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Discurso de Lula na comemoração dos 35 anos do PT

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou na noite de ontem (6) da comemoração dos 35 anos do Partido dos Trabalhadores. Ao lado da presidenta Dilma Rousseff, do convidado de honra da atividade, Pepe Mujica, de parlamentares, lideranças e da militância, Lula falou da fundação do partido, das transformações sociais ocorridas nos últimos 12 anos e de ações que o PT ainda deve adotar. Leia o discurso feito nesta sexta-feira (6) no Minascentro, em Belo Horizonte:

Querida companheira Dilma Rousseff, presidenta da República do
nosso querido país; querido Pepe Mujica, presidente da República do Uruguai;
querido companheiro Rui Falcão, presidente nacional do Partido dos
Trabalhadores; querido companheiro Fernando Pimentel, governador de Minas
Gerais, em nome de quem cumprimento todos os demais governadores aqui
presentes; querido companheiro Humberto, líder do PT no Senado, em nome de quem
cumprimento todos os deputados, vereadores e senadores que estão aqui
presentes; querido companheiro Aldo Rebelo, companheiro do PCdoB, em nome de quem
cumprimento todos os companheiros convidados aqui presentes; companheiros
ministros, companheiras ministras, companheiros militantes do nosso querido
partido.

Eu, presidenta Dilma, não ouso, por
hábito, ler discurso no encontro do PT. Mas eu, ontem, fiquei indignado. Tem
dia que a gente fica mais indignado do que outros dias. E eu então tomei muito
cuidado pra não tentar repassar aqui, nessa festa de 35 anos, a indignação que
eu fiquei ontem. Porque seria muito mais simples a Polícia Federal ter convidado
nosso tesoureiro pra se apresentar, do que ir buscá-lo em casa (aplausos). Seria muito
mais simples dizer que eles estão repetindo o mesmo ritual que eu vejo nesse
Brasil desde 2005, quando começou as denúncias que eles chamaram de mensalão.
Toda quinta-feira – e na tua campanha também e na minha campanha também –, toda
quinta-feira começa a sair boato, na sexta-feira sai a denúncia, é publicado
pelas revistas e sai na televisão, no sábado continua saindo na televisão, no
domingo massacre pela imprensa e na segunda-feira começa um outro assunto pra,
na outra semana, começar tudo outra vez.

Então é um ritual, um ritual que está se
repetindo. E na campanha a companheira Dilma foi vítima disso como poucas vezes
eu vi alguém ser. E a utilização pela mídia não é o critério da informação,
porque nós achamos que tudo que acontecer no país tem que ser informado. Mas o
critério apontado pela mídia brasileira é o da criminalização do Partido dos
Trabalhadores desde que nós chegamos (inaudível pelos aplausos). Eles trabalham com a
convicção de que é preciso criminalizar o nosso partido, não importa que seja
verdade ou não verdade. O que interessa é a construção da (inaudível) pra se
construir uma narrativa.

Então eu pensei: se eu for falar tudo que
eu penso, vai ser muito ruim, porque vai parecer que eu estou aqui falando com
o fígado e eu não quero prejudicar o meu fígado aos 69 anos de idade (aplausos). Eu quero… Eu
quero corrigir, porque acho que eu falei Aldo Rabelo. É Renato Rabelo,
presidente do PCdoB. Renato, desculpa. É que você tá tão jovem que assim tá
parecendo o Aldo Rabelo.

Companheiros e companheiras:

No dia 10 de fevereiro de 1980, algumas
centenas de brasileiros e de brasileiras começaram a escrever uma das mais
belas páginas da história política do nosso País.

  Naquele dia,
companheiros vindos de todas as regiões, trabalhadores da cidade e do campo,
intelectuais, estudantes, religiosos, militantes de esquerda, militantes
sociais, nos reunimos para debater e aprovar o Manifesto da Fundação do Partido
dos Trabalhadores.

