Ken Livingstone, prefeito de Londres entre 2000 e 2008, escreveu sobre a prisão política de Lula e o golpe no Brasil em artigo publicado em 10 de agosto. “A luta pela liberdade de Lula é também a luta pela democracia e pelo progresso social no Brasil”, disse o ex-prefeito inglês.
Confira abaixo o artigo traduzido:
Estamos com Lula
Precisamos intensificar as campanhas de solidariedade internacional pela liberdade de Lula, pela democracia e pelo progresso social no Brasil
Como muitos que seguem a América Latina saberão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está detido em uma prisão desde o dia 07 de abril.
Sua prisão está sendo largamente condenada pela Organização Internacional do Trabalho e pelo movimento sindicalista como politicamente motivada. Somente no último mês, o Unite, maior sindicato da Grã-Bretanha, e a AFL-CIO (Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais), maior central operária dos Estados Unidos, demonstraram apoio à campanha de libertação de Lula. O Unite também expressou sua solidariedade ao movimento sindicalista brasileiro e demandou o fim aos ataques à democracia e ao progresso social que estão acontecendo no Brasil desde o golpe de 2016.
O “golpe parlamentar” fez Dilma Roussef – que recebeu 54 milhões de votos – ser removida da presidência sem um único voto do povo brasileiro.
Incrivelmente, apesar de Lula estar agora na prisão – e apesar dos difundidos e persistentes ataques para manchar a imagem de Lula concebidos pela mídia privada brasileira nos últimos anos – as pesquisas de opinião mostram que ele é ainda o líder nas escolhas dos brasileiros para a eleição presidencial de outubro.
Lula enfrentou esse julgamento feito pela mídia como parte de uma campanha acordada contra ele, em que seus direitos humanos básicos foram violados. Quando o ex-presidente foi condenado por “atos indeterminados” sem nenhuma evidência material providas contra ele, a parcialidade e a injustiça do caso tornaram-se claras; porém, Lula e seus apoiadores continuam lutando.
Lula permanece o político mais popular no Brasil porque ele governou um período de sucesso, retirando milhões da pobreza com seus programas sociais inovadores que reduziram a desigualdade.
Quando eu era prefeito de Londres, tive o privilégio de conhecer Lula. Era absolutamente claro para mim que melhorar a vida dos brasileiros era sua paixão e sua razão para estar envolvido na política.
Como a secretária geral da Confederação Sindical Internacional Sharan Burrow disse recentemente: “A democracia deve ser restabelecida urgentemente. A única maneira de atingir isso é através de eleições justas e democráticas em que Lula tenha o direito de ser candidato”.
Entretanto, essa luta não é apenas sobre um único homem. Nós devemos nos posicionar perante à democracia e ao progresso social no Brasil. E devemos demonstrar solidariedade a todos os movimentos em todo o país que estão resistindo ao golpe de governo.
Desde o verão de 2016, o governo não-eleito do Brasil impôs medidas neoliberais de linha dura, incluindo um congelamento de gastos públicos de 20 anos e planos de privatizar a companhia estatal de petróleo.
De fato, o atual governo de direita não-eleito no Brasil é tão ruim que a definição de escravidão foi afrouxada com uma medida controversa criticada pelo relator especial das Nações Unidas. Ele disse que o decreto do governo “enfraqueceria a proteção às populações pobres e excluídas que são vulneráveis à escravidão”.
Tudo isso foi feito sem nenhum endosso eleitoral e o atual presidente possui um índice de popularidade de 2%.
Além disso, a prisão de Lula foi acompanhada pelo aumento da repressão por parte do governo atual do presidente não-eleito, incluindo a destruição de direitos conquistados pelos sindicatos; a repressão de protestos de movimentos sociais; e os últimos eventos particularmente preocupantes, como o assassinato politicamente motivado da vereadora socialista, negra e bissexual Marielle Franco, em março.
Não obstante, a resistência continua por todo o país contra o governo ilegítimo através de greves, protestos, ocupações, entre outros.
A dura realidade é que 54 milhões de brasileiros votaram em um presidente de esquerda, mas tiveram um presidente de direita imposto sobre eles. Aparentemente, eles estariam enfrentando uma escolha apenas entre candidatos de direita ou candidatos centristas na próxima eleição, se Lula fosse mantido fora das urnas.
Felizmente, a esquerda brasileira se uniu em torno da situação do líder mundial preso e um acordo foi feito para Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, concorrer em seu lugar, se for negado o direito de concorrer a Lula.
Apesar de ter um substituto, Lula é o candidato e o próprio Haddad disse que vai “viajar por todo o país levando a voz de Lula”. Está claro que milhares de progressistas ao redor do mundo não estão desistindo de Lula e de seus ideais.
A menos que façamos tudo o que pudermos internacionalmente para Lula, a democracia em um dos países mais populosos e diversos do mundo será desviada pela segunda vez em dois anos. Com as políticas do governo do golpe já prejudicando o bem-estar social e os cuidados de saúde para os mais pobres do país, a luta no Brasil pela democracia e pelo progresso social também é nossa luta.
E essa luta também é importante em termos mais amplos na América Latina para o futuro dos movimentos progressistas e dos sindicatos.
A administração Trump apoiou os passos para trás no Brasil, e isso é parte de uma tendência preocupante dos EUA de apoiar governos e movimentos reacionários, direitistas e antitrabalhistas na região.
O futuro de Lula, e se ele poderá se candidatar, será decidido na próxima semana. Vamos intensificar a pressão internacional para que a impressionante vitória da esquerda no México no mês passado não seja o único grande ganho para os progressistas na América Latina este ano.