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Em vídeo, Lula conta como o multilateralismo na política externa foi importante em seu governo

O governo Lula mudou a prioridade da política externa brasileira e trabalhou para ampliar as relações entre o Brasil e o mundo, especialmente os países africanos e a América Latina. Enquanto presidente, Lula atuou para fortalecer os órgãos regionais a participação do Brasil nas instituições multilaterais. Num vídeo gravado na sede do Instituto Lula em São Paulo, o ex-presidente conta um pouco dos desafios e dos planos que tinha para a política externa brasileira quando assumiu o governo.

Após deixar o governo, o ex-presidente fundou o Instituto Lula, que tem o trabalho com a África e a América Latina como dois de seus objetivos principais. Para saber mais sobre as iniciativas do Instituto Lula, clique abaixo:
Iniciativa África
Iniciativa América Latina

Nesta terça-feira (14), acontece em Porto Alegre (RS) um seminário sobre a política externa nos governos Lula e Dilma. O evento, que terá a presença da presidenta Dilma Rousseff, será organizado pelo Partido dos Trabalhadores, pela Fundação Perseu Abramo e pelo Instituto Lula.

Leia abaixo a transcrição completa do vídeo de 4min44seg

O compromisso do Brasil com o multilateralismo
Se você ler o meu discurso de posse, você vai perceber que estava na minha cabeça a questão do multilateralismo, a questão da relação Sul-Sul e estava na minha cabeça ter uma relação prioritária com o continente africano e com a América do Sul e a América Latina. Disso eu tinha convicção. Por isso eu coloquei no meu discurso muito claro o compromisso do Brasil com o multilateralismo, com o continente africano e com o continente latino-americano. Apesar de termos feito uma política muito abrangente e termos pensado em todo mundo.

Política é como amor, é uma coisa química
Eu acredito numa coisa que é o seguinte: a relação humana você não faz por e-mail, a relação política você não faz por fax, você não faz por telefone, é uma coisa pessoal. Ou seja, política é como amor, é uma coisa química. Ou você sente uma interação entre dois seres, dois objetos, ou não sente. Então eu acredito muito nessa coisa de pegar na mão, de olhar no olho… As pessoas se incomodavam porque eu abraçava muito as pessoas. Eu sou assim, eu gostava de fazer assim, eu gostava que as pessoas se sentissem muito à vontade comigo. Eu não queria que, ao terminar o meu mandato, o presidente que eu tinha conhecido me visse apenas como ex-presidente. Eu queria que eu o visse como um companheiro e ele me visse como um companheiro.

Eu tinha em mente que precisaríamos criar novos parceiros
Eu tinha em mente que o Ministério das Relações Exteriores tinha de ser mais ágil, de fazer mais política, de viajar mais, que o Brasil tinha que fortalecer as suas embaixadas. Eu tinha em mente que o Ministério do Comércio Exterior tinha de ser um verdadeiro mascate. Porque estava tudo muito acomodado. Tudo dependia do que os Estados Unidos faziam, tudo dependia do que a Europa fazia. Ora, obviamente que nós sabemos que são dois setores muito importantes para o Brasil, são duas regiões importantíssimas, mas o mundo não é só isso. O mundo já tinha China, já tinha Índia, já tinha Indonésia, já tinha o continente africano todo, tinha a América Latina, tinha a Argentina do nosso lado, Uruguai, Paraguai, Bolívia… Então eu tinha em mente que nós precisaríamos criar novos parceiros. Nós não podíamos ficar dependentes de um país ou de um bloco. Quanto mais heterogênea e quanto mais multilateral nossa relação, melhor para o Brasil.

Valeu a experiência agressiva na política externa
E foi isso o que aconteceu. Eu, de vez em quando, lembro as pessoas que quando nós chegamos à Presidência, o Brasil tinha um fluxo de comércio exterior de 107 bilhões de dólares [por ano], entre tudo o que a gente exportava e tudo o que a gente importava. Quando nós deixamos a Presidência, nós tínhamos alcançado 482 bilhões de dólares [por ano]. Numa demonstração de que valeu a pena a gente acreditar nas incursões que o governo brasileiro fez e na maioria das vezes eu participei. O ministro das Relações Exteriores trabalhou muito, o ministro da Indústria e Comércio trabalhou muito, porque em vez de ficar esperando que as pessoas viessem aqui, nós fomos lá. É como se alguém falasse pra você: naquela praça tem um monte de moça bonita, e você ficasse no portão esperando que alguma daquelas moças passasse lá, no portão onde você estava. Quando o correto era você sair de seu portão e ir lá na praça. O que eu fiz foi isso, saí daqui. Sem deixar de dar importância para os Estados Unidos, sem deixar de dar importância para a União Europeia, viajar mais para a China, viajar mais para a Índia, viajar mais para os países africanos, viajar mais para os países da América Latina, da América do Sul, da América Central… ou seja, viajar o mundo que até então era um pouco menosprezado pela visão de quem governava o Brasil. Eu acho que essa visão prevaleceu, nós fortalecemos muito a participação multilateral do Brasil em todas as instituições, brigamos muito para mudar, não conseguimos mudar, mas de qualquer forma, eu acho que valeu a pena a experiência agressiva que o Brasil teve na sua política externa.

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