  Era um tempo em que
lutávamos por Democracia, enfrentando uma repressão que recaía de forma
especialmente dura sobre os trabalhadores e nossos aliados. Um tempo em que
estávamos conquistando, na prática e no aprendizado das lutas cotidianas, o
direito de livre organização sindical e política da classe trabalhadora. Neste
ambiente de lutas, com os pés firmes no chão e grandes sonhos na cabeça, nasceu
o nosso querido partido.

  Quero recordar as
primeiras palavras do nosso Manifesto de 1980. Quem sabe muitos de vocês não
eram nascidos ainda. Aqui tem alguns que participaram deste manifesto. Dizia o
manifesto, abre aspas:

“O Partido dos Trabalhadores surge da necessidade sentida por
milhões de brasileiros de intervir na vida social e política do país para
transformá-la.

A mais importante lição que o trabalhador brasileiro aprendeu em
suas lutas é a de que a democracia é uma conquista que, finalmente, ou se
constrói pelas suas mãos ou ela não virá.

As grandes maiorias que constroem a riqueza da nação querem falar
por si próprias. Não esperam mais que a conquista dos seus interesses
econômicos, sociais e políticos venham das elites e das classes dominantes.

O PT nasce da decisão dos explorados de lutar contra um sistema
econômico e político que não pode resolver os seus problemas, pois só existe
para beneficiar uma minoria de privilegiados.”

Fecha aspas (aplausos).

  É importante recordar essas palavras, de 35
anos atrás e muitas lutas depois, para fixar duas características essenciais do
nosso partido: O partido nasceu para
mudar e o PT nasceu para ser diferente.

  É isso que explica a nossa trajetória
desde a fundação, por um punhado de idealistas comprometidos com as causas
populares, até os dias de hoje, quando estamos governando este país que se
tornou uma das maiores democracias e uma das maiores economias do mundo.

  Quantos partidos políticos chegaram aos 35
anos de existência com uma história de lutas e conquistas tão rica como a do nosso
partido?

  E quantos partidos no Brasil, tendo
conquistado o governo, conseguiram transformar de maneira tão intensa a
realidade social, econômica e política em nosso país? Certamente, nenhum como o
PT.

  Podemos falar com muito orgulho do nosso
partido, porque fizemos e continuamos fazendo história neste país.

Companheiros e companheiras:

  É muito comum hoje… é muito comum hoje
em dia as pessoas falarem em “nova política”, como se estivessem anunciando a
invenção da roda.

  Por isso, quero lembrar outra passagem do
nosso Manifesto de 35 anos atrás. Abre aspas:

  “O PT quer atuar não
apenas nos momentos das eleições, mas, principalmente, no dia-a-dia de todos os
trabalhadores, pois só assim será possível construir uma nova forma de
democracia, cujas raízes estejam nas organizações de base da sociedade e cujas
decisões sejam sempre tomadas pela maioria das pessoas.” (aplausos)

   Quem foi capaz de construir um partido de
baixo pra cima, organizando núcleos nas fábricas, nos bairros e nas escolas,
sabe muito bem o que foi fazer uma nova política neste país. (aplausos) 

  Desde a primeira prefeitura que elegemos, o PT introduziu uma
nova forma de governar, com a participação direta da população nas decisões.

  O PT criou o Orçamento Participativo e
abriu novos caminhos para a Democracia, por meio dos conselhos e das conferências
para debater e efetivar políticas públicas.  

  A sociedade apropriou-se dessas práticas, aprendeu
e cresceu com elas, qualificando sua relação com o poder público em todos os
níveis. 

  Nova política foi combinar a atuação dos nossos deputados e
vereadores com a presença nas ruas, nas greves e nas lutas populares.

  O PT participou da organização de
movimentos sociais autônomos, que dinamizaram a Democracia e o processo
político em nosso país.

  Estivemos na linha de frente do movimento
pelas Diretas Já e pela plena redemocratização do país. Levamos à Assembleia
Constituinte as propostas mais avançadas do campo popular e democrático.

  Elegemos prefeitos em grandes cidades,
elegemos governadores, aprendemos a construir alianças, ampliando o diálogo com
os diversos setores da sociedade.

  Disputamos três eleições presidenciais
antes de alcançar a primeira vitória, acumulando ensinamentos e ampliando nossa
articulação social em cada processo eleitoral.

  Foi a prática coerente dessa nova
política, nas instituições e nas ruas, que consolidou o caminho para a vitória
eleitoral do PT em 2002, quando o país escolheu o PT para governar.

  Nova política foi acabar com a fome neste país.
Nova política foi garantir renda para a população e dinamizar (aplausos)… Nova
política foi garantir renda para a população e dinamizar o mercado interno,
abrindo uma era de desenvolvimento sustentado e inclusão social. O que fizemos
nesses 12 anos honra a memória daqueles que viram, na criação do PT, a
oportunidade histórica do povo brasileiro para tomar o destino em suas mãos.

  Companheiros da qualidade de Sérgio
Buarque de Holanda, companheiros da qualidade de Apolônio de Carvalho (aplausos), companheiros
da qualidade de Mário Pedrosa (aplausos), companheiros da qualidade de Lélia Abramo (aplausos), companheiros
da qualidade de Henfil, da dona Helena Grecco (aplausos), companheiros da qualidade de Luiz
Gushiken (aplausos),
de Marcelo Déda (aplausos),
entre tantos outros que sonharam conosco desde o início da jornada.

  O PT é motivo de orgulho e deve ser cada
vez mais para cada militante das primeiras e das novas gerações. Cada um de nós
pode andar de cabeça erguida e afirmar: nós construímos, contribuímos para
mudar este país. Participamos, como povo brasileiro, da maior transformação
política, social e econômica da história do país.

  A história do PT é o nosso maior patrimônio,
e essa história ninguém, mesmo aqueles que mentem contra nós, não podem tirar,
porque ela (inaudível
pelos aplausos).

Companheiros e companheiras:

 

  Há pouco mais de 12 anos o PT começou a
enfrentar seu maior desafio, cumprindo o destino de um partido que nasceu para
mudar a realidade.

  Governar o Brasil, com as complexidades de
um país historicamente marcado pela desigualdade, foi a missão que a sociedade
nos confiou, em um voto carregado de esperança.

  A direção a seguir estava apontada, mais
uma vez, companheiro Rui Falcão, em nosso manifesto de 35 anos atrás. Dizia,
abre aspas:

  “O PT pretende chegar ao
governo e à direção do Estado para realizar uma política democrática do ponto
de vista dos trabalhadores, tanto no plano econômico quanto no plano social.”
Fecha aspas.

  Seguimos essa
orientação desde o primeiro dia de governo (aplausos). Houve, companheira Dilma, não se
preocupe, não se impressione, houve medidas duras para corrigir os muitos
problemas que herdamos. E você estava conosco já em 2003, tomando essas medidas
duras. Houve medidas amargas, quando foi necessário, para garantir os avanços.
Foi preciso reavaliar expectativas para lidar corretamente com a realidade do país
e as responsabilidades do governo. Mas nunca deixou de haver diálogo
democrático com todos os setores. Nunca um governo se abriu tanto à sociedade
para receber propostas e reivindicações do povo brasileiro (aplausos).

  E nunca – jamais
– traímos o compromisso com as camadas mais amplas da população, as que sempre
foram relegadas no curso da história, aqueles ignorantes que o (inaudível) da sociologia
tratou assim (inaudível
pelos aplausos).

  Nesses 12
anos o povo brasileiro participou conosco do mais amplo processo de inclusão
social deste país, no mais duradouro período de crescimento econômico com
estabilidade.

  Nós temos de
nos orgulhar de um governo que tirou, em 12 anos, 36 milhões de pessoas da
extrema pobreza, que criou mais de 21 milhões de empregos com carteira assinada
e que conseguiu incluir mais de 40 milhões na classe média.

  Temos de nos
orgulhar de um governo em que, em 12 anos, o salário mínimo cresceu 74% em
termos reais e que a renda das famílias mais pobres cresceu 66% (aplausos). De um governo
que herdou um desemprego… Temos que nos orgulhar de um governo que herdou um
desemprego de 12 e meio por cento ao ano. E a presidenta Dilma nos entregou, no
final de 2014, o menor índice de desemprego da história do nosso país: 4,8% (aplausos).

