“A lógica é que ele possa disputar as eleições sem que os processos judiciais sejam interrompidos”: é o que defende François Hollande, que presidiu a França de 2012 a 2017. Em entrevista exclusiva ao Diário do Centro do Mundo, Hollande explicou que foi nesse sentido que “houve uma mobilização internacional de chefes de estado ou ex-chefes de estado, incluindo eu, para que autoridades que decidiriam sobre a candidatura de Lula permitissem que ele se candidate”.
Hollande, do Partido Socialista francês, enxerga alguns perigos para a democracia brasileira na atual situação vivenciada pelo país. Um deles seria que “a população nesse grande país democrático corre o risco de não poder escolher o presidente que lhe parece apropriado para solucionar os problemas do Brasil”.
Questionado se a democracia brasileira corre risco com Lula preso, o ex-presidente francês não titubeou: “Sim, há um risco. Vemos muito bem que quando o candidato não é aquele que se deseja, o eleitorado se dispersa e quem vai para o segundo turno é a direita e a extrema-direita”.
Na entrevista, Hollande destacou ser muito importante, ainda, “dizer que eu considero que há um risco se Lula for retirado do processo eleitoral, de ir para uma direção que no Brasil, grande país democrático, é preciso jamais esquecer seu passado, da ditadura”.
Afirmando seu respeito às “instâncias que têm por vocação o direito no Brasil”, Hollande comentou, ainda, a decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU e a postura do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) frente a ela.
Para o ex-presidente da França, “sem entrar no debate jurídico, há um assunto político quando um candidato é muito popular para parte dos brasileiros”. Na sua leitura, a decisão do TSE “produz mais uma vez uma situação no Brasil que pode ser perigosa”.
A respeito das relações de Lula com a comunidade europeia, Hollande destacou: “Trata-se de um homem que fez seu país avançar, que teve boas relações com a União Europeia e com os países emergentes. Ele era profundamente respeitado e ouvido”.
Recentemente, o francês lançou o livro “Les Leçons du Pouvoir” (“Lições do Poder”, na tradução literal). Na entrevista ao DCM, Hollande falou, ainda, sobre o papel do socialismo no mundo e a dimensão que o Brasil ocupa na cena internacional. E explicou, por fim, a ascensão da extrema direita no mundo, passando pelos fenômenos de Jair Bolsonaro, no Brasil, e Donald Trump, nos Estados Unidos.
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