Em encontro com Lula, empresários narram realidade de crise e abandono pelo governo Bolsonaro

Representantes de diversos segmentos contaram suas histórias e apresentaram as dificuldades enfrentadas no dia a dia

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, se reuniram, nesta quarta-feira (17/08), empresárias e empresários de pequenos negócios, na capital paulista. No encontro, empreendedores falaram sobre a crise que enfrentam neste momento no Brasil. Abaixo, trechos dos depoimentos:

Ellon Brasil, artista plástico e empresário do setor cultural

“Quando o Brasil estava numa situação favorável eu criei minha microempresa, na época do governo Lula. Tínhamos um grupo bem interessante voltado para a arte e para a cultura. Viajei até para a Europa apresentar meu trabalho. Havia uma efervescência cultural muito grande na época. Atualmente vemos um quadro desolador nesse assunto, e as políticas públicas sendo esfaceladas pouco a pouco, quase entrando em extinção.”

Tita Dias, proprietária do restaurante Canto Madalena

“O Canto Madalena é um dos 750 mil restaurantes formais do Brasil, mas que deve passar de 1 milhão contando também os negócios informais. Esse setor está presente em todos os municípios do Brasil, portanto é muito importante, e acabou sendo um dos mais penalizados na pandemia. Hoje, 40% dos bares e restaurantes estão faturando menos do que antes da crise sanitária, 35% tá operando no prejuízo, 45% tem dívidas, e é importante, Lula e Alckmin, que a recuperação dos endividados passará por vocês. Os endividados não são empresários ruins. O nosso problema é que temos no Brasil o presidente Jair Bolsonaro, que é inimigo da pequena empresa. Inimigo!”

Francisco Santana, proprietário da Escola Sorvete

“Os desafios dentro do empreendedorismo são vários. Pra mim, um desafio a mais. Quando olho pra plateia, composta por pequenos empresários, também lembro que sou um dos poucos negros que sou microempresário. Além da fábrica de sorvetes, também tenho escola, e eu sinto a crise no dia a dia. Eu comecei o mês pagando o leite à R$ 3,60. Semana passada estava R 6. Eu repasso o valor no produto e meu cliente diz que eu preciso avisar ele com 30 dias de antecedência. Mas como eu faço isso? Como eu acordo de manhã e faço uma conta que o leite subiu 71% só este ano? E tem tanta coisa pra mudar. Por exemplo, existe uma lei absurda, que rege o sistema de sorveteria, que o sorvete de fruta não precisa ter fruta! Imaginem se a lei obrigasse a ter no mínimo 20% de fruta no sorvete, quantos empregos criaríamos no campo, no transporte?”

Denise Spada, comerciantes de produtos de pequenos artesãos

“Lula é o ex mais querido e o presidente mais desejado, os pequenos empresários pensam nisso todo dia, porque não tem como prosperar com o país estando no mapa da fome. São crianças, famílias inteiras, são mulheres passando fome. Eu comecei a empreender em 2010, vivi tempos áureos, tenho que acreditar que conseguiremos voltar, apesar de saber que será muito difícil, que teremos muitas dificuldades.”

Edson Leite, fundador da escola Gastronomia Periférica

“Eu preciso contar uma história triste. Há dez dias eu estava almoçando com minha filha e, em poucos minutos, escutei uma gritaria e fui ver o que era. Era um menino de 12 anos que estava gritando, apanhando dos seguranças do shopping. Para tentar entender aquilo, eu separei ele dos seguranças e perguntei o que estava acontecendo, e o menino me falou que estava apanhando porque foi lá pedir comida. Naquele momento eu entendi que estamos vivendo o momento mais grave da história desse país. Nós tínhamos um menino de 12 anos, da favela do Heliópolis, tal qual eu – levei ele pra casa dele depois –, apanhando porque estava pedindo comida. Isso é grave e dói muito. (…) A gastronomia periférica é um case de sucesso. Nós temos uma narrativa, mas a gente tá sofrendo, tá ligado? A gente tá sofrendo muito e vendo os nossos sofrer com fome. A gente tá sofrendo tomando enquadro da polícia porque a gente impacta diretamente. Esse governo é racista, corrupto, mentiroso e nos mata todos os dias.”