  Temos de nos
orgulhar de um governo em que o país dobrou a produção agrícola, garantiu
comida farta na mesa do trabalhador e tornou-se um dos maiores exportadores
mundiais de alimentos.

  Um governo que
abriu a porta das universidades para os filhos dos trabalhadores, para os
negros, para os índios, para os que jamais tiveram oportunidade.

Esses 12 anos de grandes
mudanças marcarão para sempre a história do Brasil. Nós não podemos nos
acomodar. Temos de compreender que foram os primeiros passos apenas de uma
jornada que vai nos levar muito longe e que é preciso avançar para consolidar
as conquistas.

Queridos
companheiros e querida companheira Dilma:

Eu
lembro que quando um povo que não gosta de nós chegou ao poder, a primeira
coisa que eles falaram é que era preciso acabar com as coisas que Getúlio tinha
feito no Brasil. A primeira coisa que disseram: “Precisamos acabar com as
coisas do Getúlio, esquecer Getúlio Vargas”. Eles estão doidos pra nos
esquecer, Dilma, eles estão doidos (aplausos).
Acontece que nós tivemos uma disputa com eles dia 26 de outubro e, ao invés do
povo querer nos esquecer, o povo preferiu eleger você presidenta da República (aplausos).

  Companheiros, uma coisa que eu não
posso…  uma coisa que eu não posso
deixar de falar pra vocês, porque eu converso com muita gente e às vezes eu
vejo as pessoas fazendo críticas a alguma coisa, de algumas medidas que a
companheira Dilma tomou logo no primeiro dia do mandato.

Eu
lembro que, quando eu tive que tomar as medidas duras, quem tava comigo no
governo – aqui tem muitos companheiros – ouvia todo dia eu dizer:
“Companheiros, companheiros, olha, governar é como plantar uma jabuticaba. Ela
demora pra dar, mas se a gente colocar água todo dia, ela vai ser forte” (aplausos).

E as pessoas, as pessoas não se dão conta. E eu aprendi essa lição: não tem
nada pior na minha vida do que fazer a quimioterapia que eu fiz. Depois não
teve nada mais grave na minha vida do que 33 sessões de radioterapia na minha
garganta. Vocês não imaginam o que é. E eu tomava, era disciplinado. E fazia
porque era necessário pra eu poder tá aqui, bonitão, falando com vocês hoje (aplausos).

  A companheira
Dilma, a companheira Dilma, ela teve que tomar algumas medidas que eram
necessárias e que vocês vão ter que tomar na vida de vocês. Medidas que nem
sempre é aquilo que vocês querem. Mas vocês têm que pensar que, de vez em
quando, a gente tem que parar, tomar fôlego e seguir a caminhada.

E pode ter certeza, Dilma,
que esse povo continua, mesmo reclamando pelos corredores, tendo certeza que o
que você vai entregar pra gente no futuro é muito melhor que muito mais coisas
que (inaudível pelos
aplausos). Faça o que você tiver que fazer… Faça o que tiver que
fazer, porque um erro desastroso nosso, quem vai sofrer não somos nós. É o povo
humilde desse país que nem tá aqui, que muitas vezes nem participa das coisas.
E você tem obrigação não é de governar pro Lula ou pro Rui Falcão. É governar
cuidando do povo brasileiro que precisa muito de você (aplausos).

Queridas companheiras e queridos companheiros:

O PT acaba de conquistar o
quarto mandato consecutivo na Presidência da República. O PT será o partido
mais longevo na história do país, mais longevo. Acho que só Dom Pedro governou
mais do que nós (risos e
aplausos). Mas eles não sabem que a gente ainda vai governar muito mais
(aplausos). Este
país vai… este país vai ter que incluir estes milhões e milhões de jovens que
estão aí hoje, renegando a política, a vir participar da política. Porque nós
temos a obrigação de dizer pra esses jovens que, se eles não gostam de
política, eles vão ser governados por quem gosta. Então (inaudível pelos aplausos).

