Enquanto Bolsonaro comemora deflação, famílias reviram lixo para se alimentar

Redução forçada do ICMS da gasolina e energia, imposta aos estados, tenta maquiar o custo de vida no Brasil, mas só beneficia famílias com renda acima de 8 salários mínimos

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Deflação não reduz fome

Bolsonaristas estão no Twitter comemorando a chamada deflação, o que sugere a seguinte pergunta: estamos diante de um sucesso da gestão econômica? A resposta é simples e objetiva: não. Os números são momentâneos e refletem “a redução do ICMS da gasolina e energia imposta aos estados, que ficarão com um enorme problema orçamentário para resolver”, como explica reportagem do jornal Valor Econômico, publicada no início de agosto. O diário aponta que, sem a canetada eleitoreira, a inflação brasileira de 2022 estaria acima de 8%.

O problema é que a jogada do governo federal para reduzir o preço dos combustíveis em ano de eleição aumentou as incertezas para as contas públicas de 2023. O rombo nos cofres de estados e prefeituras será de algo em torno de R$ 92 bilhões, segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM) – organização independente, apartidária e sem fins lucrativos, que reúne prefeitos de todo o Brasil . O corte acarreta diretamente no dinheiro investido por esses órgãos em saúde e educação, e a previsão é que esses serviços piorem cada vez mais.

Enquanto isso o povo brasileiro segue pagando a conta. E pagando muito caro. Nos últimos dias, a triste história do menino que ligou para polícia para avisar que a família estava passando fome na Grande Belo Horizonte correu o mundo, chegando a ser destaque no francês Le Parisien.

Os números infelizmente não mentem. E a fome no Brasil tem alvo, como pontuou o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSB), em encontro com empresários na sede da Fiesp, na Avenida Paulista. “A inflação não é socialmente neutra, ela prejudica os mais pobres”.

Último relatório publicado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) revela que 33,1 milhões de pessoas não tem o que comer. São pessoas pobres passando fome no país.

Outra matéria, desta vez no jornal O Globo, que relata a história de um pintor desempregado que foi fotografado revirando um caminhão de lixo, é chocante. Há um mês ele se alimenta com comida estragada, descartada por um supermercado. Dos dez membros da família, apenas um bebê de um ano e oito meses não come os produtos fora do prazo de validade.

“Tem dias que são 15 a 20 pessoas revirando o lixo em busca de comida. Sabe o que é isso? Necessidade. Eu e meus filhos já comemos comida que estava há um mês vencida. Mas Deus olha lá de cima e não deixa que a gente passe mal. Se fosse uma pessoa com dinheiro comendo um negócio desses…”, disse Ivanir Silva Moraes Junior, segundo a publicação.

Sobre a deflação comemorada por bolsonaristas, bem, de acordo com o IPC FX, índice da Fipe que mede a inflação na cidade de São Paulo, a deflação nos preços ao consumidor registrada em julho beneficiou apenas as famílias com renda mensal acima de oito salários mínimos. Ou seja, se você não ganha mais do que R$ 9.696, você não tem muito o que comemorar.