Nem mesmo a chuva que caia na manhã desta quarta-feira (11/08) impediu que milhares de pessoas se reunissem no Largo de São Francisco, região central da capital paulista, para acompanhar, por meio de telões, a leitura da “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado democrático de Direito”, documento organizado por juristas da Faculdade de Direito da Universidade Estadual de São Paulo (USP). Até o início do evento, a carta de 2022 já tinha reunido mais de 950 mil assinaturas.
No Pátio das Arcadas, dentro da universidade, 1.200 convidados, entre eles jornalistas de pelo menos 200 veículos nacionais e internacionais, intelectuais, juristas, sindicalistas, artistas, professores, estudantes e empresários presenciaram o ato pró-democracia, que teve como inspiração o manifesto de 1977, elaborado no mesmo local e lido em 11 de agosto daquele ano.
Se há 45 anos a motivação foi derrubar a ditadura militar, denunciando a ilegitimidade do regime, a edição atual busca frear arroubos golpistas, convocando brasileiros e brasileiras a “ficarem alertas na defesa da democracia e do respeito ao resultado das eleições”.
A carta diz ainda que “no Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições”.
Entre os oradores do evento, estavam Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, Telma Aparecida, representando a CUT (Central Única dos Trabalhadores), Beatriz Lourenço do Nascimento, coordenadora da Uneafro Brasil e membro da Coalizão Negra por Direitos, Horácio Lafer Piva, presidente do conselho deliberativo da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), Francisco Canindé, da União Geral dos Trabalhadores, Patrícia Vanzolini, presidente da seccional de São Paulo da Ordem de Advogados do Brasil (OAB), Raimundo Bonfim, coordenador nacional da Central de Movimentos Populares e Frente Brasil Popular, Miguel Torres, presidente da Força Sindical, Sindicato dos Metalúrgicos de SP e Mogi das Cruzes e CNTM, e Bruna Brelaz, estudante de direito e presidente da UNE.
Oscar Vilhena Vieira, advogado e organizador do ato, disse que todos os segmentos da sociedade estavam representados pelo movimento e destacou a presença das centrais sindicais. “Nesta sala, temos hoje cerca de 800 pessoas. Mas estão aqui representados nada menos que 60 milhões de trabalhadores, pelas centrais sindicais que aderiram a esse manifesto”, discursou.
Assinaram o manifesto os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, a ex-presidenta Dilma Rousseff, Chico Buarque, Fernanda Montenegro, Gal Costa, Maria Bethânia e Luís Fernando Veríssimo. Segundo a organização, ao menos 12 ex-ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) também foram signatários: Carlos Ayres Britto, Carlos Velloso, Celso de Mello, Cezar Peluso, Ellen Gracie, Eros Grau, Francisco Rezek, Joaquim Barbosa, Marco Aurélio Mello, Nelson Jobim, Sepúlveda Pertence e Sydney Sanches.
No Twitter, o ex-presidente Lula disse que “defender a democracia é defender o direito a uma alimentação de qualidade, a um bom emprego, salário justo, acesso à saúde e educação. Aquilo que o povo brasileiro deveria ter. Nosso país era soberano e respeitado. Precisamos, juntos, recuperá-lo”.
Dois atos
A manifestação foi dividida em dois momentos. Primeiro, no Salão Nobre da universidade, o advogado José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça, conhecido por defender presos políticos na ditadura, leu o Manifesto em Defesa da Democracia e da Justiça, articulado pela Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) e que teve a adesão de 107 entidades.
Na sequência, no Pátio, as professoras Eunice de Jesus Prudente, Maria Paula Dallari Bucci e Ana Elisa Liberatore Bechara, da Faculdade de Direito da USP, e o jurista Flavio Flores da Cunha Bierrenbach, ex-ministro do Superior Tribunal Militar (STM), leram a carta aos brasileiros. Após a leitura da carta, a plateia reagiu aos gritos de “Fora, Bolsonaro”.
“Os brasileiros deram as mãos hoje para defender a democracia. É um 11 de agosto histórico. Como em 1977, estamos unidos pelo que mais importa. As pessoas passam, mas as instituições ficam. Vamos juntos reconstruir o Brasil”, comentou o ex-governador Geraldo Alckmin.
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