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Ex-presidente grava mensagem para a abertura do Fórum Brasil-África

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva gravou uma mensagem para a abertura do Fórum Brasil-África. O evento foi organizado pela revista This is Africa, do jornal Financial Times, em Joanesburgo, na África do Sul. O Instituto Lula é apoiador do evento e foi representado na ocasião pelo seu presidente, Paulo Okamotto.

No vídeo, Lula diz que “o século 21 deve ser o século da África, o século do seu desenvolvimento”. Ele fala sobre o crescimento africano e a necessidade de os países emergentes apoiarem o continente.

Leia abaixo o discurso completo: (Cliquez ici pour lire le discours en français)

MENSAGEM DE ABERTURA DO PRESIDENTE LULA

É com muita satisfação que eu me dirijo a vocês em Johanesburgo, neste Fórum Brasil-África.

Eu quero cumprimentar os realizadores e patrocinadores deste encontro. Essa iniciativa deve ajudar a melhorar ainda mais as relações do Brasil com esse imenso e belo continente que é a África.

Eu quero começar dizendo uma coisa para vocês: o século XXI deve ser o século da África, o século do seu desenvolvimento.

Desde o ano 2000 a África cresce a taxas muito mais altas que as dos países desenvolvidos.

É necessário que o Brasil, os demais países emergentes e os países ricos se comprometam profundamente com o desenvolvimento da África.

Todos precisam apoiar a execução de projetos estruturantes. Projetos que permitam a África crescer com suas próprias pernas.

Ações humanitárias são sempre bem-vindas, mas não resolvem o principal.

Os africanos sabem disso e têm planos para enfrentar seus graves problemas estruturais. E todos nós temos a obrigação de conhecê-los.

A União Africana reuniu-se em janeiro e aprovou o “Programa para o Desenvolvimento de Infraestruturas na África”, o PIDA.

Nesse programa foi definido o que precisa ser construído para interligar e integrar o continente até o ano de 2040. São descritas todas as obras imprescindíveis nas áreas da energia e transporte.

A União Africana já definiu suas prioridades e deixou claro que o capital estrangeiro é bem-vindo para ajudá-los a cumprir esse programa.

Eu creio que os empresários já conhecem o PIDA e viram o caminho de oportunidades que está aberto na área de infraestrutura.

Mas também são enormes as possibilidades nas áreas de produção de etanol, de biodiesel e de alimentos. Na indústria química e farmacêutica, na área financeira, nas telecomunicações, na indústria de calçados.

Nós não podemos ver a África apenas como fornecedora de minérios e petróleo. Como se fosse ainda uma colônia, cujas riquezas não são aproveitadas por seus povos.

Eu gostaria de ver os empresários brasileiros se associando com os empresários africanos para produzir energia, plantar soja, cana, milho.

A nossa relação com a África, meus caros, tem que ser de parceria.

Nós devemos privilegiar o uso de mão de obra africana. Devemos incentivar a transferência de tecnologia, definir contrapartidas sociais com os governos africanos e respeitar as particularidades e regras de cada país.

Minhas amigas e meus amigos,

Eu sou um otimista. Eu acredito no desenvolvimento da África apesar da crise econômica internacional.

Na verdade, essa crise é a continuidade daquela de 2008, que não impediu que a América Latina e a África continuassem crescendo.

Claro que todos nós sofremos as consequências do que ocorre na Europa. Mas, não podemos ficar paralisados diante de uma situação que não foi criada nem por latino-americanos, nem por africanos.

A verdade é que a crise nos revela cada vez mais a importância das relações Sul – Sul que ajudam sobremaneira na diminuição da dependência do comércio com os países europeus.

O Brasil, a África do Sul, os países latino-americanos e africanos, precisam aumentar sua participação na direção dos organismos multilaterais.

Meus caros,

Há uma realidade diante dos nossos olhos: os africanos encontraram o caminho do desenvolvimento e, ao mesmo tempo, avançam em direção à democracia.

A sociedade se organiza, novas entidades representativas são criadas, eleições para cargos legislativos ou executivos acontecem por todo o continente.

Essa nova África que surge é a África do século XXI.

Minhas amigas e meus amigos,

O Brasil é a segunda nação negra do mundo. Apenas a Nigéria tem uma população negra maior que a nossa.  Temos uma identidade fantástica com os povos africanos.

Hoje somos a sexta economia do mundo e conseguimos isso ao combinar desenvolvimento econômico, com distribuição de renda e pleno funcionamento das instituições democráticas.

Num clima de paz e harmonia, mais de 28 milhões de brasileiros saíram da miséria e 40 milhões ascenderam à classe media. O Brasil atraiu investimentos estrangeiros, criou e consolidou empresas nacionais e desenvolveu seu mercado interno.

Neste período, nós privilegiamos nosso contato com a África e nossas relações econômicas cresceram muito.  Em 2011, o comércio entre nós movimentou vinte e sete bilhões e seiscentos milhões de dólares.

Mas esses números podem melhorar ainda muito mais.

Meus caros amigos,

Eu também preciso chamar atenção de vocês para outro importantíssimo aspecto desta discussão: mais de trezentos milhões de seres humanos no continente estão em condições de insegurança alimentar.

Nós não podemos dormir em paz com essa situação.

Eu acredito firmemente que, ao mesmo tempo em que o continente se desenvolve e as obras são construídas, é preciso também privilegiar a produção de alimentos e combater a fome.

Foi assim que fizemos no Brasil e eu acredito que seja possível fazer na África.

Nossas experiências na área da agricultura familiar, o trabalho da Embrapa, o programa “Mais Alimentos”, foram inúmeras as ações que deram certo no Brasil e que podem, com as devidas adaptações, serem aproveitadas aqui.

Por isso, eu apoio uma iniciativa muito importante da FAO. Ela pretende realizar na África, no início de 2013, um Encontro de lideranças africanas e internacionais para apontar novos caminhos para unificar e coordenar o combate pela erradicação da fome no continente.

Eu acho, meus caros, que a FAO e a União Africana, juntas, podem pensar na criação de um espécie de “PIDA Social”, um Programa de Desenvolvimento Social que unifique o enfrentamento da questão alimentar.

Eu não aceito a ideia de que uma parte do mundo nasceu para ser rica e outra nasceu para ser pobre.

Ajudar não é só distribuir comida. Ajudar é criar renda, criar empregos, para o cidadão ter a liberdade de comprar o que quiser e quando quiser.

Enfim, meus caros, impulsionar a melhoria das relações com a África, é acreditar no seu desenvolvimento, investir no continente e participar do combate à fome.

Essa batalha é muito dura. E nela a participação do empresariado é muito importante.

Recebam o meu mais afetuoso abraço e os votos de um excelente seminário para todos.

 

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