Uma forte emoção marcou o lançamento do livro “Querido, Lula”, na noite desta terça-feira, 31, no Teatro Tuca, em São Paulo. Organizado pela francesa Maud Chirio e editado pela Boitempo, a obra reúne parte das milhares de cartas que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu enquanto esteve preso injustamente por 580 dias em Curitiba.
As cartas, um grande afago a Lula e a todos que se indignaram com a prisão política, cujo objetivo foi tirar o ex-presidente da disputa eleitoral de 2018, são em conjunto um grande reconhecimento às realizações dos governos Lula e do PT.
Todos os missivistas reconhecem o papel fundamental dessas gestões para a inclusão social no Brasil. A maioria registra histórias pessoais de beneficiados por diferentes programas como Bolsa Família, Prouni, Fies, Minha Casa, Minha Vida, Pronaf e outros.
Com presença de Lula e sua companheira Janja, da ex-presidenta Dilma Roussef, do ex-ministro Fernando Haddad e a esposa Estela, o evento de lançamento contou com leitura feita pelos próprios autores das cartas e por constelação de artistas brasileiros como Denise Fraga, Zélia Duncan, Camila Pitanga, Celso Frateschi, Grace Passô, Cida Moreira, Cleo Pires, Débora Duboc, Gustavo Novo e outros.
Num teatro lotado, mesmo ainda com restrições de ocupação relacionadas à Covid-19, muitas pessoas não conseguiram conter as lágrimas ao ouvir tantas histórias que, destinadas a Lula e com foco em muitas das políticas de seus governos, são um retrato sem retoques do Brasil.
Um dos momentos de muita emoção foi quando o potiguar Lucas Ribeiro leu sua carta. De uma família de 18 irmãos, dos quais 11 morreram entre oito meses e dois anos de idade por desnutrição infantil, a família viveu limitações para sobreviver, mas ele rompeu a fronteira da pobreza, como tantos conseguiram durantes os governos petistas, e foi à universidade. Hoje tem carro e casa própria, adquirida pelo Minha Casa Minha Vida.
Lucas contou na carta endereçada ao ex-presidente lembrar da mãe ficar fora da mesa durantes as refeições para se servir das sobras, depois que os filhos comessem, se sobrasse. Se não, ela se servia de uma mistura de farinha com café. “Associo o teu cárcere político à sublime “ausência de mãe à mesa” porque sinto tua paciência, tua sabedoria em aceitar sem odiar os teus algozes da mesma forma que mãe renunciava o direito de se alimentar sem desespero ou revolta. Eu, aquele Zé Ninguém, o famoso “Zé Roela” lá do interior, teve oportunidade de comprar um apartamento pelo MCMV. (…) Obrigado Lula, por existir e provar que um torneiro mecânico e uma mulher podem sim chegar lá e fazerem a diferença. Isso nos motiva a lutar. As sementes plantadas por vocês são como rama de batatas ao solo, uma vez plantadas nunca mais conseguiremos elimina-las, elas sempre renascem”.
Em discurso, após ouvir emocionado tantas leituras, Lula contou que as cartas eram injeção de ânimo na prisão e significavam que ele estava no rumo certo para provar que era inocente, que sua narrativa era verdadeira e não a de quem o acusou.
Lula também se disse impressionado com a mobilização de apoio a ele por meio da vigília que permaneceu durante todo o período nas imediações da Polícia Federal em Curitiba o saudando diariamente, três vezes ao dia, com bom dia, boa tarde e boa noite, presidente Lula.
“Eu não tinha tido a experiência de acordar todo dia com as pessoas gritando. Eu não acreditava que aquilo era verdade, que aquilo estava acontecendo, cada vez mais gente, mais solidariedade”, disse acrescentando estar vivendo um momento primoroso na vida pessoal e na esfera política.