No dia 11 de março de 2020, a OMS decretou que o mundo sofria uma pandemia com a propagação global do novo coronavírus. Naquele dia, o Brasil tinha 69 casos confirmados de Covid-19 e o presidente Jair Bolsonaro retornava dos EUA, de onde 22 membros da delegação voltaram contaminados. Na véspera, ele havia tentado minimizar a doença: “Muito do que tem ali é muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propaga”.
Como sempre, ele estava errado. A primeira morte pela doença no país foi anunciada em 17 de março. Meses depois, o Ministério da Saúde afirmou que, na realidade, o primeiro óbito da Covid-19 foi no dia 12. Ambos os pacientes estavam em hospitais de São Paulo. De lá para cá, o Brasil segue com o segundo maior número de mortos no mundo (654 mil brasileiros perderam a vida) e o terceiro de casos (29,3 milhões).
O que fez o presidente nesse período? Minimizou a doença o quanto pôde (alguém se esquece da “gripezinha”?), apostou na imunidade de rebanho, lutou contra as medidas sanitárias impostas pelos governos estaduais, promoveu aglomerações sempre sem máscara, comprou e recomendou tratamentos ineficazes contra a Covid, trocou três vezes o ministro da Saúde, atrasou a compra de vacinas e desrespeitou vítimas e seus familiares.
Em 8 de abril de 2020, ao criticar o isolamento adotado em alguns locais do país, Bolsonaro defendeu o fim da medida de restrição, dizendo que a doença seria perigosa apenas para idosos e que “cada família deve colocar o vovô e a vovó lá no canto e é isso”. Exatamente um ano depois, o Brasil registrou 4.249 mortes por Covid, a maior cifra diária de toda a pandemia.
Ele também decretou sigilo de 100 anos sobre o próprio cartão de vacinação e sobre os atos do seu terceiro ministro da Saúde no período da pandemia, Eduardo Pazuello, acusado de irregularidades durante o combate ao coronavírus. A tentativa desastrada de compra da vacina indiana Covaxin, que nem ao menos tinha aprovação emergencial pela OMS ou pela Anvisa, foi desvendada pela CPI da Covid.
Com uma gestão desastrosa e desumana da pandemia, o Brasil entra no terceiro ano dela em crise política, social, sanitária e humanitária, com milhares de famílias em luto, e com milhões de brasileiros que se recuperaram da doença, mas ainda podem apresentar sequelas ao longo dos anos.
“O país vive uma crise sanitária profunda, se não tivesse o SUS seria ainda pior. Me parece que a sociedade já normalizou o fato de estarem morrendo 600, 630, 640 pessoas por dia. O ser humano tem essa capacidade de absorver as desgraças com muita facilidade e vai aprendendo a viver com isso”, disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em um evento na última quinta-feira (10) em São Paulo.
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