Em discurso no Parlamento Europeu, durante a Conferência de Alto Nível da América Latina, o ex-presidente Luíz Inácio Lula da Silva disse acreditar que a humanidade é capaz de construir um mundo melhor e que é possível transformar novamente o Brasil com políticas de inclusão social. A conferência, promovida pelo bloco social democrata no Parlamento, foi realizada nesta segunda-feira (15), em Bruxelas.
“O Brasil voltará a ser uma força positiva no mundo. Voltaremos a ser criadores de políticas públicas capazes de mudar para melhor o nosso planeta. Acreditamos num mundo multipolar”, disse o ex-presidente aos parlamentares e líderes europeus.
Lula contou que aprendeu a ser otimista vendo, no Brasil, o quanto um povo é capaz de construir, quando existe força de vontade e geração de oportunidades. Para ele, o Brasil tem jeito apesar do projeto de destruição colocado em prática por extremistas de direita. “Aonde quer que eu vá, faço questão de dizer: o Brasil tem jeito, porque ele é muito maior do que qualquer um que tente destruí-lo”, afirmou Lula, que foi aplaudido de pé, após discursar.
Em sua fala, Lula colocou em paralelo dois países totalmente diferentes: o Brasil de um governo progressista, que tirou o país do Mapa da Fome da ONU, gerou mais 20 milhões de emprego, multiplicou as oportunidades na Educação, cumpria metas de crescimento com sustentabilidade e inspirava o mundo com políticas públicas inovadoras; e, de outro lado, o Brasil atual, de desmonte das políticas sociais, ausência do Estado, promovendo miséria, fome e desesperança. “Não é possível sermos felizes em meio a tamanha desigualdade”, afirmou.
O ex-presidente lembrou que cerca de 116 milhões de brasileiros vivem hoje em situação de insegurança alimentar e cerca de 19 milhões, quase duas vezes a população da Bélgica, chegam a passar um dia inteiro sem ter o que comer, apesar de o Brasil ser o terceiro maior produtor mundial de alimentos.
Lula também lembrou que as populações negras e indígenas sofrem ataques constantes, enquanto avança a destruição do meio ambiente. “Sei que o Brasil tem jeito porque num passado muito recente nós fomos capazes de reconstruir e transformar o país, e temos plena capacidade de reconstruí-lo outra vez”.
O ex-presidente disse que uma das maiores alegrias que teve foi percorrer o mundo, a convite dos mais diferentes países, para falar dos extraordinários avanços econômicos e sociais em seu governo. O Brasil ocupou o posto de 6ª maior economia mundial e era um exemplo para o mundo de como superar a extrema pobreza com total respeito à democracia, em um curto espaço de tempo.
“Vocês podem, portanto, imaginar o quanto dói participar de grandes eventos internacionais como este e ter que declarar o quanto o Brasil andou para trás desde o golpe de 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff e a chegada da extrema direita ao poder”, afirmou Lula.
Para Lula, felizmente a “era de trevas”, que marcou a ascensão de governos de extrema direita ao poder em vários cantos do mundo, está chegando ao fim.
O ex-presidente lembrou que partidos e candidatos progressistas vêm conquistando importantes vitórias em vários países, o que deve ocorrer também no Brasil. Ele se disse otimista para as eleições do próximo ano, quando o PT terá candidato à presidência.
Lula disse que o Brasil poderá voltar a ter uma política externa altiva e ativa. “Não queremos uma América Latina voltada exclusivamente para o agronegócio e a mineração. Temos total capacidade de sermos também países industrializados, tecnologicamente avançados”, disse.
O ex-presidente chamou atenção para o potencial e os compromissos do país na questão ambiental. Ele lembrou que a produção de alimentos não precisa desmatar a Amazônia e disse que as atividades criminosas dos que destroem o meio ambiente devem ser punidas.
“O povo brasileiro não quer que essa destruição continue. Os brasileiros querem a Amazônia viva e de pé. E para isso, é necessário construir alternativas sociais e de desenvolvimento, com ciência, tecnologia e o protagonismo e respeito aos povos que vivem na floresta, seus saberes e sua cultura”.
A tragédia da pandemia no Brasil
Ao falar da pandemia, Lula lamentou as mais de 610 mil mortes, muitas delas evitáveis, caso houvesse por parte do atual governo o interesse em combater com seriedade o coronavírus. “Não chegamos a essa trágica estatística por alguma fatalidade, e sim pela atitude criminosa do atual governo”, afirmou
“O Brasil vive hoje uma tragédia social, econômica, ambiental e sanitária sem precedentes. Temos 2,7 por cento da população mundial. No entanto, respondemos por 12 por cento das mortes por Covid registradas no mundo”, completou .
Ao citar os erros do governo na condução da pandemia, Lula lembrou que o atual presidente ironizou a gravidade da doença, zombou dos mortos, atrasou a compra das vacinas, fez propaganda enganosa e distribuiu medicamentos comprovadamente ineficazes contra o vírus, deixou faltar oxigênio em hospitais, incentivou aglomerações e ajudou a espalhar fake news contra as vacinas.
Leia a íntegra do discurso e veja a participação de Lula na Reunião de Alto Nível da América Latina no Parlamento Europeu: