Nils Castro, pensador da esquerda do Panamá e ex-chefe de gabinete do presidente Martín Torrijos (2005-2008), participou de debate na tarde desta terça (28) no Instituto Lula. Ele falou sobre o saldo das últimas décadas de governos progressistas na região para o equilibrio local de poder e a reação das oposições conservadoras às seguidas derrotas eleitorais, inclusive no Brasil.
“Houve um fenômeno de otimismo com os governos progressistas que criou a expectativa de que as eleições e reeleições seguiriam acontecendo tranquilamente”, ponderou Castro. “Mas a direita esteve se reorganizando. Eles podem ter perdido prestígio, mas mantiveram seus recursos materiais e humanos, seus jornais e TVs. Hoje, aplicam uma combinação de novos e velhos métodos para desestabilizar governos progressistas, enquanto vemos nos Estados Unidos a proliferação de institutos internacionais de formação”, completou.
Castro destaca que o golpe contra o presidente socialista do Chile, Salvador Allende, em 1973, já continha elementos que continuam centrais na tática das forças conservadoras para atingir governos progressistas: a “preparação social” por meio de campanhas negativas na imprensa, por exemplo, não mudou. Mas os agitadores de rua são outros. Ao contrário dos partidos tradicionais de direita, quem lidera manifestações e atos públicos com o objetivo de enfraquecer ou derrubar governos são organizações aparentemente apartidárias, sem identificação ideológica.
“Nós, por outro lado, estamos atrasados em modernizar a forma como nos comunicamos. Falamos ainda sobre a crise do imperialismo, mas as pessoas pensam se vai ter emprego até mês que vem, como está o ônibus do bairro, o buraco de rua”, afirmou Castro. “Enquanto os partidos se concentraram exclusivamente em administrar o governo, não disputaram o campo da cultura política, que define a conduta ideológica coletiva”.
Castro defendeu maior empenho em utilizar estrategicamente os novos canais de comunicação, com um novo tipo de discurso, para voltar a dialogar diretamente com as bases dos partidos e governos alinhados à esquerda. “O preço do distanciamento é começarmos a disputar apenas o eleitor do centro, se é que isso existe, com uma proposta cada vez mais à direita, até o ponto em que não estaremos mais elegendo a nós mesmos”, concluiu.
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