  Companheira
Dilma, companheiras e companheiros e querido Pepe Mujica:

Foi talvez a mais difícil
campanha eleitoral que já enfrentamos. Certamente, a mais suja. Aquela em que
nossos adversários utilizaram as piores armas para tentar nos derrotar.
Tentaram fraudar a vontade política da maioria, usando todos os seus recursos
de comunicação para manipular, distorcer, falsear e até inventar episódios
contra o nosso partido, nosso governo e a nossa candidata. 

  A quarta derrota eleitoral consecutiva
despertou os mais baixos instintos dos nossos adversários. Tiveram a ousadia de
pedir até recontagem dos votos, como se o Brasil ainda fosse aquela república
das eleições feitas a bico de caneta.

  Tentaram
impugnar a prestação de contas da nossa campanha e barrar a diplomação da nossa
presidente. Tentaram criar um ambiente de inconformismo com o resultado que se
recusam a aceitar democraticamente.

  Vencemos. O
Brasil venceu mais uma vez, mas estejam certos: a luta está longe de acabar. Nossos
adversários não podem dizer qual é o seu projeto, porque é antinacional,
contrário ao desenvolvimento, é um projeto que exclui milhões de pessoas do
processo econômico, político e social.

  Eles só podem
atacar o PT e o nosso governo com as armas da irracionalidade e do ódio. Não
têm, nunca tiveram autoridade para falar em nome da ética, mas é esse o campo
que tentam desesperadamente nos atingir. Eles, que jamais investigaram a fundo
uma denúncia de corrupção.  Eles, que
varriam escândalos para debaixo do tapete. Eles, que alienaram o patrimônio da
Nação no limite da irresponsabilidade.

   Foi o governo do PT que acabou com a
impunidade que eles cultivaram por tanto tempo. 
Nenhum outro governo fez mais para combater a corrupção neste país, conforme
a presidenta Dilma deixou claro durante toda a campanha eleitoral.

  Mas vejam o
que está ocorrendo em torno da Petrobrás (discurso interrompido por alguém da plateia elogiando
Lula)… Ganhei meu dia (aplausos). Mas vejam o que está ocorrendo… Mas eu to lindo, eu
to lindo, porque eu achei uma coisa generosa ela falar “lindo!”, mas eu não
acreditei. Mas vejam o que tá ocorrendo no Brasil, em torno da Petrobras (discurso interrompido pela
plateia saudando Lula)… Mas vejam o que está ocorrendo em torno da
Petrobrás. Desde o início da campanha eleitoral, nossos adversários manipulam
uma investigação institucional, com o objetivo de criminalizar o PT.

  Esta investigação,
como todas as outras iniciadas em nosso governo, deve ser levada até o fim,
esclarecendo os fatos, apontando os responsáveis e levando seja quem for para o
julgamento. É isso que a sociedade espera e é isso que vem ocorrendo nos
governos do PT, ao contrário do que ocorria no governo deles (aplausos).

  Nós estamos
assistindo a repetição de um filme com final conhecido. Pessoas são acusadas,
por meio da imprensa, com base em vazamentos seletivos de uma investigação à
qual somente alguns têm acesso. Não há contraditório, não há direito de defesa.
E quando o caso chegar às instâncias finais da Justiça, certamente o julgamento
já foi feito pela imprensa, os condenados já foram escolhidos e restará apenas
executar a sentença, como nós já vimos neste país.

  Nossos
adversários não se incomodam que essa campanha já tenha causado enormes
prejuízos à Petrobrás e ao país. O que eles querem, na verdade, é criminalizar o
PT, paralisar o governo e continuar desgastando o nosso partido ao limite,
sabe, que eles estão (inaudível).

  Mais uma vez
eles falharam na tentativa de voltar ao poder pelo voto. Ao que tudo indica,
companheira Dilma, não querem mais esperar outra derrota: partem claramente
para a desestabilização, investem na crise, apostam no caos. Na falta de votos,
buscam atalhos para o poder, manipulando a opinião pública e constrangendo as
instituições.

  Eles vão,
esteja certa, companheira Dilma – você e eu que somos muito novos ainda –, pode
ficar certa: eles vão prestar contas à História sobre a maneira antidemocrática
como vêm agindo (aplausos).

