Três anos após seu início, a Operação Lava Jato já deixou bem claro sua disposição em encurralar o ex-presidente Lula e varrer o PT do mapa. Para isso, a Força Tarefa de Curitiba fez uso de delações sem provas, prisões preventivas e conduções ilegais, divulgação de grampos sem autorização judicial e vazamentos de inquéritos, entre outras arbitrariedades denunciadas por vozes respeitadas do mundo jurídico.
Nesse período, os investigadores limitaram-se a ligar Lula a contas correntes que nunca apareceram, imóveis e terrenos que nunca estiveram em seu nome e agora chegaram ao ponto de questionar a possibilidade de sua nomeação para um cargo de ministro no governo Dilma, como se a decisão pessoal da então presidente eleita fosse algo ilegal.
A estratégia da Lava Jato não tem nada de nova. Mais uma vez, tentou-se jogar a opinião pública contra Lula e contra o PT na semana que precede o depoimento do ex-presidente ao juízo de Curitiba. É a mesma receita já utilizada em maio, quando o depoente Leo Pinheiro voltou atrás nas declarações que havia dado anteriormente em favor do ex-presidente e criou uma história tão descabida e sem comprovação, mas que entregava o que o juiz investigativo queria. A sentença expedida meses depois foi o uso dessa delação como prova irrefutável, dispensando o testemunho de outras 73 pessoas que negaram veementemente a acusação.
Daí que já se pode prever o que teremos adiante. A 13ª Vara da Justiça Federal irá condenar Lula quantas e tantas vezes tiver de julgá-lo e, para isso, não se furtará de atropelar o devido processo legal e as garantias constitucionais que tiver pela frente.
Nessa altura da operação, a truculência e o posicionamento político de agentes do Estado estão acima da lei. O que interessa agora é intensificar a produção de manchetes a tempo de influenciar o impedimento do retorno do projeto político que tirou milhões de pessoas da pobreza em uma década e mostrou aos donos do poder que há uma fórmula para tirar o país do atraso e distribuir riqueza que vai além de seus umbigos.
A caravana de Lula pelo Nordeste mostrou a dimensão de seu significado para o povo, ainda que tenha sido ignorada pela grande mídia, principalmente a rede Globo, patrocinadora master do golpe contra a democracia. O ex-presidente só tem destaque nessa mídia quando é para ser detratado, quando surge algum delator com uma denúncia nova que mesmo sem provas, ocupa posições de destaque no noticiário.Nessa semana, mais uma vez tivemos um exemplo dessa manipulação.
O ex-ministro Geddel foi preso com R$ 51 milhões em seu apartamento e o jornal das Organizações Globo estampou uma manchete em sua capa, com os nomes de Lula e Dilma em destaque, e logo abaixo as malas de dinheiro de Geddel. Quem olhava aquela imagem e a chamada principal, atribuía uma coisa a outra, quando de fato não existia uma relação entre ambos os fatos. É o “jornalismo Lava Jato”, em que ilações compõem o crime perfeito, ainda que tudo isso não passe apenas de encenação grotesca para enganar e dividir a opinião pública. É o jornalismo da confusão, e não da informação.
Agora, pretendeu-se a bala de prata com o depoimento de Antonio Palocci, diligentemente marcado na semana anterior ao depoimento de Lula. Mais do mesmo. Muita acusação sem nenhuma prova, aliás, sem testemunho ocular, apenas o ouvir dizer, me contou, fui informado… É lamentável que Palocci tenha se prestado a isso, tentando incriminar Lula para salvar a própria pele. Nada em relação ao sistema financeiro, nada em relação à mídia.
O problema dessa estratégia concentrada na destruição do maior líder político da história do País, é que não atinge somente ele ou o PT. Atinge a maioria do povo brasileiro, pois essa aliança, conluio, entre as forças judiciais tendenciosas, a grande mídia e o capital financeiro, está permitindo a realização de reformas e retrocessos nos direitos e conquistas do povo brasileiro. Foi assim com a EC 95, que congelou por 20 anos investimentos e despesas de saúde e educação, com a reforma trabalhista recentemente aprovada pelo Congresso, reforma da Previdência, que atinge aos mais pobres, aqueles que mais precisam do Estado para garantir-lhes o mínimo de dignidade.
Não nos intimidarão! Continuaremos nossa luta de resistência ao golpe, pela democracia e pelos direitos básicos da população. Por um país que se desenvolva economicamente fazendo a renda dos mais pobres crescer mais. Continuaremos defendendo Lula e o PT, porque isso significa defender a democracia brasileira e os interesses da maioria do povo.
Gleisi Hoffmann é senadora e presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores.