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Discurso de Lula no Congresso do PT, em Salvador

Discurso realizado ontem à noite (11), durante a abertura do 5o. Congresso do Partido dos Trabalhadores, realizado em Salvador, Bahia. 

 Neste mês de junho completam-se dez anos que a imprensa brasileira começou a decretar a morte do PT.

No dia 19 de junho de 2005, uma revista, que era considerada muito importante naquele tempo, publicou na capa um desenho do meu rosto se esfarelando. Depois, fez uma capa com a estrela do PT se partindo em pedaços.

E o que aconteceu foi que um ano depois nós vencemos nas urnas e eu fui reeleito para um segundo mandato.

No dia 30 de agosto de 2007, um jornalista que se considera o profeta da política escreveu um artigo chamado “O Futuro do PT”,  dizendo que o partido estava “mortalmente ferido pelo processo do mensalão”.

E o que aconteceu foi que em 2010 nós elegemos a Dilma presidenta da República, e o PT fez as maiores bancadas no Congresso.

Em 2013 voltaram a escrever que o PT tinha acabado. No dia 1o de maio de 2014, um blogueiro falastrão escreveu: “O PT começou a morrer. Que bom!”. E no dia 7 de maio, um historiador que não conhece a História escreveu: “Adeus, PT”.

E o que aconteceu foi que cinco meses depois nós vencemos nas urnas mais uma vez, reelegemos a Dilma e elegemos cinco governadores.

Há dez anos esses jornalistas anunciam a morte do PT, mas nós estamos aqui para mostrar que o PT continua vivo e preparado para novos combates.

Machucado, sim, mas bem vivo.

Enfrentando a mais sórdida campanha de difamação que um partido político já sofreu neste país. Mas vivo, de cabeça erguida, construindo um país melhor.

O que esses jornalistas e seus patrões –  tanto os donos dos jornais como os interesses que eles representam – não conseguem entender é que a força do PT vem do nosso profundo enraizamento na sociedade brasileira.

Nossa força vem do chão da fábrica, da terra plantada com o suor do lavrador, vem das escolas, das ruas e das praças onde lutamos, sempre junto com o povo, para construir um país verdadeiramente democrático, mais desenvolvido e mais justo.

Enquanto o PT for a voz dos que nunca tiveram voz; enquanto nossa estrela simbolizar as conquistas e a esperança da maioria – que pela primeira vez tem a oportunidade de governar este País – o PT estará vivo no coração do Brasil.

É essa perspectiva que não podemos perder, por maiores que sejam os desafios, por mais difícil que seja a conjuntura política e econômica.

O PT nasceu para mudar o Brasil, e esta continua sendo a razão da existência do nosso partido.

O PT nasceu para ser porta-voz do futuro, e não pode se acomodar jamais.

Por isso temos de estar sempre vigilantes, corrigindo nossos erros, mudando o que for preciso mudar, e conversando sempre com o povo humilde desse País.

Nessa caminhada, que já dura 35 anos, nós aprendemos que vale a pena sonhar.

Vale a pena lutar para tornar reais as aspirações da nossa gente.

Foi a partir de um sonho – um sonho sonhado junto – que nós estamos vendo crescer hoje a primeira geração de brasileiros que não conheceram o pesadelo da fome na infância.

É no coração dessas crianças que o PT viverá sempre.

De toda uma geração que viu o Brasil, pela primeira vez em 500 anos, crescer em benefício de todos.

A marca dos governos do PT é a transformação de um país acanhado, subalterno e injusto num Brasil que se tornou uma das maiores economias do planeta. Que expandiu o mercado interno e abriu suas fronteiras para o mundo, no maior período de crescimento econômico com inclusão social da nossa História.

Todos os setores da sociedade, sem exceção, se beneficiaram nos governos do PT.

Por tudo isso o PT continua vivo no  coração dos milhões de brasileiros que saíram da miséria, que alcançaram a classe média, que conquistaram um emprego com carteira assinada; nos lares de milhões de famílias que conquistaram a casa própria pelo Minha Casa Minha Vida, nas famílias do campo que conheceram a energia elétrica, em pleno Século XXI, por meio do Luz Pra Todos.

O PT está na vida de 1 milhão e meio de jovens que tiveram acesso ao ensino superior pelo PROUNI, de mais de um milhão de jovens que entraram na universidade pública pelo sistema de cotas, dos milhões que aprenderam uma profissão pelo PRONATEC e dos que entraram em 365 novas escolas técnicas.

O PT continuará vivo, muito vivo, enquanto os trabalhadores desse País continuarem sonhando com uma vida melhor.

