“É Tudo Verdade”: Carlo Cirenza e César Oiticica Filho levam Lula ao MAM

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Uma grande vela de barco branca com o rosto de Lula estampado em vermelho ocupa uma das colunas do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). Trata-se da intervenção “É tudo verdade”, de Cesar Oiticica Filho e Carlo Cirenza, que começa neste sábado (22/09). Não adianta tentarem aprisionar Lula e apagá-lo da memória do povo e da história do Brasil: as pessoas não conseguem prender ideias.

Na pilastra ao lado, outra vela de barco estampa o rosto de Marielle Franco, vereadora carioca assassinada há mais de seis meses em um crime político ainda não solucionado pela polícia. “É tudo verdade” é um conjunto de dez velas em lona com os rostos de figuras emblemáticas para o país pintadas com tinta acrílica em tons de vermelho. Além de Lula e Marielle, outras figuras históricas como Dragão do Mar, Zumbi, Anastácia, Lampião, Olga, Antônio Conselheiro, Jacaré e José Oiticica completam o panteão.

O ponto de partida do trabalho foi o documentário “É Tudo Verdade”, de Orson Welles. Na época, o cineasta quis incluir em seu documentário o segmento “Jangadeiros – Four Men on a Raft”, recriando a viagem de um grupo de quatro jangadeiros que partiu em setembro de 1941 do litoral cearense rumo ao Rio de Janeiro para denunciar explorações trabalhistas e reivindicar benefícios aos pescadores. Liderada por Jacaré, a viagem de jangada durou 61 dias em alto-mar e, ao chegar ao Rio, o grupo foi recebido pelo presidente Getúlio Vargas, que atendeu às reivindicações.

Entretanto, a ideia de Welles de abordar a saga dos jangadeiros não estava dentro dos objetivos dos governos norte-americano e brasileiro, “muito menos a trajetória ‘comunista’ de Jacaré”, diz César Oiticica Filho, e o projeto jamais foi terminado. Jacaré acabaria morrendo nas águas da Baía de Guanabara, durante a refilmagem da chegada dos jangadeiros para o filme de Welles. O artista destaca que “a Baía de Guanabara é um lugar emblemático, tanto para os jangadeiros quanto de resistência e criação, onde, nos anos 60, artistas e o público marcaram a cultura como uma importante forma de luta contra regimes autoritários e a censura”.

Oiticica pretende, ainda, levar as velas de volta ao Ceará e fazer uma regata com os jangadeiros locais, colocando as velas em suas embarcações. Todo esse processo será registrado e resultará em um filme.