Nada mais justo do que a luta do povo baiano ter como símbolos três mulheres. Para elas – e para tantas outras guerreiras que estiveram na linha de frente do 2 de julho – o lugar da mulher era onde ela quisesse estar na luta pela liberdade. Maria Quitéria, Maria Felipa e Joana Angélica representam não só as mulheres baianas que lutaram pela independência do Brasil. Elas representam também as mulheres brasileiras que hoje lutam o dia a dia de uma guerra injusta: recebendo menores salários que os homens em igual função, expostas ao machismo, ao feminicídio, aos estupros e outras formas de violência.
Lula em Salvador
Na Bahia, uma das festas que quase se iguala ao Carnaval em importância, alegria e tamanho é o 2 de julho, data que marca a expulsão das tropas portuguesas e a independência do estado em 1823. Ao contrário do que muitos acreditam, a Independência não foi conquistada pacificamente após o grito de Dom Pedro 1º às margens plácidas do rio Ipiranga. Foram tempos de luta aguerrida e que até hoje marcam nossas vidas. Por isso, são celebradas não com pompa militarista, mas em festejos de rua em que a alegria dá o tom da liberdade.
Em 2 de julho de 1823, a tropa libertadora brasileira que expulsou os portugueses do estado chegou a Salvador após uma guerra que durou um ano e cinco meses e envolveu entre 10 e 15 mil soldados de cada lado. É este o motivo dos desfiles populares e festas nas casas de Salvador que duram o dia todo, e que hoje recebem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para um belo ato por soberania.
Eu acho que seria importante que o povo brasileiro conhecesse o que é o 2 de Julho na Bahia. Aqui, a Independência foi feita com sangue, com morte de negros, indígenas, padres, freiras e o povo trabalhador que lutou para expulsar os portugueses. Então é isso que você vê, não é um desfile militar, é um desfile do povo, isso que significa independência. Viva a Bahia, viva o povo brasileiro
Lula em Salvador
É essa garra e força do povo baiano que Lula celebra hoje em Salvador. “Soberania não é apenas o país ser forte e ter uma independência. Não. Soberania é o povo comer, é o povo estudar, é o povo trabalhar, é o povo ter saúde. Sabe, é uma coisa mais nobre.”
Nesta história, a resiliência e a força das mulheres brasileiras foram fundamentais para a vitória. Costureiras, esposas, mães, filhas e negras trabalhavam para libertar seus maridos e filhos. Outras, foram ao front defender a Bahia dos ataques de portugueses. Delas, três se destacam e entraram para a história como heroínas patriotas. Conheça suas histórias:
É mais do que urgente construirmos a igualdade de direitos entre mulheres e homens. Salários iguais para trabalhos iguais, em todas as profissões. E por mais mulheres participando ativamente da política, da pesquisa científica e da gestão pública.
Lula em Salvador
Conhecida pela altura e a força física, a pescadora e marisqueira liderou um grupo de 200 pessoas, incluindo outras mulheres negras e indígenas, em batalhas contra os portugueses que atacavam a ilha de Itaparica, no litoral baiano.
Munidas de facas de cortar baleias, peixeiras e galhos com espinhos, as mulheres lideradas por Maria Felipa aliavam técnicas de sedução a táticas de guerrilha contra os portugueses. em um de seus maiores feitos, queimaram 40 embarcações que tentavam dali se aproximar.
Mesmo após a vitória, Maria Felipa (ou Maria Filipa, a depender da fonte) tornou-se uma liderança popular e um símbolo da participação feminina nos momentos mais importantes da história brasileira.
Sob a alcunha de “soldado Medeiros”, Maria Quitéria de Jesus foi a primeira mulher a integrar as Forças Armadas, condecorada como heroína por Dom Pedro 1º e símbolo de lutas femininas dos anos porvir, como na luta pela anistia durante a Ditadura Militar.
De suas biografias, sabe-se que a jovem era pouco afeita aos trabalhos domésticos normalmente designados às mulheres da época. Gostava de montar a cavalo e possuía uma habilidade especial no manejo de armas de caça, como espingardas.
Ao saber da formação de uma Junta Provisória que buscava homens para participar da luta armada, pegou a roupa de seu cunhado, cortou os cabelos e se apresentou ao batalhão passando-se por homem. Assim, em 1823, comandou um grupo de mulheres civis contra os portugueses no litoral do Recôncavo, o que foi essencial não só para a independência baiana, mas também para alçá-la à categoria de heroína da pátria.
De todos os episódios que marcaram o período, um dos mais marcantes foi o ataque de soldados contra o convento Nossa Senhora da Conceição da Lapa. Enquanto tentava proteger o local da invasão, a freira Joana Angélica morreu por golpe de baioneta num ato de bravura reconhecido pela Igreja Católica.
Após a tomada do Forte de São Pedro, soldados portugueses perseguiam brasileiros até o convento, onde achavam que eles teriam se escondido. Entre eles e seu objetivo, estava a valente freira, que colocou-se diante das tropas para impedir que homens invadissem a clausura.
Com a intenção de proteger as noviças e outras irmãs da invasão, acabou tornando-se a primeira heroína da independência.
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