A ligação entre Jair Bolsonaro e quilombolas vai além das declarações racistas e preconceituosas que o candidato do PSL insiste em tornar públicas. O caso é de família. O empresário Theodoro da Silva Konesuk, cunhado de Bolsonaro, invadiu terras quilombolas e as utilizava para criação de gado.
Em abril de 2017, no clube Hebraica, no Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro fez declarações racistas ao dizer que quilombolas “não servem nem para procriar” e que, por ele, “não vai ter um centímetro demarcado para terra indígena ou quilombola”. Além disso, no programa do Datena, na TV Band, ele acrescentou: “Eles não fazem nada. É um desperdício de recursos, máquinas paradas”. No clube Hebraica, Bolsonaro ainda afirmou: “Eu fui num quilombola [sic] em Eldorado paulista e o afrodescendente mais leve de lá pesava sete arrobas”. Justamente na região de Eldorado (SP), Theodoro Konesuk, o cunhado de Bolsonaro, foi condenado por invadir terras quilombolas. Coincidência, não? Na verdade, há sérias dúvidas sobre se Bolsonaro realmente esteve alguma vez no quilombo de Eldorado.
Há cinco anos, o Instituto de Terras de São Paulo (Itesp) abriu um processo contra Konesuk por invadir terras quilombolas nos municípios de Eldorado e Iporanga para realizar pecuária. Em 10 de setembro de 2018 ele foi condenado a devolver uma área que pertencia aos remanescentes do quilombo Galvão, em Iporanga.
“A documentação comprova a legitimidade da parte autora e de sua pretensão”, decidiu a juíza Gabriela de Oliveira Thomaze, e também que “se trata de área devoluta pertencente ao Estado, as quais foram legitimamente outorgadas à Associação dos Remanescentes de Quilombo da Barra de São Pedro do Bairro Galvão”.
Homens armados incendiaram as lavouras do quilombo
Depois da condenação, em alguns dias, lavradores quilombolas dos povoados de Galvão e São Pedro começaram a plantar bananas e cercar a área com arames para reocupar as terras griladas. Isso gerou descontrole em Konesuk, que se recusou a cumprir a decisão judicial e mandou homens armados para incendiar as lavouras e derrubar os arames, destruindo todo o trabalho dos camponeses.
Em entrevista ao site De Olho nos Ruralistas, a líder quilombola Jovita Frutini França disse que o empresário não vai desistir e continuará desafiando a decisão judicial. “Ele não desiste, não desiste. Agora, eu não aguento mais lutar por isso”.
Há suspeita de que o cunhado de Bolsonaro grila terras pertencentes aos povoados quilombolas de Galvão e Barra de São Pedro desde 2013, no interior do estado de São Paulo.
As declarações racistas do candidato Jair Bolsonaro em abril de 2017 falavam, inclusive, dessas comunidades quilombolas do Vale do Ribeira.
Como bem sabemos, a Primeira Turma do STF livrou Bolsonaro das denúncias de racismo com a desculpa de que as declarações estavam protegidas pela imunidade parlamentar.
Todo esse cenário está envolto em uma intensificação da perseguição aos setores oprimidos que Bolsonaro defende para privilegiar grileiros e grandes proprietários rurais.
Em seu plano de governo, o candidato Fernando Haddad deixa evidente sua posição: “O combate ao racismo e ao machismo, que têm em Bolsonaro um de seus maiores porta-vozes, é estratégico e necessário na construção da democracia de alta intensidade pela qual lutamos. […] O governo Haddad promoverá a dignidade humana, o viver bem e a produção nos territórios camponeses, e o direito à terra, ao território e à cultura dos povos do campo, das florestas e das águas. Promoveremos a reforma agrária, a titulação das terras quilombolas e a demarcação das áreas indígenas, bem como os direitos dos ribeirinhos, extrativistas, pescadores artesanais, aldeados, entre outros. Além disso, enfrentaremos a violência no campo, articulando os órgãos de Estado, os governos estaduais e municipais e a sociedade civil para combater a impunidade de mandantes e executores e para proteger a vida dos defensores de direitos humanos”.
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