Da fila do posto à fila do osso: retratos do Brasil de Bolsonaro

Aumento no preço da gasolina, Diesel e gás de cozinha anunciado pela Petrobras é o segundo do ano e puxa preço de alimentos e transporte público

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Nesta quinta-feira (10), a Petrobras anunciou novo reajuste de 18% no preço da gasolina (não, você não leu errado. DEZOITO PORCENTO), de 16% do gás de cozinha e de 25% no preço do diesel (que já subiu 40% no ano passado). É o segundo aumento neste ano e estamos no começo do terceiro mês de 2022. O brasileiro vai amargar o seu sextou com um megaumento no preço dos combustíveis.

O novo aumento de combustíveis traz impactos negativos para a inflação, que já está nas alturas, e interfere diretamente no preço dos alimentos, das passagens, de quem depende dos aplicativos de locomoção e também do transporte público. Lembremos que o transporte de praticamente tudo no Brasil, até mesmo da própria gasolina, está atrelado ao Diesel. O aumento do Diesel é o aumento de todos os alimentos. Resumindo, está dado o caos criado por Bolsonaro e Paulo Guedes – em alguns estados do Brasil, o litro da gasolina já bateu R$ 10.


Economistas ouvidos pela Folha preveem que o aumento da dívida pública (por causa do cenário colocado acima), combinado ao baixo crescimento neste ano, pode acarretar em mais pressão sobre o câmbio, aumentando o valor do dólar no futuro – e, consequentemente, o preço dos combustíveis, devido à política de dolarização da Petrobras. É o ciclo sem fim.

Mas esse papo de câmbio e projeções para o futuro, embora seja super importante, é menos palpável do que o estrago que as famílias de baixa renda devem sentir no dia-a-dia, já que dependem do transporte público e da comida que vem de casa. Os alimentos já responderam por mais da metade da inflação do IPC-Fipe de janeiro e fevereiro. Comida e o botijão de gás são itens de consumo básico e pesam mais no orçamento das famílias de menor renda.

Hoje, o brasileiro que recebe um salário mínimo compromete cerca de 55,20% de sua renda para comprar uma cesta básica. Essa parcela é de 21,65% quando falamos de combustíveis. Ou seja, as famílias mais pobres estão comprometendo bem mais da metade do seu orçamento com alimentação e gasolina. Isso sem falar nas demais contas, como aluguel, vestimenta, água, luz…


E por falar em luz, outro possível impacto é na conta de energia elétrica, que deve ficar mais cara. Com o período de seca se aproximando, as termoelétricas movidas a diesel devem ser acionadas, gerando encarecimento na conta de luz.
A estimativa é de que esse aumento acarrete em um impacto de 1 a 1,5 ponto percentual na inflação oficial do bimestre de março-abril. O economista André Braz, responsável pelos índices de preços da FGV, estima que o IPCA de março pode chegar a 1,5%, se o aumento dos combustíveis for inteiramente repassado (0,9 ponto percentual) aos consumidores, a partir do dia 11. Confirmado, será o maior resultado para o mês desde os 1,55% de 1995, ano seguinte ao Plano Real.

Enquanto 19 milhões de brasileiros passam fome e 116 milhões vivem em situação de insegurança alimentar (números que devem piorar muito com todo o cenário que vem se desenhando neste ano), o presidente do Brasil gastou R$ 1,8 milhão de dinheiro público para festejar na virada de ano. No ano passado, foram R$ 2,4 milhões de gastos aos cofres públicos. Ao todo, você pagou R$ 8,3 milhões para o presidente se divertir em 3 anos de governo. Difícil de engolir né? Bolsonaro é o presidente das filas: fila de osso e de posto pro povo.

É bom saber também que a política de dolarização dos preços dos combustíveis (produzimos em real e compramos em dólar) mantida pelo governo até agora tem penalizado o povo (que é o verdadeiro dono da Petrobras) mas rendido muito dinheiro aos acionistas internacionais e aos diretores da companhia. Ao mesmo tempo em que anuncia o aumento do preço da gasolina, a estatal já separou R$ 13,1 milhões em bônus para os diretores, para este ano. No ano passado, o bônus do presidente da Petrobras foi de R$ 1,45 milhão.

Nessa equação, as desigualdades seguem se aprofundando frente à total inoperância de quem foi eleito para fazer alguma coisa. Mesmo reconhecendo, após três longos anos, que a política de dolarização está insustentável para os brasileiros, Bolsonaro se recusa a intervir.

Em entrevistas, Lula tem defendido o resgate da soberania nacional no que diz respeito à Petrobras. “A Petrobras era exportadora de gasolina. Eles destruíram a Petrobras por conta da Lava-Jato e a Petrobras tem hoje 400 empresas importando gasolina dos Estados Unidos e nós pagando o preço em dólar. Somos autossuficientes com o pré-sal. Qual é a explicação?”, indagou. O ex-presidente tem dito, ainda, que em um eventual governo vai mudar a política de preços da estatal.