Stefânia Golla, proprietária do botequim Ó do Borogodó

“Nosso setor de cultura e entretenimento foi muito afetado não só pela pandemia, mas pela política praticada pelo atual governo. A impressão que nós temos é que não estamos mais no plano do Brasil, estamos fora de combate. E temos 80 músicos ligados à casa, que se apresentam todo mês e que têm palco garantido, trabalho garantido, remuneração garantida. Nós seguimos de portas abertas numa teimosia, mas acima de tudo numa expectativa de mudança, porque hoje nosso negócio é completamente inviável. Então, aqui fica um desejo de que esse tempo acabe logo, e ficamos na torcida pelos novos tempos, para que o futuro governo olhe para o pequeno realizador da cultura e para os botequins.”

Mario Valadares, empresário

“Nós tivemos muitos projetos que ajudaram o micro empreendedor, mas o número um é uma economia forte, e foi isso que eu vi na gestão Lula, uma economia forte. Nós éramos respeitados no mundo inteiro, taxa de desemprego 6%, dólar por R$1,70, inflação praticamente zero. Então, nós tínhamos consumo, porque não adianta políticas públicas para micro, pequeno ou médio empreendedor consumir se não há consumo. Eu não precisava vir aqui hoje, tenho seis shoppings, lojas de outlet, mas o primeiro start, quando eu abri meu primeiro shopping popular, em 2003, me deu condições de crescer e ser um mega empresário. Mas eu vim aqui prestigiar o evento, agradecer o Lula por aquele ponto de virada em 2003, quando eu tive condições de fazer um monte de pequenos empreendedores prosperarem, e eu prosperei também! Aquela época foi ótima, pobre viajando de avião, classe média com casa própria, com carro. E, Lula, para recuperar isso, você é a única pessoa que tem condição de fazer nossa economia forte. Nós precisamos de credibilidade mundial, e eu posso falar, não são apenas os empresários brasileiros que querem o Lula de volta, o mundo quer o Lula de volta!”

Michael Haradom, da indústria de química fina

“Todos os países defendem sua indústria nacional. O Brasil carece de proteção e soberania. Devemos criar mecanismos que nos permitam competir em igualdade de condições. Empresas brasileiras devem substituir importações e até exportar com arranjos produtivos locais, comércio justo e economia solidária. Temos tecnologia de ponta, como a Embrapa e Unicamp. O conhecimento tupiniquim dos povos originários, associado à nossa biodiversidade, oferecem importantes produtos naturais para a humanidade. Por isso, acredito em vossa gestão [Lula], socioeconômica, ambiental e cultural, que vai recuperar o país com dignidade, justiça e solidariedade. Para viver mais saboroso, sem medo de ser feliz”.

Ignácio Zurita, empresário da construção civil

“Os governos do Partido dos Trabalhadores foram anos de glória para os brasileiros, de resgate da nossa autoestima, nos projetamos no exterior de forma independente e altiva, e na minha área tivemos o programa Minha Casa, Minha Vida. E nunca na história houve algo parecido. O brasileiro mais pobre não tem renda para comprar uma casa, e o jeito é o estado subsidiar, e foi muito inteligente usar parte do lucro do fundo de garantia para financiar a casa do trabalhador. Esse projeto ajudou meu setor também, minha empresa deslanchou, nós éramos pequenos e nos tornamos uma empresa de médio porte por causa das linhas de crédito e das mudanças na atuação da Caixa Econômica Federal. E eu vejo a importância da aliança do capital com o trabalho. Os empresários ajudam a organizar o sistema, mas o trabalhador que produz a riqueza. E um governo liderado por um trabalhador fez mais pelo empresário do que todos os presidentes anteriores. Também quero enaltecer a aliança entre Lula e Alckmin, esse gesto de grandeza, porque o Brasil precisa, nós estamos vivendo uma derrocada, é uma vergonha, é desesperador o que está acontecendo, a fome voltou, o desemprego. Nós temos que reagir e falar, muita gente fica em silêncio por medo, porque esse pessoal que está no governo, eles são ardilosos, eles intimidam, eles fazem a política do confronto. Todos que defendem a democracia, um Brasil justo para todos, livre democraticamente. Nós temos que nos unir, deixar as nossas diferenças de lado e nos unir”