Escola de bambu na Libéria é “missão cumprida”

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Em setembro, no retorno das férias, 350 crianças da comunidade de Fendell, Libéria, passarão a estudar em uma nova escola, a Escola de Bambu. Depois de um projeto de três anos, que contou com a contribuição de mais de oito mil brasileiros, o idealizador do projeto, Vinícius Zanotti, está de volta ao Brasil. Recuperado da malária e da febre tifoide, o jornalista de 28 anos voltou 15 quilos mais magro e trouxe na bagagem experiências e histórias que pensa em compartilhar no futuro em um livro, ou talvez até em um filme. Como legado, deixou em pé uma escola, usando materiais locais e técnicas que os liberianos aprenderam a usar.

Durante cinco meses, uma equipe de três brasileiros acompanhou a obra. O arquiteto André Dal’bó, o construtor Peetssa P2RCA e o jornalista Vinicius Zanotti, além de construir a escola, trabalharam em repassar conhecimento sobre construção e organização social aos trabalhadores locais, bem como aos alunos do Centro Vocacional de Kakata. “A ideia não era apenas construir uma escola, mas transferir uma tecnologia pesquisada e aplicada no Brasil para a Libéria”, conta Vinicius.

A ideia do projeto começou em uma viagem que ele fez à Libéria em 2010, quando conheceu o professor Sabato Neufville. Aos 34 anos, ele tinha nove filhos adotivos, todos crianças órfãs de guerra. Com o salário de US$ 800, que recebia como prestador de serviços da missão da ONU no país ele matinha não apenas os nove filhos, mas também financiava atividades de teatro, dança e música em dois diferentes bairros. Desde 2009, ele havia construído uma escola que atendia 300 crianças.

A Libéria
País de quatro milhões de habitantes, a Libéria tem uma história única na África. Ela foi uma colônia dos EUA, fundada e povoada por ex-escravos norte-americanos no século 19. Em 1989, o país entrou em uma guerra civil que só terminou em 2003 e deixou um rastro de devastação. A situação foi agravada por um embargo econômico imposto ao país entre 2001 e 2007, pois a Libéria foi acusada de contrabandear diamantes retirados de Serra Leoa. Como resultado, atualmente está entre os países mais pobres e com pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo.

A escola
Durante os cinco meses de construção, os brasileiros trabalharam com uma equipe de funcionários locais, que variou de oito a 30 pessoas. Na maior parte do tempo, viveram no terreno da obra e se alimentavam de refeições baseadas em arroz mergulhado no azeite de dendê com pés de galinha – a mesma comida servida a todos os operários. A rotina na obra envolvia também dividir habitação com parte dos funcionários e, mesmo dormindo com a proteção de mosquiteiros, os brasileiros contraíram malária. No entanto, enquanto a construção se aproximava do fim, os problemas foram se tornando cada vez maiores e, dois dias antes do término da obra, a dupla que estava na Libéria se viu na contingência de deixar o país.

“O retorno estava previsto para dali a 16 dias. Porém, em função da falta de garantias de segurança por parte das instituições locais e depois de uma série de problemas que colocaram em risco a segurança, decidimos deixar a Libéria o mais breve possível. Decisão difícil, mas necessária”, conta Zanotti. Antes de sair, eles se certificaram de que no local haveria material suficiente para concluir a obra, incluindo itens de acabamento, e o pagamento dos salários de todos os trabalhadores.

“Quando o projeto se iniciou, sabíamos que não seria fácil, sendo a segurança da equipe tema e objeto de preocupação constante”, explica. “Claro que a insegurança não é um problema que se sente apenas da Libéria. Aqui mesmo no Brasil, nos assustamos com algumas das barbáries que ocorrem”. Para Vinícius Zanotti, as situações constantes de burocracia, pequenos e constantes furtos e abusos das autoridades locais foi se transformando em uma situação de risco físico real.

De volta ao Brasil, Zanotti entrou em contato com todos os funcionários liberianos e com o professor Sabato, que informou que a escola ficou muito bonita e será estreada no início das aulas, em setembro. Você poderá conhecer melhor essa fantástica história no bate-papo com Vinicius que o Instituto Lula deve promover no início de outubro.

Para saber mais sobre o Projeto Escola de Bambu:
Site oficia: http://escoladebambu.com/
Facebook: https://www.facebook.com/escoladebambu