O ex-presidente Lula recebeu nesta sexta-feira (1º) o título de doutor honoris causa pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), em Redenção, no Ceará.
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O discurso do ex-presidente foi marcado pela importância na educação, capaz de transformar a vida das pessoas e o país. “Com o Plano de Desenvolvimento da Educação lançado em 2007, o Brasil começou a virar o jogo. Pela primeira vez o país se viu diante de uma política pública que olhava a educação como um todo, da creche a pós-graduação. Orgulho-me de ter criado 14 novas Universidades Federais, dentre elas a Unilab, e 126 extensões universitárias, nas mais diversas regiões do país, democratizando e interiorizando o acesso ao ensino superior. Sem falar nas 214 novas escolas técnicas federais, que abriram possibilidades inéditas de formação profissional da juventude. Dobramos o número de vagas nas universidades públicas. Instituímos o sistema de cotas para favorecer o acesso de afrodescendentes ao ensino público superior. Por meio do Prouni, já oferecemos 1 milhão e 300 mil vagas para estudantes de famílias pobres nas instituições particulares”, enumerou Lula.
Em seu discurso, o ex-presidente Lula se disse emocionado em receber o título e relembrou todo o processo de criação da Unilab, que começou em 2008. Sobre a escolha da cidade de Redenção como sede, ele lembrou que 116 negros foram libertos no município – então chamado Vila Acarape – cinco anos antes da abolição da escravatura no Brasil.
Lula encerrou dizendo para os alunos que eles nunca desistam da política, pois “a negação da política é a pior coisa que existe”. E elogiou os avanços no continente africano, com a realização de cada vez mais eleições democráticas, e o povo nordestino, por sua força e coragem. “Durante muito tempo nós fomos doutrinados a andar de cabeça baixa. Posso dizer pra vocês: Eu conheço o mundo. Convivi com as pessoas mais importantes do mundo. Posso dizer pra vocês, não tem ninguém mais inteligente do que nós. O que nós queremos é andar de cabeça erguida”. E insistiu: “não desistam nunca de sonhar. Não desistam nunca de construir um futuro melhor”.
O título de doutor honoris causa entregue ao ex-presidente Lula foi o primeiro concedido pela Unilab. A universidade foi criada em 2010, no governo do ex-presidente Lula. A cerimônia contou com falas do governador do Ceará, Cid Gomes, do ministro da educação, Aloizio Mercadante, e do reitor, Paulo Speller, além do próprio homenageado.
Cid Gomes dedicou sua fala a lembrar do compromisso do ex-presidente Lula com a educação durante todo seu governo. “Lula acreditou no poder do conhecimento e colocou em prática uma política de expansão das universidades federais”, afirmou. Já Aloizio Mercadante, começou seu discurso falando da importância da universidade. “A Unilab é parte de uma dívida história que o Brasil tem com as nações africanas”, ressaltou. O ministro ressaltou os avanços que estão sendo feitos na educação no Brasil e na integração e colaboração com outros países.
Além da homenagem, outras atividades acompanharam a visita. A primeira delas foi um almoço com representantes dos docentes, alunos e técnicos-administrativos da universidade. Na ocasião, estiveram presentes o ministro da educação, Aloizio Mercadante, o governador do Ceará, Cid Gomes, o reitor da Unilab, Paulo Speller. O grupo de alunos presentes representava a diversidade que é marca desta instituição de ensino, já que foi composto por alunos de seis países diferentes – Guiné Bissau, Timor Leste, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Angola e Cabo Verde. Durante o almoço Lula lembrou que quando assumiu o governo, em 2003, uma das primeiras coisas discutidas foi a criação de uma universidade Brasil-África.
Logo após o almoço houve uma pequena cerimônia em que o prefeito da cidade de Acarape, Franklin Veríssimo, entregou o título de Cidadão Acarapense para o ex-presidente Lula e também para o ministro Aloizio Mercadante, o reitor Paulo Speller e o governador Cid Gomes.
Em seguida, Lula visitou duas obras da universidade: a expansão do campus dos Palmares e a construção do campus das Auroras, que será o campus central da universidade. Nos dois locais, o ex-presidente foi carinhosamente recebido pelos operários, com quem conversou e tirou fotos. Durante as visitas, Lula deixou também sua marca colocando a mão em uma placa de cimento que será colocada no centro da praça da universidade.
O último ponto de parada da visita à universidade foi o campus da Liberdade, onde aconteceu a cerimônia de entrega do Título de Doutor Honoris Causa. Em um pátio lotado de estudantes, o prefeito da cidade de Redenção, Manoel Bandeira, entregou a Lula o título de cidadão de Redenção e uma placa da população da cidade, em agradecimento à criação da Unilab.
Leia abaixo a versão lida do discurso (não contém os improvisos):
HONORIS CAUSA UNILAB – REDENÇÃO 8/02/2013
Recebo com emoção o título de doutor Honoris Causa da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.
