“As pessoas estão ilhadas na periferia, sem receber a figura do Estado. E recebem quem? De um lado, o traficante. De outro lado, a Igreja Evangélica, a Igreja Católica”. É com essa análise precisa que Lula reafirma sua postura de estadista, que fez dele a maior liderança de esquerda da América Latina. Em entrevista ao Uol divulgada neste domingo (26), o ex-presidente falou sobre o papel do PT na política e na vida do povo brasileiro, falou sobre o desgoverno de Bolsonaro e apontou caminhos para o futuro do país.
Confira alguns trechos da entrevista concedida aos jornalistas Leonardo Sakamoto, Marco Britto e Marcos Sérgio Silva:
Desgoverno Bolsonaro
“Mesmo quem votou contra o Bolsonaro tem que saber o seguinte: ele é presidente. Eu vou ficar sentado na cadeira, dizendo que ele não presta e torcendo para que dê tudo errado? Não. Ele tem a obrigação de governar pensando no bem, no ser humano, no mais pobre, no país, na nossa soberania, nos nossos estudantes, no nosso povo trabalhador… E parar de falar bobagem!”
“Estou vendo o Guedes anunciar que vai abrir as compras governamentais para as empresas estrangeiras. Você tem noção do que significa isso? Capacidade zero do Estado propor ou ter influência na elaboração de políticas públicas de indução do crescimento econômico.”
Partido dos Trabalhadores
“Tenho dito que o PT precisa voltar para a periferia para aprender a conviver com esse movimento. O que é a Igreja Pentecostal, hoje, no Brasil? O que eles representam? Já são 30% ou 35% da população religiosa. No começo do século passado, era praticamente zero. E o pentecostal da prosperidade têm uma linguagem fácil para conversar com o povo. Porque você tem, de um lado, o autor de todos os problemas, que é o diabo, e a solução toda, que é Deus. E se não tiver solução, o cara é culpado porque não tem fé”.
“Acho que o papel do Estado é ser laico, não ter uma posição religiosa. Mas o que o PT tem que entender é que essas pessoas estão na periferia, oferecendo às pessoas pobres uma saída espiritual, uma saída que mistura a fé, com o desemprego, com a economia”.
“O PT tem um núcleo de Juventude, tem secretaria de Juventude, nós temos o companheiro [Ronald] Sorriso, do Rio de Janeiro, [secretário nacional da juventude do PT] que representa o movimento negro dentro do PT e que é uma liderança da juventude brasileira. O PT é um partido que tem cotas, então tem que ter dirigente da juventude, dirigente mulher, dirigente negro… Isso é estatutário. As pessoas existem e essas pessoas vão crescendo e alçando notabilidade com o tempo”.
“Tem político que recebe uma denúncia na capa de uma revista, a primeira coisa que ele faz é desaparecer. Tenho mais de 100 capas de revista contra mim, tenho milhares de primeiras páginas de jornais contra mim, horas de Jornal Nacional, de Bom Dia Brasil, de Bandeirantes, de SBT contra mim. E por que eles não conseguem acabar comigo? É porque tenho um enraizamento, uma ligação muito forte com o povo. O sucesso do meu governo não foi mérito meu, foi a crença e a disposição do povo de me ajudar a governar e acreditar”
Economia
“Nós provamos também que era possível aumentar o salário mínimo sem aumentar a inflação. Tinha uma discussão maluca de que primeiro tem que crescer para distribuir. Provamos que era possível crescer e distribuir concomitantemente. Novas propostas é fazer com perfeição o que todo mundo sabe que precisa ser feito”.
“O Brasil só tem um jeito, precisa voltar a investir no crescimento econômico. Criar algo novo, uma fábrica de cimento, de cadeira, de sapatos, que gera emprego, produto, renda. O Brasil precisa voltar a investir mais em ciência e tecnologia, que estão destruindo. O Brasil precisa voltar a acreditar que a nossa juventude tem que ter direito a ir para a universidade, que eles estão desmontando”.
“Veja o Enem, essa semana. É só ler o artigo do [jornalista] Elio Gaspari que a gente vai ver o que aconteceu com o Enem. Fazer o novo é fazer esse povo tomar café de manhã, jantar, ter direito à escola, ter direito à cultura, não é ficar atacando a Fernanda Montenegro. É colocar dinheiro para ajudar a produzir cultura no território nacional. Acha que vai resolver colocando a Regina Duarte na Cultura? Qual é a política do governo? Vai ter dinheiro? Vamos financiar filme? Se não financiar, não têm como andar. Porque, no Brasil, lamentavelmente, muitos empresários não acreditam que o investimento em cultura tem retorno”.
Confira aqui a íntegra da entrevista no site Uol
Da Redação da Agência PT de Notícias com Uol