Ex-presidente disse ter um compromisso pessoal de fazer mais do que já fez pelos mais pobre e agradeceu oportunidade de escutar ‘quase um roteiro de um programa de governo’
A diversidade das periferias de São Paulo esteve representada em um encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, realizado neste sábado (25), com organização do Instituto Lula.
Ao mesmo tempo em que reconheceram, muitas vezes agradecidos, o legado das gestões do PT à frente do governo federal para as periferias, os participantes do encontro apontaram as dificuldades enfrentadas neste momento de desconstrução de conquistas sociais e indicaram a necessidade de se avançar em relação ao que já existiu.
A pluralidade das pautas e a inteligência construída a partir da atuação de milhares de organizações e movimentos locais foram destaque nas falas, e o ex-presidente agradeceu a oportunidade de escutar tantas contribuições ao debate. “Isso aqui é quase que um roteiro para um programa de governo”, resumiu Lula, brincando que tem “a orelha um pouco caída de tanto ouvir”.
O ex-presidente reconheceu a necessidade de avançar e aprofundar mudanças iniciadas no passado, como apontado pelos participantes, e afirmou que isso é um compromisso pessoal e também do PT. “É bom que vocês saibam que só tem uma razão para eu querer voltar a ser presidente da República: a crença que eu tenho que a gente pode recuperar aquilo que a gente fez de bom e fazer muito mais.”
Conquistas da periferia
Ao longo do evento, foram lembradas as políticas de demarcação de terras quilombolas e indígenas, a ampliação do acesso à universidade e a consolidação das políticas de cotas raciais, os avanços no combate à fome e a miséria durante o governo Lula. “O presidente Lula, quando assumiu o governo, ele prometeu pra nós três refeições na mesa. Ele não só nos garantiu as três refeições, como também trouxe qualidade de vida pro povo pobre, pra mulher negra da periferia”, disse Janete Lima, da Coopera Preta, organização da cidade paulista de Botucatu.
Vários participantes ressaltaram que as conquistas celebradas durante o encontro são resultado de movimentos e mobilizações históricas das periferias e encontraram ressonância nas gestões do PT. Douglas Belchior, da Uneafro, destacou que a maior parte das políticas aprovadas naquele período “foi desenhada a partir do chão dos territórios”. “A unidade das periferias é a violência racial, mas é também a potência política e a resistência a isso”, resumiu o educador popular e liderança do movimento negro.
Inteligências e representação
Um aprofundamento das relações com estes grupos, com uma representação maior dos periféricos nas estruturas de governo e também nos legislativos foram seguidamente apontados como caminho para o Brasil avançar. “O indio pode ter celular, pode usar batom, o índio pode estar na política e a gente precisa eleger cada vez mais representantes indígenas”, disse Pagu Rodrigues, da etnia fulniô, representando as mulheres indígenas urbanas e aldeadas.
“A gente não pode negar que há uma inteligência construída a partir dos territórios periféricos que precisa ser aproveitada no campo da política e na construção das políticas públicas”, disse Claudinho Silva, da Coordenação Nacional das Entidades Negras.
O ex-presidente Lula reforçou a necessidade de mudanças na representação popular no Congresso Nacional e disse que estará empenhado em convencer a população a prestar atenção nas eleições para deputado e senador no ano que vem. E afirmou aos presentes que a inversão de prioridades que precisará ser feita no Brasil só acontecerá “com vocês empurrando a gente”. “Político que nem eu adora aplauso e se ouve crítica já fica nervosinho. Mas eu preciso escutar quando vocês estão calmos e quando estão bravos.” Questões como a violência racial e o enfretamento da “uberização” da economia foram trazidas pelos participantes.ento em massa, a desmilitarização da polícia como desafios a serem enfrentados no momento de reconstrução do Brasil.
Homenagem a Carlos Neder
Durante a realização do encontro, os participantes foram informados da morte, em decorrência da covid-19, do ex-deputado e ex-secretário de Saúde de São Paulo Carlos Neder.
Coube ao ex-ministro e ex-prefeito Fernando Haddad fazer uma homenagem a Neder, uma liderança história do PT e o do movimento de saúde. “Nós todos perdemos um grande amigo, uma pessoa que dedicou toda a sua vida à medicina, a ajudar o próximo e a construir o Sistema Único de Saúde”, disse Haddad, pedindo aos presentes um minuto de silêncio.