Considero que esta homenagem se estende a todos aqueles que lutaram e ainda lutam para promover a integração dos povos da lusofonia, no espírito de uma cooperação fraterna entre países soberanos.
A criação da Unilab foi um marco histórico no processo de integração de culturas diversas, espalhadas pelos continentes e unidas pelo uso do Português como idioma oficial.
E foi, principalmente, um marco na cooperação pelo desenvolvimento entre o Brasil e os países lusófonos da África – Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe – aos quais se soma Timor Leste como parceiro da Unilab.
Temos outros laços além do idioma e de raízes históricas comuns. Temos desafios concretos para o desenvolvimento de nossos países, todos eles marcados, historicamente, por profundas desigualdades que buscamos superar.
Simbolicamente, mas também com um sentido muito prático, alcançamos com a Unilab o mais elevado patamar dessa integração.
Aqui se elabora um patrimônio comum de conhecimento, que será compartilhado com as populações dos países de onde provêm nossos professores e estudantes.
Aqui estamos construindo o futuro. Um futuro que será de paz, justiça social, democracia e progresso para nossos povos.
Meus amigos, minhas amigas,
A implantação desta instituição começou em 2008, pelos trabalhos de uma comissão que identificou temas comuns ao Brasil e aos membros africanos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Em 20 de julho de 2010, tive a honra de sancionar a Lei 12.289, que instituiu a Unilab como Universidade Pública Federal. Foi um dos atos mais gratificantes do período em que fui presidente do Brasil.
Decidimos sediá-la na região Nordeste, onde são maiores em nosso país as marcas da desigualdade e os desafios do desenvolvimento.
A escolha do município de Redenção para sediar o primeiro campus da Unilab tem um forte simbolismo para esse projeto.
Foi aqui, na antiga Vila de Acarape, que 116 homens e mulheres foram libertos da escravidão, em 1º de janeiro de 1883, antecipando em 5 anos o fim daquela prática abominável em território brasileiro.
Os abolicionistas de então – José do Patrocínio, Antônio Tibúrcio, Liberato Barroso, Justiniano de Serpa, dentre outros – presidiram aquele gesto redentor, quando a cidade adotou seu nome atual e se projetou como vanguarda da liberdade no Brasil.
No campus de Redenção repousam os valores de liberdade, justiça e igualdade que inspiram o projeto da Unilab. Aqui começou o resgate de uma dívida secular com os povos africanos.
Quando visitei o Senegal, em 2005 – uma das muitas viagens que fiz à África em meu governo – fiz questão de conhecer a ilha de Goré, porto de onde partiram milhões de escravos para a América.
Ao longo de três séculos, aqueles homens e mulheres arrancados de sua terra, e depois seus descendentes, deitaram suor e sangue sobre o solo em que hoje vivemos.
Lá em Goré, em nome do povo brasileiro, pedi perdão por este que foi certamente um dos maiores crimes já cometidos contra a humanidade.
As marcas da escravidão ainda cobrem o continente africano, como cicatrizes da História, e até mesmo como feridas abertas em determinadas regiões.
São as marcas da fome, da desigualdade, da injustiça, da exploração econômica e das guerras que opõem irmãos.
No Brasil, os descendentes dos escravos, embora formalmente livres, jamais alcançaram coletivamente a condição de iguais numa sociedade injusta.
Permaneceram, na imensa maioria, apartados do acesso às condições básicas de uma vida digna: trabalho, moradia, educação e saúde.
Não há reparação suficiente para o sofrimento e a brutalidade a que tantos povos foram submetidos no passado.
Mas é nosso dever – histórico, moral e político – superar os desafios do presente e semear uma vida melhor para as próximas gerações.
Meus amigos, minhas amigas,
É notável o estreitamento das relações entre o Brasil e os países da África nos últimos anos.
Em meu governo, tive oportunidade abrir ou reativar representações do Brasil em 19 países daquele vasto continente.
Hoje temos relações diplomáticas com todos os 54 países africanos, e há embaixadas brasileiras em 38 deles. Nada menos do que 33 países africanos mantêm representações diplomáticas no Brasil.
Abrimos frentes de cooperação em setores estratégicos para o desenvolvimento econômico e social, sempre respeitando a soberania dos países parceiros.
Com espírito fraterno, contribuímos para o desenvolvimento de técnicas agrícolas, por meio da Embrapa, da agricultura familiar e na gestão de programas contra a miséria.
Apoiamos ações na área da saúde, dentre as quais destaco a implantação da fábrica de antivirais em Moçambique, fundamental no apoio aos portadores do HIV na África Austral.
O Brasil também está presente nos investimentos em infraestrutura nos países africanos, apoiados pelo BNDES, e na indústria do petróleo e gás, por meio da Petrobras, dentre outras iniciativas.
