Criado há exatos 88 anos, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é um valioso aliado na hora de criar políticas públicas. Governar um país, um estado ou uma cidade, e fazê-lo bem, é uma atividade que, antes de tudo, requer conhecer o seu povo. Isso se faz de várias maneiras: viajando para ter contato direto com a população, olho no olho, conversando com pesquisadores e estudiosos ou produzindo dados estatísticos, dados, gráficos, mapas e boletins que retratem a real situação e necessidades de cada região. A partir dessa radiografia, define-se onde, como e em que áreas o Estado deve investir e atuar.
Sem esse legado de informações, seria como erguer um prédio ou uma casa sem ter uma planta que garanta sólidas e duradouras fundações. Quantas famílias passam fome no país? Quantas crianças estão fora da escola? Quantas pessoas estão sem assistência médica? Qual a constituição das famílias brasileiras? Quais as necessidades habitacionais dos brasileiros? Essas e outras perguntas só podem ser respondidas de posse de uma radiografia do país.
Para isso também existe o IBGE, criado pelo Decreto de lei nº 24.609/1934. Instituição de extrema importância para a organização e auxílio do desenvolvimento do país, é ela a responsável por fazer levantamentos sobre a demografia, pesquisas estatísticas sobre temas variados e garantir o recolhimento de informações sobre os indicadores geográficos do país.
Os dados do Censo Demográfico, realizado de dez em dez anos, permitem avaliar o perfil econômico, social e educacional dos brasileiros e brasileiras. Consequentemente, esse levantamento permite também fiscalizar e avaliar como o governo está (ou não trabalhando).
Para quem leva a sério sua missão de governar uma nação, é um importante aliado. Mas pode virar uma ameaça para quem pouco ou nada faz para o bem de todos. E, como destruir a memória, a ciência, a cultura e promover um apagão geral de informação é uma das estratégias de Jair Bolsonaro, o IBGE virou alvo de boicotes. Isso a despeito da qualidade dos dados e informações produzidos por eles, que são reconhecidos internacionalmente.
O último Censo, por exemplo, foi realizado há 12 anos. São estatísticas que, em muitos casos, já não condizem com a realidade brasileira, especialmente se levarmos em conta o desmonte de políticas públicas e de importantes órgãos do governo promovido a partir do golpe de 2016, e, principalmente, após a eleição de Jair Bolsonaro.
Exatamente por isso o IBGE é alvo de Bolsonaro. O presidente nunca esteve interessado em governar. Não se importa com o que o povo precisa e sabe que o balanço de suas ações são um empecilho real a suas aspirações políticas.
Ao sancionar o Orçamento de 2021, o presidente cortou R$ 17 milhões destinados para o Censo demográfico. No relatório final do orçamento, o Congresso já havia retirado R$ 1,76 bilhão dos cerca de R$ 2 bilhões previstos para a pesquisa, um corte de 96% O presidente também anunciou que o Censo, que seria realizado em 2020 mas foi adiado devido à pandemia do novo coronavírus, também não seria realizado em 2021.
Diante dos cortes e da relutância do presidente, a presidente do instituto pediu demissão por acreditar que a pesquisa ficaria inviável com os recursos propostos. Ex-presidentes do IBGE, em carta, alegaram que um novo adiamento da pesquisa deixaria “o país às cegas”.
A pesquisa não foi feita no ano passado e, apenas porque foi obrigado por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro autorizou a realização neste ano.
Por diversas vezes o presidente criticou as metodologias das pesquisas realizadas pelo órgão. Nenhuma surpresa para quem se consolida como porta-voz do negacionismo. Em outro ataque, o ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a dizer que o instituto deveria vender uma de suas sedes para viabilizar a pesquisa.
Em abril de 2021, quando o IBGE apontou 12,4% de desempregados no país, pior taxa para o período desde o início da pesquisa do IBGE, em 2012, ele esperneou e sugeriu que fossem incluídos na pesquisa os trabalhadores informais. Em resposta, o IBGE respondeu que a Pnad segue recomendações internacionais.
Como de costume, o presidente bate no mensageiro e foge da responsabilidade pelo lamentável desastre que é sua gestão. De quebra, cria um vácuo nebuloso de desinformação e falta de dados sobre o que realmente é preciso construir para a reconstrução de um país justo, solidário, sustentável, soberano e criativo.
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