Por isso, temos a obrigação de olhar para o futuro, de continuar semeando a esperança. A obrigação de ser cada vez mais o partido que nasceu para mudar.

Companheiras e companheiros,

Nós vencemos uma eleição presidencial muito difícil, a mais difícil desde 2002.

Foi uma eleição tão disputada que nossos adversários levaram alguns meses para reconhecer que foram derrotados nas urnas.

E como perderam para o PT pela quarta vez consecutiva, tentam impor ao país a agenda do retrocesso – na economia, na sociedade e até na democracia.

Eles não se conformam com as transformações que realizamos nesses 12 anos e meio. E não veem a hora de fazer a história andar para trás.

A agenda deles é o financiamento empresarial, para manter a influência do poder econômico nas eleições.

Nós sempre valorizamos o papel do Congresso, da democracia representativa. Mas quando o PT propõe ampliar os instrumentos da democracia participativa, com mais conferências, conselhos e projetos de lei de inciativa popular, eles vêm com a velha ideia do voto facultativo.

Do que eles não gostam mesmo é de voto popular. Não gostam de participação social. Querem uma espécie de democracia sob medida, onde só cabem os interesses dos poderosos, e a maioria fica do lado de fora.  

A agenda deles é a redução da maioridade penal, para mandar para a cadeia quem deveria estar na escola.

É acabar com o sistema de cotas, para mandar os pobres e os negros de volta ao tempo onde não tinham oportunidades de estudar e ascender socialmente.

É promover a intolerância e sancionar o preconceito contra a população LGBT.

É perpetuar o oligopólio dos meios de comunicação, para que a liberdade de imprensa continue sendo um privilégio de poucos, quando deveria ser um direito de todos.

Eles querem fazer o Brasil voltar à idade média social em que o País vivia antes de eleger o governo da inclusão, da liberdade e da dignidade humana.

A agenda deles é acabar com o sistema de partilha e entregar o pré-sal, que é uma conquista do povo brasileiro.

É destruir a Petrobrás, construída com a luta de gerações de patriotas.

É destruir a indústria naval e a engenharia nacional, que geram empregos aqui no Brasil e fazem nosso país mais forte.

Nossos adversários não se conformam com um modelo de desenvolvimento baseado na inclusão, na geração de emprego e na distribuição de renda.

E ainda nos acusam de dividir o País entre ricos e pobres, o que é uma enorme hipocrisia.

Foi o governo do PT que trouxe para a mesa os que tinham fome, que abrigou os que não tinham teto, que abriu a porta das escolas para os que estavam do lado de fora, que integrou milhões ao mercado de trabalho e ao consumo.

Foi o governo do PT que começou a fazer do Brasil um país de todos, não apenas dos privilegiados de sempre.

Eles não se conformam com isso e saem por aí semeando o pessimismo, anunciando o fim do Brasil.

É claro que temos problemas – que país não tem?

O desemprego aumentou um pouco, é verdade.

A inflação subiu, é verdade

Só que ninguém está mais preocupado com a inflação e com o emprego do que os trabalhadores, o nosso partido e a presidenta Dilma.

Nós sabemos, mais do que ninguém neste País, como é importante gerar empregos e combater a inflação.

Porque somos nós, os trabalhadores, que sentimos esses problemas na carne.

Nós, os trabalhadores, sabemos muito bem o que era viver num país com desemprego de 12% e inflação de 12,5%. 

Porque foi essa a herança que nós recebemos de 8 anos de governo dos tucanos.

Sabemos o que era viver num país sem perspectivas, nas mãos do FMI; um país em que um terço da população passava fome.

Por isso nós trabalhamos tanto para reduzir e controlar a inflação. Por isso nós reduzimos o desemprego ao menor índice da história.

Proporcionalmente ao seu tamanho reduzido, o setor que mais desemprega hoje no Brasil é a imprensa.

Só este ano tivemos 50 demissões de jornalistas na Folha de S. Paulo, 120 demissões no Globo, 100 no Estadão, 50 na Band e 120 na Editora Abril.

Essa editora, que publica a revista mais sórdida desse país, teve de entregar metade do seu edifício sede, teve de vender ou fechar 20 títulos de revistas.

E temos grupos jornalísticos inteiros à venda. Parece que as pessoas não querem continuar lendo as mentiras que eles publicam.

Essas empresas, que atacam tanto o nosso governo, não são capazes de administrar a própria crise sem jogar o peso nas costas dos trabalhadores.

E acham que podem nos ensinar como se governa um país com mais de 200 milhões de habitantes.