  Cabe ao PT
denunciar essas manobras com firmeza, repelir a mentira, esclarecer a sociedade
e agir de acordo com a gravidade da situação. A verdade é que foi o governo
deles que tentou destruir a Petrobrás. E foi o nosso governo que a resgatou,
retomou os investimentos que levaram à descoberta do Pré-Sal e fizeram da
Petrobrás a maior produtora mundial de petróleo entre as empresas de capital
aberto (aplausos).

A verdade – e é isso que está
nos autos da investigação, mas não está nos jornais nem na TV – é que havia
corrupção nos contratos que a Petrobrás assinou com empresas estrangeiras no
tempo deles. E isso nunca foi e nem será investigado.

A verdade é que, apesar de
todo o alarido, não há nenhuma prova contra o nosso partido nesse processo,
nenhuma doação ilegal, nenhum desvio para o partido. Nada! O que eles querem é
(inaudível) o
dinheiro legal que o Partido dos Trabalhadores usou nas suas campanhas (aplausos).

  E estejam
certos: se algo de concreto vier a ser encontrado, se alguém tiver traído a
nossa confiança, que seja julgado e punido, dentro da lei. Porque o PT, ao
contrário dos nossos adversários, não compactua e nem compactuará com a
impunidade de quem quer que seja (aplausos).

Companheiras e companheiros:

  O resultado
eleitoral nos obriga também a uma reflexão sincera sobre as dificuldades do PT
para manter sua sintonia histórica com os anseios da sociedade brasileira. Não
é possível ignorar esse desgaste. Não é possível a gente imaginar que tá tudo
perfeito.

  Não é verdade
que o PT tenha se transformado em um partido pior do que os outros, mais
fisiológico ou mais sujeito aos desvios. O verdadeiro problema do PT é que ele vai
se tornando cada vez mais, se a gente não tomar cuidado, um partido igual aos
outros, deixando de ser um partido das bases para ir se tornando cada vez mais
um partido de gabinetes (aplausos).

  Nós
sabemos… Nós sabemos – e ninguém precisa achar que estamos criticando (inaudível) –, a estrutura
à disposição de um deputado é maior do que a de um diretório estadual do
partido na maioria dos estados do nosso país. A estrutura dos cargos do
governo, também. E ao longo do tempo, isso alterou a vida interna do partido.
Há muito mais preocupação em vencer as eleições, em manter e reproduzir
mandatos, do que em participar da vida interna do nosso partido.

Eu tenho feito… (aplausos). Eu vim de uma
reunião com o governo Rui Falcão e tenho uma reivindicação aos deputados e
senadores que, pelo amor de Deus, tem um final de semana por mês para que o
partido possa mandar-nos viajar para alguns cantos do país para que a gente
possa fortalecer e continuar fortalecendo o nosso partido (aplausos). 

  As direções,
tanto as regionais quanto a nacional, muitas vezes ficaram prisioneiras dessa
lógica. Tornaram-se burocráticas e menos representativas da nossa base social.
Militantes e dirigentes, às vezes, tornam-se profissionais da política e dos
governos. Aquele sonho do partido de base, que estava no manifesto, aos poucos
está se diluindo, porque a ideia da gente ir pra porta da fábrica, a gente ou
vai pra repartição pública, ou vai pro gabinete de vereador, deputado… (aplausos)

  Falando
francamente: muitos estão mais preocupados em manter – e se manter – nessas
estruturas de poder do que em fazer a militância partidária que estava na
origem do PT.

  Essa é a
origem de vícios, como uma militância paga. Essa é a origem de vícios, como uma
militância paga. Tem gente agora que só trabalha pra ganhar dinheiro. Ninguém
mais segura faixa de graça, ninguém mais carrega as coisas de graça… A
disputa por cargos em gabinetes. Eu fico imaginando o que o Falcão deve tá
sofrendo agora, o que que a Dilma deve tá sofrendo, o que que (inaudível). “Olha, eu to
à disposição” (inaudível).
Tem gente que fala: “Olha, eu to aqui à sua disposição”.

