupou o cargo até junho de 2020, quando foi exonerado após viajar para os Estados Unidos, fugindo de uma investigação por ataques ao Supremo Tribunal Federal.
Em seguida, o governo Bolsonaro indicou Carlos Alberto Decotelli para o cargo e sua nomeação chegou a ser publicada no Diário Oficial. Após a divulgação de que parte de seu currículo seria de cursos que ele não chegou a concluir, ele pediu exoneração antes mesmo de assumir. O ministério ficou sem titular durante cerca de um mês e foi administrado de maneira interina pelo secretário-executivo Antônio Paulo Vogel.
Milton Ribeiro assumiu o cargo em 2020 e, como Weintraub, acumulou problemas administrativos, como provas do Enem com as participações mais baixas em anos e novos cortes nos orçamentos das federais, além de declarações absurdas, como dizer que alunos com deficiência atrapalham o desempenho dos colegas em sala de aula, que universidades deveriam ser para poucos e que universidades estimulam “sexo sem limites”.
Após a saída de Ribeiro, um dos ministérios mais importantes do país fica novamente à deriva.
A educação nos governos Lula
A situação atual é completamente oposta à que o Brasil viveu de 2003 a 2010. Os oito anos do governo Lula foi o período em que as universidades federais e institutos federais de ensino foram valorizados e ampliados, que o Enem se tornou a principal porta de entrada para o ensino superior e que programas como o Prouni colocaram milhões de estudantes nas universidades. Três ministros lideraram a pasta no período: Cristovam Buarque, Tarso Genro e Fernando Haddad, que em 6 anos de gestão foi considerado o melhor ministro da Educação que o país já teve.