Quem pode nos ensinar, quem sempre nos ensinou o caminho a seguir, são os trabalhadores e o povo mais pobre desse país.

É para eles que devemos olhar sempre; é com eles que precisamos conversar sobre os nossos acertos e os nosso erros.

E o povo brasileiro está nos dizendo muita coisa nessa hora.

Está nos dizendo, em primeiro lugar, que temos de manter um combate implacável à inflação.

Que temos de arrumar a casa, como o governo da presidenta Dilma está fazendo, para continuar inspirando segurança e recebendo investimentos.

Está nos dizendo que foi muito importante subir alguns degraus, como subimos nesse período, mas é ainda mais importante continuar subindo. Não parar, não retroceder.

O povo brasileiro está dizendo ao PT: Não deixem o país parar de crescer e incluir!

Não se acomodem no governo!

Não nos decepcionem!

É nossa obrigação ouvir e compreender esse recado. É nossa obrigação manter acesa a esperança num futuro melhor.

Companheiros e companheiras,

O Brasil, apesar de tudo o que dizem de ruim, continua sendo um dos melhores lugares do mundo para investir e crescer.

O governo da presidenta Dilma acaba de anunciar um plano de investimento em logística muito consistente, que pode colocar o País novamente na rota do crescimento e da geração de empregos.

Nós temos de fazer todo o esforço necessário para que essa nova rodada de desenvolvimento se torne realidade, no prazo mais curto possível.

Temos de vencer o pessimismo e isso não depende só do governo. Cada um de nós tem de sair desse Congresso com o espírito de militante que sempre foi a marca dos petistas.

Seremos militantes da confiança no Brasil e da nossa capacidade de superar, mais uma vez, uma conjuntura difícil.

Fizeram de tudo para derrubar nosso ânimo, antes, durante e depois da última campanha presidencial. Fizeram e continuam fazendo de tudo para destruir os programas que identificam nosso governo com a história de lutas do PT.

Mas o Bolsa Família não acabou. E o Brasil saiu do Mapa da Fome.

O PROUNI não acabou, e o FIES vai continuar, com uma nova rodada de inscrições já anunciada pelo MEC.

O Minha Casa Minha Vida não acabou e vamos construir milhões de novas moradias.

A Farmácia Popular não acabou nem vai acabar.

A Petrobrás não quebrou, está superando a crise, batendo recordes de produção e já voltou a dar lucro.

O Brasil continua sendo um dos cinco maiores destinos de investimento externo direto do mundo. E vai receber ainda mais investimentos.

Não é por acaso que a China anuncia que irá investir 52 bilhões de dólares em infraestrutura no Brasil nos próximos dois anos. É porque o mundo conhece nosso potencial.

E temos outro motivo muito importante para acreditar ainda mais no futuro do país.

Neste mês de junho completa-se um ano que a presidenta Dilma Rousseff sancionou o Plano Nacional de Educação.

Este Plano, que nós mandamos ao Congresso em 2010 e levou quatro anos para ser aprovado, é o mais importante instrumento de desenvolvimento social e econômico.

São 20 metas com prazos e recursos definidos em lei. Prazos que já estão correndo e que nós temos de cobrar de todos os governantes – nos municípios, nos estados e em Brasília.

É este plano que vai elevar para 7% do PIB o investimento público em educação até 2019, e para 10% do PIB até 2025.

Assim poderemos erradicar o analfabetismo no Brasil, garantir o acesso de todas as crianças e adolescentes ao ensino, superar as desigualdades educacionais, valorizar o profissional do ensino, implantar a gestão democrática, proporcionar a formação humanística e técnica, formar a cidadania e melhorar sensivelmente a qualidade do ensino.

Fazer, enfim, a revolução no ensino que este país tanto precisa; torná-lo, de fato, uma Pátria Educadora.

Eu gostaria que cada um de nós saísse deste Congresso levando uma cópia do PNE, para entender do que se trata, discutir, divulgar e cobrar o empenho solidário dos Municípios, dos Estados e da União na realização dessas metas.

A sociedade brasileira vai abraçar essa causa, tenho certeza.

Porque o povo de um País que foi capaz de vencer a fome pode fazer muito mais.

E se eu tivesse de escolher um grande feito, entre tantos, desses 12 anos e meio de governo para destacar, seria este: o povo brasileiro descobriu sua força, descobriu que é capaz de transformar grandes sonhos em realidade.

Enquanto continuarmos sonhando com um País melhor e mais justo, enquanto lutarmos por ele, junto com o povo, o PT continuará vivo no coração de milhões de brasileiros.

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