Nosso reencontro com a África se dá num momento excepcional.
Os últimos dez anos foram marcados por um crescimento constante da economia no Brasil e também nos países africanos.
A média de elevação do PIB no continente africano nos últimos dez anos foi de 6,8%, muito superior à dos países mais ricos no mesmo período.
O Brasil, nesses dez anos, conheceu pela primeira vez um ciclo virtuoso de crescimento com inclusão social.
Nós não apenas voltamos a crescer, com estabilidade econômica, mas passamos a crescer em benefício de todos.
Mais de 28 milhões de brasileiros saíram da pobreza extrema e 40 milhões atingiram o patamar da classe média, que representa hoje mais da metade da população.
A chave que abriu em nosso país uma nova era de prosperidade é o modelo de crescimento com inclusão.
Com programas de garantia de renda básica, aumento real dos salários e ampliação do acesso ao crédito, criamos uma nova dinâmica interna na economia, que se soma ao aumento das exportações para fazer o Brasil crescer sustentadamente.
O investimento em educação é fundamental para garantir e ampliar, no futuro, os benefícios desse novo modelo. Por esta razão elegemos a educação como prioridade absoluta.
O orçamento do MEC em 2012, de 72 bilhões de reais, é quatro vezes maior do que os 17,4 bilhões em 2002, último ano do governo anterior.
Não apenas aplicamos mais recursos, mas superamos a falsa dicotomia entre ensino fundamental e ensino superior, que contribuía para manter no impasse uma política pública estratégica.
Com o Plano de Desenvolvimento da Educação lançado em 2007, o Brasil começou a virar o jogo. Pela primeira vez o país se viu diante de uma política pública que olhava a educação como um todo, da creche a pós-graduação.
Orgulho-me de ter criado 14 novas Universidades Federais, dentre elas a Unilab, e 126 extensões universitárias, nas mais diversas regiões do país, democratizando e interiorizando o acesso ao ensino superior.
Sem falar nas 214 novas escolas técnicas federais, que abriram possibilidades inéditas de formação profissional da juventude.
Dobramos o número de vagas nas universidades públicas. Instituímos o sistema de cotas para favorecer o acesso de afrodescendentes ao ensino público superior.
Por meio do Prouni, já oferecemos 1 milhão e 300 mil vagas para estudantes de famílias pobres nas instituições particulares.
Meus amigos, minhas amigas,
Se foi possível darmos este imenso salto para o desenvolvimento, em tão pouco tempo, acredito que os países da África também poderá fazê-lo. Trata-se de um continente com cerca de 1 bilhão de habitantes, que além dessa riqueza humana detém um extraordinário patrimônio natural.
A expectativa de grandes transformações nos países africanos se justifica também pela consolidação da democracia no continente, onde tivemos, no ano passado, eleições presidenciais ou legislativas em nada menos que 26 países.
A União Africana deu um passo significativo para a integração e o desenvolvimento ao aprovar, em janeiro de 2012, o Programa para Desenvolvimento das Infraestruturas em África, o PIDA.
Este programa prevê investimentos públicos e privados da ordem de 360 bilhões de dólares, até 2040, em obras de transportes, energia, tecnologia de comunicações e para garantir o acesso à água em todo o continente.
É uma oportunidade histórica a desafiar toda uma geração.
A energia criativa para o desenvolvimento dos países africanos, em novas bases, está concentrada na juventude, num continente em que 60% da população têm menos de 25 anos de idade.
Aqui na Unilab, temos algumas centenas desses jovens, alguns dos mais talentosos, portadores da esperança de um futuro melhor.
É a vocês que me dirijo especialmente neste momento.
Vocês se empenharam muito para chegar até aqui, em busca de formação nas áreas que a Unilab oferece: Administração Pública, Agronomia, Ciências da Natureza e Matemática, Engenharia de Energia, Ciências Humanas e Letras.
São áreas do conhecimento voltadas para as demandas mais urgentes dos nossos países parceiros.
Mas vocês não chegaram aqui apenas para aprender as disciplinas curriculares.
Chegaram também para ensinar uns aos outros e nos ensinar a todos, pois cada um traz consigo experiências e saberes diversos.
Peço que compartilhem essa riqueza, pois isso é essencial para a consolidação da Unilab e do nosso projeto comum de integração para o desenvolvimento.
Não ocultem as inquietações nem soneguem a crítica, porque é da diversidade que surgem as novas ideias.
Vocês chegaram aqui com seus sonhos, e são também os embaixadores da esperança de um futuro melhor para os nossos povos.
É por isso que também lhes peço: por maiores que sejam os desafios e as dificuldades, não desistam de sonhar.
Não desistam nunca de tentar construir um mundo melhor do que este que vocês receberam.
Não desistam do futuro, porque o futuro será de vocês.
Muito obrigado.
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