Então eu acho, companheiros e companheiras, que essa é a
origem de vícios, a militância paga. A disputa por cargos de gabinete, o
investimento de grandes recursos em campanhas eleitorais. Tá ficando proibitivo
fazer campanha política pra eleger as pessoas mais humildes desse país, porque
ninguém consegue finanças pra fazer uma campanha. É por isso que nós precisamos
acabar com o financiamento privado em campanha política. Acabar definitivamente
(aplausos). Vícios
que nós sempre criticamos na política tradicional.

  É nesse
ambiente que alguns, individualmente, cometem desvios que nos envergonham
diante da sociedade e perante a história do PT. É dessa forma que o exercício
do poder, ao invés de fortalecer, acaba fragilizando um partido. 

  Não é fenômeno
inédito. Aconteceu historicamente com grandes partidos populares ao redor do
mundo. Mas penso que esse processo tá chegando ao limite no nosso partido e nós
precisamos darmos fim nessa situação.

  Vamos lembrar
o nosso manifesto. Não podemos esquecer que o PT nasceu para ser diferente. Resgatar
esse espírito é o nosso desafio nesse momento.

  Não se trata
de propor, de forma ingênua, a volta a um passado que não existe mais. O país
mudou nesses 35 anos. Mudou graças ao PT, não aos que nos criticam de fora.
Mudou porque cumprimos os objetivos que levaram à criação do partido.

  Hoje o país é
outro, a realidade da classe trabalhadora é outra, a juventude é outra, as
reivindicações e interesses da população, meu caro (inaudível), são outras. E estão num novo
patamar, assim como as demandas para a ampliação de direitos e da Democracia.

  O PT precisa
responder a essa nova realidade. Articular as demandas dos milhões de brasileiros
que conquistaram emprego digno e que têm novas oportunidades. Que aprenderam a
usar a renda e o crédito para realizar sonhos antigos e que têm, portanto, novos
sonhos.

  Precisa ouvir
e dialogar com toda uma geração de brasileiros que ainda era criança quando o
povo nos levou à Presidência da República. Uma geração que não conhece a nossa
história e não vai conhecê-la se não tivermos a inciativa de contar a eles como
era este país nos tempos da ditadura, como era o Brasil antes de nós chegarmos
ao governo em 2002.

  Precisamos
dialogar com as novas demandas democráticas, no plano dos direitos das pessoas,
demandas que acompanham a evolução da sociedade e que não eram tão claras a 35
anos atrás.

  É necessário
ter muita clareza das mudanças que ocorreram, para elaborar um novo pacto
político com a sociedade brasileira, um pacto que atenda às exigências de hoje
e que aponte para o futuro.

  Não há
respostas fáceis para essa questão. Temos de buscá-las em nossas raízes, porque,
se chegamos até aqui, foi pelo que fizemos desde o começo da caminhada.

  Não há dirigente
ou liderança individual capaz de apontar o caminho. Não em um partido
democrático de massa, como o PT sempre se propôs a ser.

  O PT não é o
seu presidente, não é a sua direção, não é o presidente da República, não é
qual ou tal liderança. O PT são milhares de filiados e milhões de militantes
anônimos (aplausos).
São os setores da sociedade que se consideram representados pelo partido, participam do debate político e
têm sido decisivos nos embates eleitorais. É aí que vamos encontrar a energia
renovadora, para recriar o sonho original do nosso querido partido.

  Creio que é esse o debate que devemos
fazer agora, quando iniciamos o processo de renovação da direção partidária.

  Temos a oportunidade, viu Falcão, a
oportunidade histórica de elaborar, quem sabe, um novo Manifesto, capaz de
traduzir nossos compromissos para os dias de hoje e para os próximos 35 anos.

   Isso exige humildade e coragem de cada um.  Humildade para reconhecer o que é preciso
mudar, e coragem para continuar mudando.

  Temos a história ao nosso lado e o futuro
diante de nós. O PT precisa estar, mais uma vez, à altura de suas origens,
porta-voz da esperança, da democracia, da ética e da igualdade.

  Muito obrigado e viva o PT! (aplausos)

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