Dulci: Não foi só renda que distribuímos

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O Brasil de hoje é um país menos desigual, com menos miséria, mais rico e apoiado em bases sólidas de crescimento, mas ainda há muito a avançar. “Seria até falta de juízo, como dizia minha mãe, negar que um país como o nosso enfrenta desafios”, resume Luiz Dulci, diretor do Instituto Lula e ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República durante os oito anos de governo Lula. Dulci conversou durante mais de uma hora com Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo no programa Programa entrevistaFPA, que foi ao ar na manhã desta segunda-feira (23).

Autor do livro “Um Salto para o Futuro – Como o governo Lula colocou o Brasil na rota do desenvolvimento” (Editora Fundação Perseu Abramo), Dulci falou sobre seu trabalho no Instituto Lula, como diretor para América Latina, sobre as conquistas econômicas e sociais do Brasil nos últimos 10 anos e também sobre o pessimismo propagado por parte da oposição e da imprensa.

Participação popular
Luiz Dulci teve um papel importante na realização das 74 Conferências Nacionais durante o governo Lula. Segundo o ex-ministro, delas participaram diretamente  cinco milhões de pessoas, nos níveis municipal, estadual e nacional. “E nenhuma delas foi um passeio, todas elas tinham polêmicas, debates acalorados”, lembra. Dulci usou a expressão “governabilidade social” para destacar que, além de aperfeiçoar as propostas, as conferências serviram para trazer as forças populares para o debate e mudar a correlação de forças mesmo depois que essas propostas foram aprovadas. “Uma vez o Lula me disse: ‘Nosso governo quer distribuir renda, sim, mas não só. Queremos distribuir renda, conhecimento e poder”.

Um salto para o futuro
Pochmann perguntou como o autor do livro “Um Salto para o Futuro” via esse legado à luz do pessimismo atualmente exposto por alguns analistas e muito presente em nossa mídia. Dulci lembrou que os EUA acabaram de comemorar uma previsão de crescimento de 1,5%, que a maioria dos países da Europa ainda está em recessão e que o Brasil é um dos países que mais cresce entre as grandes economias do mundo. “Que país em crise teria criado 127 mil empregos em um único mês?”, pergunta. “Seria até falta de juízo, como dizia minha mãe, negar que um país como o nosso enfrenta desafios, mas crise não, pelo contrário”. Para Dulci, falta à oposição um verdadeiro projeto alternativo de país. “Paulo Freire me ensinou que oposição se faz com denúncia, mas também com anúncio, e é a parte do anúncio que entusiasma a população”. Como falta à oposição o anúncio de um projeto alternativo, o que resta a ela é apostar no pessimismo. “Como isso não acontece, como os resultados são bons e a população percebe que os resultados são predominantemente bons, eles acabam passando do ponto e fica muito evidente que eles estão torcendo para que o país fracasse”, disse Dulci, que lembrou várias previsões que não se confirmaram, entre elas a recente previsão de hiperinflação, na qual o tomate foi eleito como grande vilão.