Em entrevista coletiva com blogueiros e mídias alternativas, em São Paulo, o linguista, filósofo e ativista norte-americano, Noam Chomsky, de passagem pelo Brasil, falou sobre a situação da mídia no mundo. Chomsky fez uma comparação entre o mito da imprensa livre dos “ditos países livres” – especialmente Inglaterra e EUA – e o que aconteceu nos países da América Latina nos últimos anos, em especial no Brasil, com mídias que tendem a ser orientadas para o espectro da direita, segundo o filósofo.
Sobre a imprensa inglesa, Chomsky citou a obra “Revolução dos Bichos”: “Orwell faz uma sátira ao mundo autoritário e de como, na Inglaterra, eles conseguem suprimir ideias divergentes sem o uso da violência. Ele não fala muito sobre como essas ideias divergentes são escondidas, mas ele fala como os meio de comunicação pertencem a homens ricos”. O filósofo lembrou que a introdução do livro, em que Orwell faz as ponderações sobre a mídia, “foi suprimida e só apareceu 30 anos depois”.
O professor explicou como, hoje, a mídia se organiza nos países ocidentais. “Se a gente observa a estrutura de como a imprensa funciona nesses países, nós vamos ver grandes corporações que pertencem a corporações ainda maiores. Então, nós temos um negócio em que os produtores de notícias e os publicitários têm o mesmo interesse e eles dizem o que vai ser interessante ser publicado ou não”, declarou.
Exemplificando a diferença de tratamento dado à imprensa pelos EUA e Inglaterra e pelos países da América Latina, Chomsky afirmou que “a Venezuela, de Chávez, foi duramente condenada pelos EUA e pela Inglaterra, simplesmente porque um canal de televisão foi substituído por um menor. Concordo com o julgamento de que foi um erro do governo Chávez. Eu condeno essa ação, mas não concordo com a segunda parte de que isso nunca aconteceria nos EUA, nem na Inglaterra. É inimaginável haver um golpe de estado nos EUA com o New York Times apoiando e o New York Times continuar circulando. Os governos de esquerda e centro-esquerda que passaram pela América Latina nas últimas décadas, em geral, tiveram uma postura de abertura para a imprensa, ainda que essa imprensa fosse universalmente contra esse governo. Nos ditos países livres, isso jamais aconteceria: uma imprensa uniformemente contra os governos, como na América Latina”.
Seguindo esse raciocínio, para Chomsky, “o que aconteceu no Brasil não foi exceção, foi regra. A esquerda que esteve no poder na América Latina estava aberta ao fato de que a imprensa funcionava como queria, como Nicarágua e a Venezuela, que deixaram a imprensa correr solta. Se algo assim se reproduzisse nos países centrais, os editores desses jornais teriam sorte de não estarem presos”.
O filósofo reafirmou que, “durante os anos Lula e Dilma, o Brasil se tornou o país mais respeitado do mundo, e isso pode acontecer de novo”. Segundo Chomsky, “o Brasil sempre foi visto como o colosso do sul. E o Brasil, com Lula, tornou-se um dos países mais respeitados do mundo. Organizou o sul do mundo com protagonismo, de forma inédita”.
Veja abaixo a íntegra do encontro: